A Poesia calou-se

3 0 0
                                    

A Poesia calou-se

Era madrugada quando ela adoeceu...

O Sol não se importou em nascer

A Lua não viu, ainda dormia, ela se lamentou mais tarde.

E a Poesia enfraquecida, já quase a morrer, silenciosamente olhava o poeta. Sentia muito, mas nada por ele podia fazer.

Já o Poeta, olhava o nada enquanto ele ainda era nada. Sabia que um dia veria tudo. Sabia que o acesso aos sonhos lhe seria negado.

Só sonham os poetas, que tem alma e mente para amar os mistérios e a escrita.

Só amam com poesia os que amam com alma e mente.

O coração não tem inteligência suficiente para exaltar esta beleza....

Depois de confortar-se, o Poeta admirou os últimos instantes de sua confidente. Ao olhá-la teve certeza, ela levaria seus segredos ao túmulo, mas também sua vida...

Com muito esforço o esboço de um sorriso, sugiu no rosto da Poesia, e naquele momento ela fechou os olhos, para nunca mais ver a cor das palavras. E nem a caneta nas mãos do Poeta.

Poeta este, não mais poeta, é agora apenas um jovem qualquer.

Ao olhar para o nada ele ver carros, ônibus, casas, coisas inúteis. A realidade crua e vaidosamente inútil. Não há razão para escrever, a única coisa que ele rabisca agora é sua lista de obrigações, rasgou os únicos versos que tinha de uma prosa inacabada, portanto ele faz o que todos fazem, e ironiza a morte da sua sensibilidade.

De certa forma.... mesmo que ainda esteja vivo, ele também morreu.

Flora Mágda Relembra (poemas de Camila Luna)Where stories live. Discover now