03. Uma garota sabe muito bem escolher a cor certa

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Duas semanas de aula e mesmo com um certo desequilíbrio as coisas pareciam ter voltado ao normal. Talvez nem tanto se por acaso uma certa vizinha ruiva francesa e com sardas estivesse sorrindo e dando oi para o seu namorado por todos os lados dos corredores da escola, ou ainda se esta vizinha for da sua turma em metade das aulas. Mas são apenas detalhes dispensáveis, no momento a maior preocupação de Owen é com sua torrada no café da manhã.

— Seu pai ligou e eu disse que estava tudo bem. — Martha surgiu na cozinha com uma nuvem de incenso que se espalhou pela casa toda, Owen precisou torcer para que ninguém da região chamasse os bombeiros. Ela estava parecendo uma múmia no vestido que usava, além do rosto de defunto que tinha devido aos medicamentos. — Dispensei os empregados hoje, portanto terá de me ajudar com as tarefas de casa. Você precisa aprender como funcionam as coisas na vida real. — Owen olhou para ela com olhos inchados de sono. O que ela sabia sobe vida real?

— Claro, se eu te ajudar significa: eu fazer tudo enquanto você assiste novelas antigas na televisão, como faz todas as vezes. — Abriu um sorriso simpático e esnobe, coisa que apenas ele conseguia fazer. — Cadê o Roger? — Perguntou em seguida.

— Seu irmão ainda está dormindo e irá surfar mais tarde, por isso não pedi para que ele ajudasse. — Martha pegou um panfleto de cima da mesa para ler. — O que é isto?

— O Condor da Califórnia está em risco de extinção. — Owen explicou o panfleto e levantou-se da mesa com seu bem mais precioso, a torrada. — Assim como esta família. — E dirigiu-se para seu quarto com seu café da manhã.

Os pais de Owen haviam se divorciaram quando ele tinha nove anos, sua mãe foi para Nova York com outro homem e o dispensou totalmente dizendo que não teria tempo de cuidar do próprio filho. Na época não foi tão ruim, mas Avery Roberson nunca ligou para saber se estava tudo bem, o único contato que ambos tinham era pelas redes sociais, mas não era o suficiente. Para piorar a situação seu pai casou-se com uma louca e trouxe um irmão ogro de brinde, Roger Smith.

Owen sempre quis que seus pais fossem felizes, mas aceitou a separação muito bem, pois na época ele só tinha nove anos e não queria separar-se de Rhys e Constance que eram seus melhores amigos. Quando Martha Smith começou a ganhar espaço ele precisou repensar várias vezes sobre aparecer em frente ao apartamento de sua mãe com as malas prontas. A madrasta adorava dar tarefas domésticas para o enteado e fazia-se de vítima para o marido, dizendo que seu filho Roger era um pobre coitado que cresceu sem ter o que Owen sempre teve, e que Owen trata seu irmão muito mal e precisa aprender mais sobre os verdadeiros valores da vida. Uma troca muito justa.

— Então este é o irmão de plástico? — Disse uma menina com uns quinze quilos acima do peso saindo de dentro do quarto de Roger. A mistura do cheiro de incenso com o odor daquela quarto era surreal.

— Ai meu Deus. — Disse Owen sem reação. A menina estava enrolada em uma toalha e com o cabelo parecendo os galhos de uma árvore, enquanto Roger vestia apenas uma cueca branca destacando sua ereção. — Ai meu Deus. — Disse novamente.

— Irmãozinho, esta é.... — Ele olhou para a árvore. — Como é mesmo o seu nome? — Estava envergonhado e sem jeito, de alguma forma a estranha parecia gostar deste comportamento. Ela mordeu o queixo de Roger e alisou os músculos de seu peitoral.

— Se esqueceu, é melhor ficar sem saber, peixão. — E então a garota deu um beijo de sete segundos na boca de Roger e saiu dali.

— Martha, onde está o desinfetante? — Disse Owen.

•••

Depois de meia carteira de cigarros e dois baseados, Vanille queria entender o motivo de sempre ir para a escola pelo caminho do porto. Desde o baile ela não havia conversado com Rhys e esperava encontrá-lo próximo ao seu barco.

YouthWhere stories live. Discover now