07 | CLARICE.

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Penteio meus longos cabelos negros ao sair do banho e vou direto para o meu quarto escolher uma roupa. Estava me arrumando para ir conhecer um barzinho daqui da cidade junto de Lox. Como Kami conhecia Lox muito bem e também era super próxima dela, permitiu que eu fosse e não me deu hora pra chegar em casa. Achava aquilo o máximo, mesmo ainda estranhando toda aquela situação. Cada passo que eu dava nessa casa e nesse lugar era uma mensagem que minha mãe me mandava. Estava super preocupada se eu me daria bem com pessoal da casa, se eu me adaptaria, se eu faria novos amigos. Eu fazia questão de a tranquilizar sobre tudo, mas parece que dona Eloá estava sempre com um pé atrás sobre qualquer coisa. Esse seu jeito era engraçado.

Optei por um top tomara que caia preto e uma saia jeans. Coloquei uma jaqueta de couro preta que deixei caída sobre os ombros, os deixando desnudos e um tênis branco. Fiz uma maquiagem simples e passei um perfume, logo mandando uma mensagem avisando à Lox que eu já estava pronta. Dentro de alguns minutos, a campainha da casa já tocava copiosamente. Me despedi de Kami e logo saí de casa, me deparando com uma cena chocante.

Mahogany estava dentro de um Porsche prata com um sorriso de orelha a orelha. Coloquei a mão sobre o peito em choque. Eu nem sequer sabia que ela tinha um carro.

— Relaxa, são dos meus pais. — Ela sorriu. — Entra logo, garota!

Neguei com a cabeça enquanto ria e me sentei ao lado dela. Logo estávamos na pista indo rumo ao bar. Esfreguei minhas mãos enquanto pensava no quanto as coisas daqui eram diferentes das do Brasil. Eles não comem pão com manteiga e café com leite no café da manhã, sem dúvidas, foi o que mais me chocou.

— Olha, eu chamei uns amigos, espero que isso não te incomode. — A ruiva disse e eu suspirei.

— Não me incomoda, mas me deixa mais nervosa. Tenho medo de não conseguir muitos amigos por aqui. — Eu a olho e ela apenas sorri de lado.

— Não entendo essa sua insegurança. Além de ser linda e gostosa, você está sendo muito legal comigo. — Ela me olhou. — Não precisa ter tanto medo, viva sua vida, Clarice.

Eu respirei fundo e coloquei um sorriso no rosto. Eu sei que demoraria pra eu me acostumar com tudo, mas eu também sabia que era uma necessidade. Eu passaria um ano aqui, então precisava me virar sozinha.

Um tempo depois, nós havíamos chegado no tal bar. O lugar se chamava Flamingo's Bar. Tinha uma decoração toda feita de flamingo e traços de led rosa eram espalhados pelo local. Uma música qualquer clássica tocava de fundo e aquele ambiente me trazia uma vibe muito boa. Lembro dos bares que haviam pelo lugar onde eu morava onde eu, Marilu e Elisa íamos. Era tudo de bom.

Optamos por uma mesa nos fundos do local e jogamos conversa fora enquanto bebíamos refrigerante até os amigos de Lox chegar. Pude avistar pela porta do bar, quatro meninos entrarem. Senti meu coração disparar. Queria esganar Mahogany. Jurava que seriam no máximo duas pessoas.

Todos eles eram extremamente lindos e os olhares de todas as mulheres daquele bar foram parar em cima deles. Provavelmente eram os típicos garotos que eram desejado por todas. Esse tipo de coisa me dava náuseas.

O quarteto era composto por três garotos morenos e um loiro, que era o mais baixo de todos. Todos eles com a barba por fazer, menos um, que tinha apenas o bigode crescendo. Pude sentir meu sangue ferver ao ver o meu maldito "meio irmão" no meio daqueles garotos. Quando digo no meio, quero dizer que ele está na frente de todos, enquanto os outros três apenas o seguem. Era tipo uma espécie de abelha rainha, só que com um cheiro forte de maconha e ao invés de zangões, eram apenas moscas que a seguia.

Ao acharem a nossa mesa, eles se direcionaram até nós. Logo os quatro pararam ao lado da nossa mesa e cumprimentaram Lox, que apertou a mão de todos e logo aqueles malditos olhares estavam sobre mim.

— Essa é minha nova amiga, o nome dela é Clarice. Ela é intercambista brasileira e... — Lox foi interrompida pela fala de Nate.

— Todo mundo sabe quem ela é. — Nate falou sem nem sequer olhar pra Lox, apenas sustentava seu olhar no meu. Tive vontade de tirar os meus tênis e jogar na cabeça de um por um.

— Hum, que ótimo. — Ela bateu suas mãos na mesa. — Sentem-se. Essa mulherada toda olhando pra vocês está me irritando.

Os quatro garotos se sentaram conosco e Lox me olhou. Sua mão pousou em cima da minha, creio eu que para me confortar naquele momento de timidez, já que ela havia percebido meu silêncio.

— Ele é o Samuel, mas chamamos ele de Sammy. — Lox olhou pra o garoto de cabelos escuros e de bigode que estava sentado na ponta. Ele apenas deu um sorriso de lado que se eu não tivesse me controlado, teria me arrancado um suspiro e tanto. Dou um sorriso leve. — Esses dois são Jack Gilinsky e Jack Johnson. São tipo Tico e Teco. — Ela brincou apontando pro garoto loiro baixo e o moreno alto e forte. Os dois me deram um sorriso confortante. Pareciam ser os mais tranquilos. — E ele você já conhece.

— Infelizmente. — Murmurei pra mim mesma.

— Eu escutei isso. — Nate afirmou enquanto olhava o cardápio e eu revirei os olhos.

Logo uma conversa aleatória começou a correr na mesa e eu apenas prestava atenção. Não tinha culhão para tentar me encaixar no assunto pois sentia que eu havia acabado de chegar, portanto, não era 100% bem vinda.

— Ela não tem boca? — O tal Johnson perguntou enquanto apontava pra mim com a cabeça e Lox riu. Senti minhas bochechas corarem.

— Só está acanhada. — Lox me olhou. — Vai, meninos. Sei que vocês querem encher ela de perguntas sobre o Brasil. Já podem começar.

Os meninos riram, menos Nathan, que continuou com sua expressão séria no rosto.

— Você gosta de coxinha? — Johnson foi o primeiro a se pronunciar. Eu ri.

— Sim, eu amo. Na esquina da minha casa no Brasil há uma padaria que a coxinha de lá é maravilhosa. — Provoquei um sorriso em Johnson.

— Eu sempre quis provar. — Ele reclamou enquanto cruzava os braços.

— Eu sei fazer. — Os olhos dos meninos se fixaram em mim. — Podemos marcar e eu fazer pra vocês.

Johnson e Gilinsky se entreolharam e deram um gritinho de animação. Aquilo me causou alegria extrema. Eu estava conseguindo me dar bem com eles! Bom, pelo menos com dois deles.

— É a única coisa que as latinas sabem fazer? Cozinhar?

A frase de Nate fez Sammy rir e Lox o fuzilar com os olhos. Finquei minhas unhas nas palmas das mãos e pude sentir a raiva esquentar meu sangue. Eu não sei o que era pior, a parte xenofóbica ou a parte machista da frase. Eu estava pronta pra o xingar de mil palavrões, mas sabia que aquilo poderia magoar Kami. Ela estava fazendo tudo por mim e sei que se chegasse aos seus ouvidos, seria uma decepção. Respirei fundo e apenas o olhei com desdém.

— Eu acho que sim. Mas fica tranquilo, quando eu cozinhar pra você, eu coloco um tempero especial. — Eu sorri amigavelmente e Nate me olhou curioso.

— Que tipo de tempero? — Ele sorriu de lado.

— Chumbinho. — Eu disse por fim.

Vi todos da mesa prenderem a risada e Nate me encarar com raiva.

Ele seria um problema.

𝐁𝐑𝐀𝐙𝐈𝐋𝐈𝐀𝐍, 𝗺𝗮𝗹𝗼𝗹𝗲𝘆.  ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora