Conduta Imoral e o perseguidor profissional

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A forma mais fácil de afastar os problemas na vida era ignorar. Aprendi após anos convivendo com o meu pai. O senador Stuart gostava de exaltar meus erros enquanto ignorava meus acertos. Para ele era uma educação espartana, mas para mim era apenas tortura. Sendo torturada com castigos sem sentido aprendi a ignorar seus olhares indiferentes, seus gritos e suas reclamações. Eu era perfeita em ignorar.

E Jordan deve ter se dado conta disso após ser ignorado durante uma semana inteira. Não queria escutar sua voz ou uma explicação mentirosa sobre a existência da caixa. Na verdade não queria me encontrar com ele.

Continuei ignorando suas ligações, mensagens e e-mails de forma exemplar. Nem sequer as abria. A minha curiosidade tinha tirado férias sem data para retorno. Coloquei um sorriso no rosto ao me aproximar de Phablo. Ele parecia animado conversando com alguém que eu não conseguia enxergar direito próximo a entrada da biblioteca.

Me aproximei enroscando nossos braços, sorrindo. Porém no instante em que olhei para frente, congelei. A pessoa em frente ao meu amigo era ninguém menos que Jordan Macartney. Ele agora tinha virado um perseguidor profissional?

― O que você está fazendo aqui? – perguntei sem esconder minha irritação. Não queria ter contato com Jordan até resolver meus próprios problemas emocionais e psicológicos, por exemplo. Eu queria criar uma distancia emocional dele. Eu precisava disso para não acabar me apaixonando por ele.

Afinal, somente se eu fosse idiota não iria perceber que algo estava errado quando senti ciúmes por causa da caixa de madeira. O que diabos deve ter dentro? Eu preciso esquecer isso. Foquei minha atenção no homem a minha frente. Jordan não parecia um politico naquele momento devido a sua calça jeans, sua blusa branca e casaco preto lhe davam um ar mais jovial e sensual.

Ele não poderia se vestir como um velho? Que roupa poderia torna-lo menos atraente?

― A minha namorada fugiu, o mínimo que poderia fazer é correr atrás dela – Ele falou como se realmente fosse verdade ao exibir seus dentes perfeitos. Revirei os olhos antes de olhar para Phablo. O meu amigo parecia ter se apaixonado pelo cafajeste. – Por coincidência me encontrei com seu amigo. Estávamos conversando sobre onde poderia encontra-la, já que não atende minhas ligações e ignora minhas mensagens.

― Qualquer pessoa entenderia isso. Eu simplesmente não quero falar com você.

O ego de Jordan era tão grande que deveria ser estudado pela Nasa. Não duvidaria que fosse o culpado pelo buraco na camada de ozônio. Fiz uma careta antes de respirar fundo. Para resolver um conflito com alguém irracional tudo o que eu tinha que fazer era manter a calma.

― Não deveria vir até a minha faculdade. Aqui é o meu território assim como a sua empresa é o seu. Você não iria gostar que eu fosse até lá fazer um escândalo, certo? – Tentei argumentar logicamente, mas assim que vi o seu olhar percebi que não tinha conseguido. Jordan sorriu largamente. Seu sorriso denunciou seu estado psicológico. Ele Me olhava como se eu fosse seu adversário que tinha cometido um erro. Engoli em seco preparada para inventar alguma mentira e me refugiar na sala de aula.

― Quando afirmei que não deveria ir até a minha empresa? Pelo contrário, você está convidada a fazer o escândalo que quiser – Seu sorriso convencido assemelhou-se ao convite de um demônio. – Não deveria agir tão friamente. Apenas estou com saudades.

Tudo o que ele falava soava como uma mentira bem elaborada. Não tinha como nada do que ele falava ser verdade, afinal nem nos conhecíamos. Sentir saudades de uma pessoa que nem sequer conhecia era apenas sua forma de enganar jovens ingênuas e tolas que se apaixonavam facilmente.

Deixei de ser alguém assim há muito tempo.

― Se tem saudades pode olhar para uma foto minha.

O meu tom de voz era debochado como se eu realmente não me preocupasse, o que era verdade. Preocupação servia apenas para me envelhecer e pretendia continuar com um rosto sem rugas até meus cinquenta anos, se tudo desse certo, obviamente.

― É melhor irmos para a aula – Tentei puxar Phablo para longe de Jordan, o que se tornou impossível, pois o politico com o ego gigante tinha decidido atacar, segurando o meu braço. O encarei buscando sinal de raiva ou ressentimento, e é claro que Jordan manteve uma expressão neutra. – Se tem algo para dizer, fale de uma vez.

Sabia que estava sendo agressiva. Sabia que não tinha realmente um motivo logico para me comportar loucamente. Tudo o que eu queria era evita-lo a todo custo. Eu queria afastá-lo até que pudesse esquecer qualquer boa impressão que tive dele.

Era um pedido simples, mas não tinha como falar isso em voz alta. Jordan nunca iria concordar, afinal ele era um narcisista com um ego enorme. Homens como ele se parabenizam sempre que alguém o elogia ou demonstra qualquer sentimento favorável.

― Liza, pode parar de ser agressiva por um segundo e falar o motivo por estar me ignorando? – Seu pedido soou como um namorado prestes a ser abandonado por uma megera. E eu era a megera. Quando me tornei uma?

Um ligeiro conflito surgiu em meu interior ao analisar minhas opções sabendo que a única forma de me livrar dele seria contar a verdade. A minha versão da verdade.

― Eu só quero me afastar de você por alguns dias. – Após me escutar a expressão no rosto dele se tornou complicada. Ele pareceu confuso e ao mesmo tempo feliz. – Em alguns dias entro em contato.

Tentei me libertar imaginando que isso seria suficiente, mas ele continuou me segurando. Phablo continuava olhando tudo com interesse como se eu fosse um personagem de sua novela favorita. Eu precisava escolher um novo amigo.

― Isso tudo é pela caixa, não é?

― Não – Realmente não era apenas pela caixa, ela apenas fez com que eu percebesse em que tipo de problema enfrentava – Tudo o que eu estou pedindo é um tempo para resolver meus problemas.

Jordan hesitou antes de me soltar.

― Três dias é tudo o que eu posso dar – Falou como um juiz dando uma sentença de morte antes de se voltar e ir embora. – O que ele estava falando com você afinal? – Perguntei para Phablo assim que vi Jordan desaparecer.

A pessoa em quem confiava pareceu tentada a não responder minha pergunta, o que tornava a situação interessante. Insisti por mais duas vezes antes dele suspirar e finalmente me contar.

― Sobre seus relacionamentos para ser exato e se ainda mantinha contato com o seu pai.

Precisei admitir que não estava preparada para isso. A situação a minha frente mostrava algo extremamente perturbador sobre Jordan. Ele tinha me investigado ao ponto de descobrir que Phablo era a única pessoa que realmente conhecia a minha história, meu histórico familiar e minha relação com meu pai.

Não duvidaria que ele soubesse o que aconteceu no meu passado.

Acabei me dando conta antes de fazer uma careta e sentir meu estomago embrulhar. Tudo o que conseguia sentir era nojo pela politica. 

CONTINUA..


Conduta Imoral [completo]Where stories live. Discover now