01 - Mesa

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Ele lhe encarava, parecendo atento a cada atitude, por menor que fosse.

Ah, Jungkook não queria ser sabido e dizer o que estava pensando ou não.

Ele estava mais concentrado em manter a postura, e devolver aquele olhar, o quanto quisesse e pudesse, embora ficar quieto na cadeira daquela sala de jantar estivesse se tornando absurdamente incômodo, não gostava de gravatas, o gosto do vinho era puro demais, e não estava gelado. Ele preferia que estivesse.

E ele ainda estava sendo observado, mesmo olhando para a taça ao pegá-la novamente conseguia sentir. E confirmou ao erguer os olhos para ele.

— Ela não disse que não casaria, ela disse que não casaria com você. — Jungkook olhou para o lado por um momento, se situando por um instante na conversa que corria na mesa, ouvindo as risadas que se seguiram após o comentário.

Era um jantar em família, na casa de Jihyong. Em família, porque Hani iria se casar com Jihyong, é claro. E cada lugar da mesa de oito cadeiras estava ocupado, sorte ou azar, ficou bem de frente para o tal filho de Jihyong. Por isso a estranheza. Eis o motivo.

Era a primeira vez que via seu rosto, depois de sete meses. Era a primeira vez em geral, mas fazia sete meses desde que não teve a primeira oportunidade de ver. Ele sempre estava subindo as escadas, de costas, fechado em seu quarto ou em outro lugar que não fosse a casa.

Jungkook não deveria estar ali, se fosse um dia comum. Ele poderia estar estudando, descansando em casa. A questão é que Hani era insistente e persuasiva, uma combinação terrível para quem lhe dissesse não. Em certos casos, Jungkook tinha dificuldades em negar qualquer coisa.

Além do que, ela era uma de suas pessoas favoritas no mundo.

Encarou os camarões grelhados no prato, com os tomates cereja e os talheres ainda limpos. Era melhor comer, porque não achava que conseguiria sobreviver até o fim do jantar, dadas as circunstâncias.

Ele conseguia sentir a nuca formigar e esquentar...

O assunto da mesa era sobre relacionamentos que deram errado e eram engraçados por isso. Prestou atenção quando citaram casamento, mas já estava voltado para o pintor novamente em um instante. Mesmo que não o olhasse, percebia.

E ainda conseguia se lembrar com clareza sobre as primeiras vezes em que não viu o filho de Jihyong.

Era a mesma sensação que estava tendo naquela mesa, porém multiplicada algumas dezenas de vezes.

No terceiro ou quarto mês quando foi até aquela casa e disse que gostaria de usar o banheiro, Jihyong disse que subisse e usasse o do corredor, com muita educação e presteza. Ele era assim, sorridente.

E Jungkook subiu, olhando as paredes brancas com colunas de gesso embutidas, ressaltando por apenas alguns centímetros de relevo do restante tão plano, o chão de madeira escura e lustrosa, os quadros pendurados pelas paredes.

Se esqueceu que queria ir ao banheiro. Andando devagar, conseguia ver cada detalhe dos quadros. Eram coloridos, vistosos, portanto, chamativos, felizes. Não podia deixar de olhar enquanto caminhava.

Sobre portas, havia uma que não estava completamente fechada.

Não há o que chamam de destino, ao ver de Jungkook. Pelo menos achava que não, até então. Ele não sabia, mas aquela porta nunca ficava entreaberta. Ele apenas se distraiu com o que fazia, quando mais cedo Jihyong veio avisar que as visitas chegaram, e não fechou completamente a porta.

Ele queria o banheiro, poderia ser o banheiro. Mas não era. Se aproximou devagar, olhando do lado de dentro.

Não conseguia enxergar as paredes. Estavam lotadas de quadros, empilhados e enfileirados uns junto dos outros, numa mistura maluca e intensa de sensações a serem transmitidas.

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⏰ Última atualização: Sep 25, 2022 ⏰

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