Vivendo uma Fanfic - Realidade ou Invenção?

Aquela garota legal, conselhos amorosos e mensagens de ex

Ele me trocou por aquela garota legal, sabe? Sim. Aquela garota legal. Que tem um emprego incrível (normalmente é artista ou empreendedora), é super estilosa e conhece sobre todos os assuntos possíveis. E é engraçada.

E obviamente, eu não superei isso. Não superei nenhum pouquinho. Eles nem estão mais juntos (foi passageiro), mas eu ainda me pego triste pelos cantos, mesmo sabendo que devem ter tido outras garotas legais depois dessa garota legal. E foi nesse momento triste que eu comecei a fazer coisas pra tirar ele e ela da minha cabeça, tirar a rejeição que me perseguia.

Acabei encontrando uma saga incrível sobre anjos caídos (Maximus e Ângelus são arqui inimigos e ficam tentando se matar no livro inteiro, tudo isso por conta de um mal entendido causado por um anjo caído do mal  —  obviamente dei spoiler, mas eu escrevo a fanfic, se você chega até aqui é porque sabe o spoiler) e um fórum na internet com várias pessoas que acharam a mesma coisa que eu: a saga é boa demais pra ter acabado. E meses depois lá estava eu no meio do fórum com uma Fanfic a todo o vapor, tudo isso, pra tirar o Alex da minha cabeça.

O nome dele é Alex, aliás. O nome do cara que me trocou pela garota legal. O nome dela? Claro que eu sei, nunca vou esquecer. Eu só não quero ter que escrever aqui. Dói ainda. A questão é que deu tão certo por minhas frustrações em Silêncios Quebrados (nome da minha fanfic) que virou um sucesso na internet em pouco tempo e agora até Instagram com ilustrações de fãs , tem.

Moro com a Sam, minha melhor amiga e a melhor ilustradora que eu poderia conhecer. Ela trabalha home office e desenha para várias editoras de livros infantis  —  ela seria a garota legal com um emprego legal, certamente. Suzi, a namorada dela, é editora de livros, o que é muito fofo e eu diria até que é o destino. Mas Suzi não trabalha no mesmo estilo que ela, o foco dela é livros mais darks.

“O bostinha mandou mensagem.” — Sam fala assim que eu chego em casa. Bostinha é o apelido que a Sam deu pro Alex depois do que aconteceu, assim como uma boa amiga, ela nunca superou o jeito que eu fiquei por causa dele.

“Tenho que parar de esquecer meu celular em casa, tô esperando o dia que você vai responder ele.”

“Bem que eu queria, mas aí eu lembro que nem queria você recebendo mensagem dele. Cadê aquela história de bloquear e tentar achar uma terapia online? Todo mundo falando super bem ein”

Coloco as chaves no potinho e olho pra Sam, sentada no chão com o iPad no colo, desenhando um bonequinho fofo do Ângelus escrito #teamangelus.

“Não acho que isso é pra mim.”

“Ninguém nasce querendo fazer terapia June, mas infelizmente acontece. E é legal ter alguém pra conversar. E olha o lado bom: a probabilidade de você ver ou conhecer pessoalmente a pessoa que vai te atender é quase nula!Como foi no café?”  —  Trabalho meio período num café que tem simplesmente o melhor bolo de chocolate da cidade. E gosto muito do que eu faço. Consigo estudar, paga minhas contas e me dá tempo pra fazer boa parte das minhas coisas, já que é meio período.

“Oi, estou com saudades… —  Alex”

E essa era a mensagem dele. Essa sempre é a mensagem dele. E eu nunca sei o que significa. Sabe quando você reclama pra sua amiga que o cara só quer enrolar ela, então é melhor deixar pra lá, mas você está deixando ser enrolada? Eu não sigo meu próprio conselho. E exatamente por isso que eu respondo:

“Eu também… —  June”

Eu sei que o que estou fazendo não é certo. Mas o que eu poderia fazer então?

“Somos bons em dar conselhos, mas não bons o suficiente para seguir esses conselhos. A grama do vizinho é sempre mais verde. Por isso escolhas ruins são tomadas, fazemos o que queremos fazer e não necessariamente o que é bom pra nós mesmos.” —  E esse foi o final do capítulo postado no dia.