O Milagre

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Rúben era um homem, digamos, cético, ele não acreditava em nada que os seus olhos não podiam ver. E era por isso que estava ali, de manhã cedo, apertado em meio à multidão. Rúben queria ver o homem que curava doentes apenas com o toque das mãos, expulsava demônios e ressuscitava mortos.

De longe, avistou o homem, pele queimada pelo sol do deserto, feições bondosas apesar de ter um rosto não muito bonito de se ver. Não entendia o que tanto aquela gente via nele, não era rico nem bonito. O que aquele homem simples tinha para lhes oferecer?

“As suas palavras.”

Lembrou-se do que a esposa lhe disse antes de morrer. Ela havia sido uma seguidora desse tal de Jesus. Ficou com raiva por ela morrer, se ele curava os doentes, porque não curou a sua esposa?

“A morte faz parte da vida.Sei para onde vou quando fechar os meus olhos. Quero que vá para lá também, querido.”

E era por isso que ali estava ele. Apertado em meio à toda aquela gente suada e fedorenta. Era bom que esse Jesus fizesse algo grandioso se quisesse que ele acreditasse nele.

Rúben ouviu jesus falar por horas sobre amor e perdão. Ouviu-o falar sobre ser o Filho de Deus e ter autoridade para fazer o que quisesse. Rúben ora acreditava ora não. Se Jesus fosse filho de Deus, isso queria dizer que ele era o dono de tudo o que existe. Mas, lá estava ele, vestido em roupas simples, as mãos calejadas do trabalho de uma vida inteira como carpinteiro. Quem queria enganar? Aquele homem era um maluco!

Mas, por que toda vez que abria a boca para falar Rúben sentia o coração queinar? Por que sentia vontade de se aproximar e pedir-lhe que tocasse nele e lhe desse essa nova vida que o ouvia falar?

Jesus continuava a falar. Rúben estava tão impregnado por suas palavras que nem percebeu o estômago roncar de fome. Estava ficando tarde, mas as pessoas não faziam menção de se levantar e voltarem para a cidade em busca de alimento e um lugar quente para passar a noite.

Uma criança chorou bem ao lado de Rúben fazendo-o se desligar por alguns momentos da palestra de Jesus. Ele olhou para o lado, para a criança que chorava ruidosamente e depois para o céu. O sol começava a se abaixar no horizonte e nada de Jesus fazer um sinal. Parece que foi perda de tempo ir para ali. Era melhor ter ficado em casa, pelo menos não estaria com fome.

Viu Jesus parar de falar e chamar um dos homens que o seguia. Jesus lhe perguntou algo e esperou a resposta do outro que enquanto falava gesticulava e apontava para a multidão. Um outro seguidor de Jesus entrou na conversa, um garotinho de mais ou menos uns sete anos estava ao seu lado com um pequeno cesto na mão. Rúben, interessado no diálogo dos homens, acotovelou-se pela multidão tentando chegar mais perto, não conseguiu, o máximo que conseguiu ir foi até o meio, pois neste momento os discípulos mandaram que todos se sentassem no tapete que a grama verde ali formava. Rúben bufou impaciente e sentou-se ao lado um homem gordo e uma menina banguela. O que dera nele para sair de casa e se juntar com aquele bando de gente pobre e doente? Mas queria ver com os próprios olhos. Queria ver se jesus era mesmo o tal Messias que a sua esposa tanto falava e esperava. Todo o povo judeu esperava por esse tal Messias, não conseguia entender aquele povo que acreditava num Deus que via tudo o que aconteceria na terra. Rúben não acreditava em deuses, acreditava em tudo o que podi ser visto e explicado. Essas eram as únicas coisas que existiam, nada mais.

Se esse tal Jesus fosse mesmo quem dizia ser, era bom fazer um milagre o mais rápido possível. Rúben estava disposto a crer no que a sua esposa cria se Jesus fizesse um milagre.

Então Jesus tomou um dos pães do cesto do menino junto com os peixes, ergueu-os ao céu e depois mandou que os discípulos os distribuíssem para a multidão. Rúben ficou observando o cesto passar pelo grupo e cada uma das pessoas pegar um pão e um peixe. Quando chegou  na sua vez, perguntou:

— Como ele fez isso?

O discípulo, sorrindo, respondeu:

— Jesus é o filho de Deus. Ele pode fazer qualquer coisa!

— Como posso ter certeza disso?

- Você viu o que ele fez. Multiplicou os peixinhos e pães daquele garoto para alimentar toda essa gente.

- Verdade. O que devo fazer para ser um seguidor de Jesus?

— Ouviu tudo o que ele disse?

— Sim, palavra por palavra.

— Então é só pôr em prática o que foi ouvido.

— E se eu não conseguir? — Ruben lembrou que não falava com o pai há anos. Saiu de sua terra brigado com o progenitor por causa de uma besteira, a mágoa tomou conta de seu coração, impedindo-o de voltar e pedir perdão.

— Você ora para Deus te ajudar a praticar o que Jesus falou. Não é difícil orar, é só fechar os olhos e falar o que está sentindo, qual o seu problema e confiar que o Pai vai te ouviu e vai responder.

- Pai? - Indagou curioso.

O discípulo riu, percebendo que ele era um novato ali.

- Jesus nos ensinou que todos somos filhos de Deus, por isso tudo o que pedirmos em oração  a Ele, Ele nos dá.

— Simples assim?

— Simples assim! — O discípulo sorriu bondosamente. — Vamos, meu amigo, pegue um pão e um peixe para você também.

Rúben meteu a mão no cesto não mais duvidando de nada. Na verdade, não sentia mais peso nenhum sobre si e o vazio que sentia desde a morte da esposa havia desaparecido magicamente, ou melhor, miraculosamente. Rúben sabia que não seria fácil, mas estava disposto a fazer tudo o que ouviu ali e a primeira coisa que faria seria voltar para a casa do pai e pedir-lhe perdão. Depois lhe falaria sobre Jesus. O filho do rei que se fez servo, que faz milagres e nova vida dá.

Fechando os olhos e sorrindo, Rúben agora sabia para onde iria quando chegasse o dia em que os seus olhos se fechariam para nunca mais se abrir aqui nesta vida.

E ainda sobraram pães daqueles cinco pãezinhos do menino.

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O MILAGREWhere stories live. Discover now