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TRY TO STAY AWAKE
(tente ficar acordado)
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A fumaça passava ardente entre seus pulmões e se dissipava no ar frio de Paris, sentia-se nas nuvens, ou talvez estivesse mesmo, esse era o grande poder de suas drogas, o levar a lugares em que dizem ser impossível.

Namjoon nunca negou o fato de ser um viciado, nunca negou que era dependente químico, assim como nunca negou que era um grande covarde orgulhoso que estragou a própria vida e de sua família.

Seus pais, originalmente coreanos, o tiveram em Nice, França. Eram uma família financeiramente estável, sua mãe era dona de casa e seu pai trabalhava muito, mas não o pergunte onde, pois Namjoon não saberia responder, apenas sabia que dele vinha um grande salário.

Sua mãe era uma mulher fria e muito exigente, nunca tratou Namjoon como um filho, apenas como um garoto que morava embaixo de seu teto e que deveria fazer tudo o que ela mandasse. Mesmo assim, Namjoon queria dar orgulho à sua mãe, então pelo pedido da mais velha, Nam terminou o colegial e, com muito estudos conseguiu uma bolsa na faculdade de direito. 

Por mais que seu sonho fosse ser professor de História.

Em seu penúltimo ano da faculdade, Namjoon percebeu que não aguentava mais a pressão que exercia em si, se cobrava tanto que acabou explodindo. Só ele saberia dizer quantas noites passou acordado estudando para um teste, quantas amizades perdeu por julgar que eram atrasos de vida, quando queriam apenas relaxar numa sexta feira a noite. 

Não se importando mais em ser o orgulho de sua mãe, trancou a faculdade, pegou a grande quantia de seu dinheiro que havia guardado para planos nem pensados do futuro e se mudou para Paris. 

Abandonou seus pais, os poucos amigos de faculdade que lhe restou e, desejou ter abandonado parte de si mesmo também.

Mas percebeu que era sua própria prisão, o único que o fazia mal, o único de quem queria fugir, mas como fugir de si mesmo? Era impossível, e talvez por causa disso tenha ido para as drogas, porque assim poderia fazer coisas impossíveis. Fugiria de si, se não pelo sabor da nicotina, fugiria pelo efeito da maconha ou então, pela adrenalina da cocaína.

Sendo assim, se encontrou em meio a paz de tantas drogas juntas em seu corpo.

E, sentado no meio fio da calçada de uma rua qualquer, enquanto apreciava a vista do céu noturno, torceu o pescoço para trás, insinuando que a droga fez efeito e sua mente ficou mais leve.

Namjoon se considerava um ótimo ator, pois a cada dia vivia um personagem diferente, ora pregava sobre o amor ao próximo, ora desejava a morte de todos e ora era um filho da puta orgulhoso, mas nesta noite em si, era a maior vítima, se sentia usado, abusado e pisado por todos do grande planeta azul.

Foi maconha após maconha, cigarros para variar e cocaína para alegrar, no meio de toda sua mistura de drogas, olhava para o céu e fazia seu papel da noite, questionando o amplo teto azul, ora claro, ora escuro, sobre o que havia feito na vida passada para receber uma tão miserável agora.

Mas no fundo ele já sabia a resposta, ele era o próprio culpado.

Só não sabia dizer se aquela dor no peito era um alto estado de relaxamento que nunca havia chegado ou uma overdose. Mas pôde ter certeza que era a segunda opção, quando depois de minutos se contorcendo de dor no meio da rua deserta, ouviu um homem gritar por ajuda e em pequenos flashes pôde ver o rosto do mesmo lhe dizendo algo como "tente ficar acordado".

Mas ainda assim, ele apagou.

Quando acordou, havia agulhas em seu braço e um tubo ligado a um soro, não estava sozinho, o homem de antes estava sentado ao lado da maca nervoso. Tentou dizer algo, mas de novo, apagou.

Depois de horas, Namjoon finalmente acordou, forçou as mãos na cama para sentar e pode sentir uma outra mão sendo colocada em suas costas.

ㅡ Se sente melhor? ㅡ O rapaz disse.

ㅡ Quem é você? 

ㅡ Ah... ㅡ Passou a mão nos cabelos de um jeito desajeitado. ㅡ Pode me chamar de Jin, eu estava indo atrás de uma padaria 24h e te vi desmaiando na rua, então chamei a ambulância.

Namjoon o encarava sem expressão e em completo silêncio, Jin prosseguiu:

ㅡ Pensei que você poderia morrer, seus batimentos cardíacos estavam bem baixos.

ㅡ Morrer é tão ruim assim? ㅡ Jin o olhou sem entender. ㅡ Tem uma padaria 24h a duas quadras da onde você me achou, é só ir reto e depois virar a direita, só um burro pra não conseguir encontrar. 

Sem se preocupar com seu estado atual, Namjoon tirou a agulha que estava em seu braço, pegou sua jaqueta pendurada ao lado da maca e, enquanto vestia fez um aceno com a mão e a cabeça, como despedida, e se foi. 

Jin, já não entendia mais nada e, por um momento se perguntou "quem caralhos é esse homem?"

Já havia feito sua parte, mesmo que nada tenha acontecido e nem um "obrigado" foi falado, vestiu a jaqueta que antes estava sob seu colo e seguiu até a padaria que lhe foi indicada, tentando não errar o caminho. 

Não longe dali, Namjoon entrava em sua pequena, mas muito bem organizada, casa.

Tirou suas roupas, as dobrou e guardou, tomou seu longo banho e vestiu seu pijama que era constituído em uma blusa qualquer que já não desse mais para usar nas ruas e um calção cinza.

Deitou na cama, mais uma vez olhando para cima, dessa vez não pra questionar o céu noturno, mas sim o teto escuro do seu quarto.

Não sentia mais a calma usual da maconha, e nem o sentimento de que poderia fazer qualquer coisa, até mesmo as impossíveis.

Daria tudo por um maço agora, mas não podia, conhecia seus limites, por mais que os ultrapassasse sempre. Então só dormiu, torcendo para que pelo menos nos seus sonhos, pudesse fazer mais coisas impossíveis de novo.

PUTAIN D'AMOUR༄ 𝐍𝐀𝐌𝐉𝐈𝐍Onde histórias criam vida. Descubra agora