Não morrer agora

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Narrado por Lídia Connor

Eu tentava fugir todos os dias e ficava alerta para qualquer erro que eles cometessem. Algo que nunca aconteceu, eles não eram só bandidos, eram mafiosos assim como todos os que frequentavam aquele lugar. Sempre busquei uma falha, algo que eles fizessem que podia usar contra eles, mas nunca encontrei.

Com o passar dos anos não lutava mais por liberdade, mas sim pela morte. Cometia erros de propósito e sempre que possível falava algo para irritá-los, mas nunca a morte só torturas.

Eu era a que mais rendia dinheiro naquele lugar, por ser a mais jovem e fazer tudo o que eles queriam. No começo isso não era ruim, ter muitos clientes significava vida e oportunidades para fugir.

***

Demorei um mês para me recuperar, mas meu corpo ainda doía e meu rosto ainda estava roxo assim como algumas partes do meu corpo. Fui acordada com um dos seguranças me dizendo que iria voltar ao trabalho, que vários dos clientes estavam me procurando.

Aaron só nos coloca para trabalhar quando estamos completamente curadas, para impedir que alguém suspeite de algo, afinal todos acham que estamos aqui por vontade própria. Que escolhemos ser vadias.

Algumas são por vontade própria, mas a minoria foi escolhida por Aaron e sequestrada. Daisy foi uma das sequestradas. Ela tem dezesseis, saiu escondida de casa para uma festa e se esbarrou com Aaron. Ela é uma criança e ainda vivo para poder cuidar dela.

—Tem certeza que consegue trabalhar hoje? —Daisy pergunta pela milésima vez.

—Por Deus Daisy, pela milésima vez eu estou bem. Já trabalhei em situações piores, não se preocupe comigo. Vá se arrumar, não podemos nos atrasar.

—Se você sentir algo fala comigo e vejo se consigo te substituir. —Fala com um olhar preocupado.

—Não vai precisar fazer isso, está com o que te dei? —Pergunto mudando de assunto, nunca colocaria ela para ficar com velhos nojentos e pervertidos.

Ela me mostra um pequeno pacote com vários comprimidos que estavam escondido em sua lingerie. Fiz um amigo aqui, ele me ajuda a conseguir calmantes fortes.

Eu usava antes para não precisar transar com velhos asquerosos, mas Daisy se tornou minha irmã e só quero protegê-la o máximo que puder.

—Se lembre, quando mais velho menos você tem que dar. Álcool e remédios não combinam muito bem e com idosos é que não combina mesmo. Dê menos da metade. —Falo a observando.

Daisy tinha um rosto angelical e era a pessoa mais doce e frágil que eu já tinha conhecido. Daria minha vida em troca da dela, para que ela pudesse ter uma vida normal novamente. Ver o medo em seu olhar todos os dias antes de saímos era sufocante.

—Está na hora vadias. —Ouvimos um grito vim do lado de fora.

Demos as mãos e saímos do quarto que ficava em um grande corredor com outros vários quartos. Todas saímos em direção a boate que fica no andar abaixo de nossos dormitórios.

A boate está cheia e escura, a música eletrônica toma conta do lugar de uma forma confortável. Logo temos a atenção de todos os homens e os olhares lascivos nos rodeiam. Daisy anda do meu lado de forma robótica, como se tivesse desaprendido a andar.

—Odeio saltos com todas as minhas forças Liz. —Fala choramingando.

Era impossível não rir da cara que Daisy fazia, ela não mentia que era uma filhinha de papai. Mas era uma criança que nunca tinha usado salto e por isso não tinha prática.

—Você se acostuma. Saltos são como touros, se expressar medo eles vão te derrubar. Mas se demonstrar confiança eles vão realçar o seu bumbum. —Falo a fazendo rir.

—Desde quando touros realçam o bumbum? —Pergunta ainda com um sorriso em seu rosto.

—Touros não, saltos.

—Devo trazer chá e biscoitos para vocês? Vão se preocupar em arranjar um velho rico e não em ficar conversando. —Fala Felipe um dos seguranças mais filha da puta da boate.

—Você também deveria seguir o seu conselho, vai que esse estresse seja decorrência de falta de dá. —Falo fazendo os olhos de Felipe queimarem de raiva.

Eu gostava de provocá-lo, era meu passatempo preferido. Ele não tinha a autoridade para me bater, mas seu olhar parecia me esfolar viva.

—Fique tranquila e encontre o cara mais bêbado desse lugar. — Falo no ouvido de Daisy depois que Felipe vai embora.

—Está bem.

Ela sai lentamente avaliando todos os homens do local enquanto a observo. Peço uma bebida no bar para me ajudar a aliviar a pressão, estava sentindo o desconforto que sentir quando passei por aquela porta pela primeira vez e isso não era bom. Tinha que reder muito dinheiro para Aaron ou ele me daria mais uma coleção de roxos e eu não podia me dar o luxo de morrer.

—O chefe quer que você dance hoje. —Fala Felipe atrapalhando minha bebedeira.

—Eu nunca danço. —Fala não dando importância para a presença dele.

—Parece que isso vai mudar hoje florzinha. —Fala com ironia.

—Não me chame assim e não fale com ironismo, fica ridículo em você. —Saio em direção ao palco sem esperar uma resposta, mas não precisei olhar para trás para ver seu olhar me fuzilando.

A bebida me ajudou a me soltar e dancei uma das danças que vi as meninas ensaiarem. É melhor está em um palco dançando do que nos quartos. Mas a dança era só para atrair alguns homens para a noite que seria longa.

Quando estava saindo do palco, a boate inteira parou para ver uma confusão em um dos quartos. Não era raro de acontecer, às vezes ocorriam até tiroteios, mafiosos se estranhavam e acabavam lutando entre si. Mas dessa vez algo estava estranho, todos corriam assustados e alguns mafiosos pareciam estar furiosos.

Olhei para os lados e não encontrei Daisy, fui para onde as meninas estavam reunidas tentando ficar longe do caos. Procurei ela, mas não estava lá.

—Onde está Daisy? —Perguntei as meninas que me olharam assustadas.

—Sua amiguinha causou problemas para todas nós. —Fala Renata, uma das prostitutas que mais me odiavam.

Presa Ao Mafioso Where stories live. Discover now