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IVY

Hoje era dia vinte e seis de março de dois mil e vinte, eu já estava mais tempo dentro da casa do Big Brother Brasil do que conseguia contar. Simplesmente já tinha desistido de contar os dias, a pressão psicológica de ficar trancada com desconhecidos, exposta em rede nacional e sem saber nada do mundo lá fora é algo surreal de ser explicada. A gente aqui imagina como o mundo lá fora está, cria histórias de como o publico nos vê, categoriza as pessoas em boas, ruins, campeões e perdedores, mas então vem o paredão e mostra que todas as nossas certezas, que tudo que criamos, é falso. Nós dentro da casa não temos controle de nada, somos como cegos atravessando uma rua, algo totalmente kamikaze.

A saída de Daniel acabou com todas as minhas certezas, havíamos entrado juntos, eu tinha certeza que ele ganharia. Era um menino bobo, atrapalhado, ainda tinha feito casal com Marcela, a grande favorita. Essa era a receita do sucesso, não? Ele era o campeão, eu tinha certeza disso, mas então ele foi eliminado e meu mundo caiu. Tentei arrumar uma justificativa pra eliminação dele, porém só conseguia pensar que Prior era o favorito agora, como podia tudo ter mudado tanto? Na época da casa de vidro todo mundo odiava Prior e seus amigos ...

Meu único ponto de apoio aqui dentro virou ela, a mulher mais looouca que já conheci. Gizelly era diferente de todos que eu já tinha convivido. Ela era advogada e isso significava que ela era muito inteligente, não é? Ao menos eu vejo assim, ela, Marcela e Thelma são as mais inteligentes, medicas e advogadas são dedicadas e estudiosas. O que fazia Gizelly ser única era o fato dela não parecer nada inteligente e isso definitivamente é um elogio, pois diferente de Thelma, que tinha uma casca quase impenetrável e uma postura esperta e inacessível ou da Marcela que era inteligente e reforçava isso em seus discursos e arrogância o tempo todo, Gizelly era totalmente descontraída, espoleta, moleca, livre. Ela vivia e se entregava dia após dia a tudo naquela casa, a tudo e a quase todos, era uma amiga leal e eu sabia que podia contar com ela.

O único problema em Gizelly é que ela estava me enlouquecendo. A carência dela era desmedida, ela amava ficar agarrada em alguém, recebendo carinho, abraço e dengo, na maioria das vezes eu era a sorteada para lhe da carinho. Inicialmente eu não ligava pra isso, a pele dela era suave, o cabelo macio e seu perfume agradável, em uma casa onde não se tinha nada para fazer, eu poderia ficar tranquilamente horas fazendo carinho nela. O problema talvez tenha sido as neuroses que o confinamento traz, ele é feito para nos enlouquecer e é bastante eficaz nisso. Aos poucos eu percebi que necessitava mais do que tudo de ficar ao lado dela e lhe fazer carinho, já não era mais algo apenas que ela gostava de receber, eu também gostava de fazer. Amava sentir minha mão deslizando pela pele dela, seja do braço, pescoço ou abdômen quando o edredom nos cobria, minha maior satisfação era quando eu sentia ela arrepiar ou estremecer sob meu toque.

Eu já tinha aprendido os pontos sensíveis dela, geralmente o carinho no braço a relaxava, beijos no pescoço a arrepiava e carinho na barriga a estremecia. Outra coisa que aprendi é que amava selar meus lábios nos dela, no principio fazíamos isso nas festas, eu adorava quando ela vinha do nada e me surpreendia com um selinho ou dois, quando ela não fazia, eu ia lá e roubava dela. No entanto selinhos em festas deixaram de ser suficientes, nos tínhamos liberdade para mais, selinho é normal entre amigos, até mesmo entre alguns irmãos, mãe e filhos, me mascarando com esse pensamento passei a lhe da alguns selinhos de noite, sempre com a luz apagada e o quarto vazio, ela nunca reclamou, sempre retribuiu. O que estávamos vivendo ali? Eu não fazia ideia e nem tinha coragem de questionar, ela menos ainda.

Gizelly não é uma pessoa fácil, ela é extremamente ciumenta e fica descontrolada e grossa quanto ta com ciúmes, mas seu ciúme era uma incoerência, pois se eu ficasse conversando mais com Flay ou Mari ela ficava com ciúmes e descontava me dando gelo, porém ela mesma vivia no colo de outras, vivia agarrada a Marcela, Rafa, Thelma e ultimamente ate mesmo Manu e Gabi. Isso me incomodava bastante, parecia que eu não era suficiente, que meus carinhos não bastavam pra ela. Ainda tinha o Prior, eu não conseguia explicar o motivo, mas toda vez que ela falava dele me irritava, qual a necessidade dela ficar dando conversa para um cara idiota que fez tudo que ele tinha feito com ela? Isso me irritava.

E é claro que toda essa história acabaria mal, acabou com Gizelly tendo uma crise de ansiedade, falando coisas ruins, que queria se machucar, eu fiquei ao seu lado, lhe dei carinho, lhe dei forças e consegui acalmá-la. No final ela dormiu e eu fiquei horas acordada pensando em tudo. Tudo que ela tinha falado e mais do que isso, tudo que tínhamos feito, tudo o que eu sentia e o pânico tomou conta de mim quando percebi que eu estava completamente apaixonada por ela.

Eu nunca antes havia me apaixonado por uma mulher, mas eu estava completamente apaixonada por Gizelly Bicalho e não fazia a mínima ideia de como iria a encarar e agir depois desse choque de realidade.

DengoWhere stories live. Discover now