único

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Naruto pertence a Kishimoto-san.

O METRÔ

As lágrimas desciam brilhantes pelas bochechas coradas, queimando por onde passavam, enquanto o trem avançava madrugada adentro. A mulher agradecia mentalmente pelo metrô estar vazio; a última coisa que precisava no momento era de olhares piedosos ou julgadores. Esfregou o rosto com força, afastando os fios de cabelo que haviam aderido à sua pele e prendendo-os no alto da cabeça. Encostou a testa no vidro, olhando a paisagem passar rápida pela janela.

Hinata nunca achou que estaria voltando sozinha para casa, ainda mais àquela hora. Só de pensar nisso, os olhos já ficaram rasos de lágrimas novamente. Claro, frequentemente se sentia um fracasso – a depressão só agravava tal sentimento –, mas tinha sido a primeira vez que havia sido humilhada publicamente por alguém de fora da família. Tentava consolar a si mesma, justificando o namorado – ele estava bêbado, não tinha sido a intenção dele dizer que só estava com ela por pena... nem que ela era patética, sempre disposta a se doar aos outros... que fazia de tudo por migalhas de amor.

Que situação mais ridícula.

O vagão parou, as portas se abriram e Hinata fungou na manga da blusa quando três pessoas adentraram o transporte público. O andar dos dois homens e da mulher era vacilante, muito torto e ziguezagueante, mas, na realidade, não tinha como não o ser – os dois homens não pararam de beijar a moça que estava no meio deles um momento sequer, nem para olhar por onde andavam. O olhar cristalino não conseguia se desviar da cena, daquela mulher loira sendo beijada com tanta devoção por dois homens. Até que eles se sentaram exatamente na frente dela, mesmo com tantos – todos, na realidade – assentos livres ali, e os olhos femininos, verdes e penetrantes, fixaram-se em si.

As bochechas da Hyuuga esquentaram e ela desviou o olhar para a janela, mirando o vidro sem realmente ver através dele. Sentia-se constrangida pela volúpia do trisal à sua frente, por ter se tornado foco de observação da mulher, por estar tão evidentemente triste com o nariz avermelhado e as bochechas molhadas. Espiou de rabo de olho as três pessoas diante de si apenas para confirmar que, sim, a mulher ainda tinha os olhos fixos em si, e eles brilhavam de uma forma estranha. Será que estava com ciúme? Ou talvez quisesse convidá-la para juntar-se a eles...

Não, claro que não. Se nem o namorado a queria, por que estranhos iriam querer? Esse pensamento a golpeou com violência e ela sentiu as lágrimas voltarem com força.

O trem parou novamente, abrindo as portas para receber um homem vestido inteiramente de preto e com um ar sombrio. Hinata o viu contemplar o vagão quase vazio, demorando-se nas pessoas sentadas diante de si, e então vir sentar-se...

Ao seu lado.

Extremamente incomodada, a Hyuuga exalou. O que havia de errado naquele dia? Por que, diante de tantos assentos vagos, todo mundo que adentrava o transporte se sentava próximo a ela?

Os olhos claros analisaram o homem próximo a si, o cheiro amadeirado misturado ao odor de cigarro flutuando naturalmente dele para ela. Quando os olhos negros encararam suas pérolas, ela sentiu um arrepio descer pela espinha. Olhou para suas mãos, reparando no anel de compromisso que ornava seu dedo anelar direito e dando um suspiro falhado.

O metrô parou na estação seguinte. Diante de Hinata, os homens seguiam beijando a dona de cabelos loiros, sendo atentamente observados pelo último ocupante do local. O único som que se ouvia era o som molhado provocado pelo trisal ali presente. Uma campainha alta ecoou, anunciando que as portas do vagão iriam se fechar, e o que se sucedeu foi muito rápido.

Os dedos do homem ao seu lado se fecharam ao redor de seu braço, levantando-se e e arrastando-a consigo, tão depressa que antes que ela gritasse eles já estavam parados na plataforma e o trem já havia partido e deixado-os para trás.

– Me solta! – Tarde demais, Hinata encontrou sua voz. Puxou seu braço com força, porém não encontrou resistência por parte do estranho em largá-la. – O-o que você quer? – Ela recuou um pouco, abraçando a si mesma a fim de proteger-se.

O homem a olhou com indiferença, virando-se e segundo seu caminho na direção oposta à dela.

– Por que fez isso? – Insistiu, elevando a voz para que o outro a ouvisse, mesmo que este continuasse se afastando.

– Isso o que, salvar sua vida? – Os passos masculinos cessaram, porém ele não se virou para olhá-la. Esperou.

– Salvar... a minha vida? – Hinata repetiu debilmente, esforçando-se para compreender o que estava acontecendo. Por algum motivo, sentiu um espasmo nada agradável sacudir seu corpo.

– Você não entendeu, não é? – O estranho tirou um maço de cigarros do bolso. Devagar, ele levou um deles aos lábios, acendendo-o com um fósforo que logo encontrou seu destino no chão. – A mulher que estava com aqueles dois caras não piscava, não respirava e nem tinha qualquer tipo de reação. Você não reparou como eles pareciam estar sustentando o peso dela o tempo inteiro?

– O que...? Eu pensei que... – Hinata gaguejou novamente e o homem virou o rosto para observá-la. Os lábios femininos tremeram antes de ela engolir em seco. – Ela estava...

– Morta. E se você continuasse lá, provavelmente a próxima vítima seria você. – A voz grossa sentenciou, e de repente o mundo girou mais depressa e depois mais devagar para Hinata, e o estranho homem que dividia a plataforma com ela se viu obrigado a avançar cinco largos passos para que ele pudesse ampará-la e impedir que o desmaio derrubasse seu corpo frágil nos trilhos do metrô.

NOTAS FINAIS
Oi!
Essa fanfic é uma adaptação de uma creepypasta. Então, se você reconheceu o enredo, foi por isso. Eu originalmente li aqui: twitter .com/joaofilimas/status/1137890233213739008?s=19
Como sempre, a capa foi feita pela maravilhosa @Fofarizey. Obrigada, meuamo!
E é isso aí! Reviews? 

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⏰ Last updated: Apr 13, 2020 ⏰

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