CAPÍTULO 03

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[Em um lugar não tão distante]

Abro a porta da mercedes preta e reluzente e dou um passo para trás, esperando a senhora descer.

Senhora é apenas formalidade de minha profissão como chofer exige, não há nada envelhecido na madame devareux.

Sua pele perfeita como uma boneca de porcelana contrasta perfeitamente com seu cabelo negro prendido elengatemente em uma trança elaborada em seus ombros finos, delicados. Sua expressão é a mesma de todas as vezes; Determinada, perseverante.

Ela caminha de cabeça erguida, sem perder a classe com as botas de saltos finos sobre o piso não pavimentado da avenida miúda e humilde. Eu a acompanho em silencio como de costume.

Trabalho para o agora falecido senhor devareux e sua jovem esposa fará dez anos esse semestre e perdi as contas de quantas vezes a acompanhei em sua busca incessante.

Os passos se detem e eu a ouvi suspirar com tremor.

Suas mãos vão de encontro ao peito com emoção que eu nunca tinha presenciado antes.

ㅡ Eu lembro deste lugar. ㅡ Ela sussura mais para si mesma, e como se saisse de um transe volta a andar novamente dessa vez com mais impeto, quase correndo.

Aumento a passada para acompanha-la, receoso. Não era a primeira vez que a dama se enganara e me quebra o coração ver seu sofrimento depois; ela procura a tanto tempo.

A sigo em direção a uma casa extensa e desgasta, em um tom amarelado onde parecia antes ser branco. Os portões são facilmentes destrancados e eu formo uma carranca suspeita diante disso.

Não parece ser um lugar seguro.

Mas não há tempo para precauções, a senhora já adentrara o estabelecimento, cega pela comoção. 

Dentro, crianças perambulavam entretidas; Adolescentes e jovens lançavam olhares curiosos em direção a nós, mas principalmente para a mulher bem vestida que fitava cada rosto com cuidado meditado e ostentava um sorriso vacilante no rosto e perguntava o nome de todos .

ㅡ Ha-ham ㅡ Um homem grisalho chama a atenção, batendo os pés no assoalho, claramente descontente pelo avoroço que minha senhora havia causado entre os demais.

ㅡ Posso ajuda-la em alguma coisa?ㅡ Suas palavras eram gentis mas sua expressão nem tanto.

No momento da sua chegada todos os jovens que estavam ali se retraíram, nem mesmo as crianças brincavam.

Um silencio sepulcral caiu sobre o comodo deixando o ar carregado.

ㅡ Sim. ㅡ Ela respondeu sem se abalar
ㅡ O senhor cuida dessa instituição?

ㅡ Sim. Siga-me, vamos ao meu escritório para poder falar mais... reservadamente.

Madame devereux sorriu complacente e trocamos olhares de cumplicidade.

Eu os sigo logo atrás.

O homem olha para trás com o cenho franzido mas não comenta nada.

Entramos em um aposento que foi reformado para ser uma especie de gabinete.

O homem sentou-se e trouxe uma cadeira para a senhora que a aceitou por educação.

Enquanto eles conversavam, minha atenção foi desviada para o pequeno cubiculo em que ele chamava de escritorio.

O lugar era uma bagunça, como se estivesse abandonado realmente.

Papeis estavam espalhados pela mesa de madeira empoeirada.

No teto, um ventilador quase parando.

ㅡ A senhora está dizendo que deixou sua filha aqui? ㅡ A pergunta perplexa do homem fez com que eu voltasse a atenção para os dois.

Os olhos dele estavam ligeiramente arregalados, provavelmente ele nunca pensou que poderia ter tido em posse uma criança ou jovem de família privilegiada.

ㅡ Sim... foi em uma outra vida para mim, e eu nunca deixei de pensar nela. Eu sei que não tenho direito sobre ela mas eu apenas quero vê-la, com a autorização da... familia dela, é claro.

ㅡ Sei. A senhora sabe que não é tão facil assim. Algumas familias não querem que os pais biologicos se revelem para seus filhos adotados. Para não mexer com a cabeça deles, coisas assim.

ㅡ Entendo perfeitamente. Como eu disse , quero apenas ve-la, saber que ela está segura, que está feliz. Quando eu a tive não tinha condições de cria-la e nunca pude dar assistência financeira... que agora possuo. Sei que pode ser trabalhoso para o senhor encontra-la, por isso quero pagar por seus serviços a mim como modo de agradecimento, é claro. ㅡ bufei  internamente quando os olhos do velho se abriram com ambição e ele sorriu.

Como as pessoas mudam quando se trata de dinheiro.

ㅡ Não será fácil realmente. ㅡ Ele conrcodou com os dentes amarelos a vista ㅡ Mas eu irei fazer o possível, senhorita...?

ㅡ Julienne. Senhora Julienne devareux
ㅡ Ela deixou o fato de ser viúva em segredo.

Ele levantou as sobrancelhas.

ㅡ Certo... Me fale sobre sua filha, quantos anos ela tinha, nome, aparência, o que a senhora puder lembrar.

Juntando os papéis nas mãos em uma fileira, ele olhava para eles distraidamente.

ㅡ Eu tenho uma foto dela. Eu a guardo comigo a anos. ㅡ Ela respondeu e tirou a pequena gargantilha do pescoço.

Com isso me lembro das centenas de joias que o senhor devareux comprou para a senhora quando se casaram e em momento algo a vi tirar a singela peça de metal do pescoço.

Não sabia porquê até esse momento.

Ela entregou ao homem com cuidado. 

ㅡ Essa é uma foto dela quando tinha três anos. Foi a quinze anos atrás. Ela agora deve ter dezenove... ㅡ Sua voz ficou melancolica.

ㅡ É uma bela garota. Qual o nome que a senhora colocou para constar nos papéis naquela época?

ㅡ Eu não pude colocar meu sobrenome... eu não queria ser reconhecida. ㅡ Ela abaixou a cabeça envergonhada.

O homem balançou a cabeça.

ㅡ Então seu nome foi paradise, como as outras crianças que também não tinham sobrenome. Isso ajuda bastante, poucas que passaram aqui tinham o sobrenome da instituição. Eu preciso do nome dela, entretanto.

Escuto atentamente, mesmo sabendo que não era da minha conta.

A jovem senhora nunca tinha falado mais que poucas palavras sobre a criança que deixou, a vergonha e a culpa a impedia.

Eu nunca julgaria alguém de tão bom coração, que certamente teve seus motivos.

Ela respirou fundo e levantou a cabeça.

ㅡ Natasha. O nome dela é... Natasha.

A Prisioneira #2 • Renato Garcia (Concluída)Where stories live. Discover now