CARLOTTA

669 47 9
                                    

CARLOTTA

Eu sonhei com Alessio.

Sonhei com seus dedos na minha pele, seu corpo suado contra o meu. Sonhei com minhas mãos espalhadas no seu peito nu, como naquela vez na academia. Sonhei com palavras sujas sussurradas ao pé do ouvido, e fricção e prazer. Sonhei com mais, muito mais do que tinha acontecido entre nós, e olha que não éramos nenhum exemplo de bom comportamento. Suor cobria meu corpo quando abri os olhos para as batidas incessantes na minha porta.

-Carlotta! - a voz do meu irmão fez meus olhos se arregalarem. - Por que raios a porta está trancada?

-Já estou indo. - eu respondo, o sono substituído por pânico. Esfregando os olhos, lembro que minha maquiagem ainda está borrada, o rímel escorrendo pelo meu rosto. Merda.

Chutando as cobertas para o lado, eu pulo da cama, procurando alguma roupa que Diego não vai implicar. Uma legging e camiseta colorida é o melhor que consigo tão de repente. Meu demaquilante está esquecido na pia do banheiro.

-Hm, Diego? - eu chamo, encostada a porta. Nenhuma resposta. Ele provavelmente surtaria se me visse nesse estado. Mas eu preciso arriscar. Abrindo um pouco a porta, vejo o corredor vazio e corro até o banheiro, me trancando lá em tempo recorde.

Lavo o rosto e cuido da minha higiene o mais rápido possível. Tirar a maquiagem é um alívio. Jogo mais água no rosto antes de encarar meu reflexo. Minhas olheiras não estão tão ruins quanto eu esperava. Prendendo o cabelo de qualquer jeito, eu caminho para a cozinha, onde escuto vozes.

Diego estreita os olhos na minha direção.

-Demorou o suficiente.

-Eu precisava usar o banheiro.

-E a porta trancada?

Mamãe ergue as mãos.

-Crianças, por favor.

Diego bufa e eu escondo um sorriso enquanto me sento em uma das cadeiras na bancada. Mamãe está fazendo panquecas e isso não é algo que eu queira perder.

-Mas Diego, o que faz aqui tão cedo? - eu pergunto, me servindo um copo de café. Eu nem sou muito fã, mas o fato de eu beber café irrita Diego então eu faço de propósito. Irmãs mais novas são para essas coisas.

Ele encara o gesto por um segundo antes de cruzar as mãos na frente do corpo. Ah não. Esse não é um bom sinal. Ele se inclina para frente um pouco, apoiando-se no balcão.

-Tenho notícias.

Mamãe liga o estado de alerta.

-Do médico?

Sua voz afoita cria um buraco no meu coração já defeituoso. Eu odeio ser uma preocupação constante. Mesmo depois dos exames inconclusivos, mesmo depois de ser retirada da zona de perigo iminente, essa nuvem está sempre sobre mim.

-Não, mãe, nada assim. - Diego a tranquiliza com um tapinha carinhoso na mão. - São boas notícias na verdade.

Mamãe suspira audivelmente em alívio, voltando-se para as panquecas antes que queimem.

-É sobre o casamento.

Isso liga de novo o alerta. Dessa vez, para mamãe e para mim. Eu viro a cabeça, tentando não parecer tão preocupada. Alessio tinha desistido? Eu tinha feito alguma coisa? Ido longe demais? Talvez ele preferisse uma mulher melhor que eu. Uma virgem italiana sem um coração defeituoso e cicatrizes aparentes. Esse mesmo coração defeituoso que batia tão forte agora que eu sentia o som ecoar em todo o ambiente. Levo minha mão ao peito, sem pensar.

Twisted LivesWhere stories live. Discover now