R A F A E L A
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F E R N A N D A L E I T E
8.
Em sua sala, com as pernas sobre o birô, Sky aguardava ansiosa o horário do almoço. Planejava estrear nesse dia um maravilhoso bistrô francês, recém-inaugurado na Varjota, polo gastronômico de Fortaleza. Retirou o panfleto da gaveta e começou a admirar as fotos dos menus executivos, que incluíam entrada, prato principal e sobremesa. Qualquer uma das opções parecia perfeita para matar a fome de comida sofisticada e extrapolar o tempo do intervalo.
◊®◊
Chegando ao bistrô, a sensação de desânimo foi imediata. O lugar estava cheio, e o estômago vazio já começava a reclamar. Determinada a encarar o desafio, Sky disparou em direção à única mesa disponível, feito um soldado que avança sobre o inimigo. Para o seu desespero, um belo par de pernas levou vantagem nos cinco metros rasos. Sky xingou a pessoa mentalmente, percorreu a vista sobre a saia, a blusa, o decote escancarado e esbarrou no olhar satisfeito da rival.
— Você está treinando pra alguma maratona? — Helena arremessou os óculos de abelha-rainha sobre a mesa, para demarcar território. — Está ficando bastante comum eu te encontrar correndo por aí.
— Me passa o contato do seu personal, que a senhora está sempre chegando na frente.
Elas começaram a digladiar, com a mesa de mediadora, impedindo que se atracassem.
— Personal não faz milagre. Se quer me alcançar, compra um patinete motorizado.
— A senhora tem algum para me emprestar? Se for cor-de-rosa, com adesivos de oncinha, sinto muito, mas vou ter que customizar!
— Na internet tem vários modelos — disse Helena. — Inclusive tem aqueles com rodas reforçadas, que é pra aguentar o peso da sua língua afiada! — A loira esfregou o dedo no canto da boca para limpar o veneno. Em seguida, forçou uma pseudoeducação. — Desculpa a indelicadeza, acabei me esquecendo de te cumprimentar. Você está bem, meu anjo?
Sky a enquadrou da sola do scarpin até o último fio de cabelo escovado.
— Pensei que a minha resposta tivesse ficado óbvia, assim que vi a senhora.
— Minha presença te incomoda?
— Imagina! Apenas dificulta a minha existência. A senhora pegou a minha mesa!
— Sua mesa? — perguntou Helena e analisou a superfície plana. — Não vi nenhuma placa de reservado aqui em cima.
— A gordura deve ter apagado o meu nome! — mentiu. — Vem cá! A senhora sofre de crise de identidade? No consultório, é um doce de pessoa, mas basta colocar o salto alto pra fora, que o doce, de repente, fica azedo.
— Isso porque você não é minha paciente. Se fosse, eu sofreria de algo muito mais grave.
— Psicopatia?
Helena balançou a cabeça em negativa.
— Síndrome do Pânico, queridinha!
Sentindo-se vitoriosa, a doutora pendurou a bolsa na cadeira, pediu licença e se sentou. Sky olhou os arredores e constatou que o bistrô continuava lotado. Helena explorava o cardápio, com os menus executivos do horário do almoço. Os mesmos estampados no panfleto e que fizeram Sky salivar. Sem alternativa, o jeito era encarar a derrota. Da próxima vez, chegaria mais cedo. Sky girou o corpo para ir embora, mas Helena agiu rápido, soltando o cardápio e segurando o braço dela.
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Rafaela (Romance Lésbico)
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