8 - Fome e reputação

43 7 6
                                    

Agora era um novo dia para Amble. Hoje ela iria passar por um teste. Iam todos seres postos em uma fazenda cheia de animais. Mas claro, antes disso todos foram de encontro a Judite, ela explicara a missão do dia e logo em seguida descera uma tv no teto e que mostrou as antigas palavras gravadas de Amble:

"Meu nome é Amble, gosto de animais, de ajudar as pessoas, já li muitos livros então eu diria que sou muito inteligente e que tenho um bom coração". Então todos riram novamente como na outra vez. Judite olhou para ela e disse que ela já podia se dar por vencida.

Sim Amble se sentira humilhada como já se sentiu diversas vezes. Apenas por ser diferente? Que mundo é este? Ela lembrara do menino do telefone, se ele aparecesse logo ela poderia se livrar de cometer mais atrocidades. E se começassem a mandar fazer missões com humanos? Ela ouvira os mundanos dizerem que a tarefa do dia era uma tarefa um tanto leve. Por outro lado os santinos diziam que não podiam matar cavalos porque seu deus não gostava.

Logo foram direcionados a uma espécie de fazenda cheia de animais. Amble achara estranho pois em uma parte da fazenda haviam humanos comendo com junto aos porcos. Amble não sabia o que acabara de ver e muito menos o que fazer. Nunca matara animal algum. Vira de longe os outros matando com coragem e ela passou um pouco mal. "Infelizmente não irão aceitar uma formiga..." pensou desesperada. Até que viu um ninho de passarinho. Uma mãe chocava seus ovos. Logo ela pegou uma pedra e tacou em cima da mãe. Infelizmente os filhotes morreriam com o tempo pela ausência maternal. Mas pelo menos agora tinha um pássaro morto em mãos. Olho o ser com um pouco de nojo e pena porém voltou o percurso.

Eu confesso, acho que Amble está um pouco louca de levar um animal tão pequeno mas talvez eu fizesse o mesmo. Talvez porque, as vezes pensamos ser algo e descobrimos não ser. Vamos ver agora um outro lado da história.

...

Vamos falar sobre um novo grupo que merece ser analisado aqui: os canibais. De preferência esses da mesma família:

Antes que pense que não, os canibais também possuem famílias. Mas antes de julgá-los pense que se todos precisassem ser santos para terem uma família então a humanidade não deveria ter. Amar de verdade não seria amar a todas as coisas? Mas assim como os canibais podem querer proteger apenas sua família e danar a humanidade, a humanidade muitas vezes quer proteger sua família e... danar os outros humanos.

A família da qual vou falar agora possuía dois irmãos. Eles tinham personalidades levemente distintas. Daniel e Leandro eram seus nomes. Daniel era o mais velho e desde que nasceu se sentiu negligenciado pelos pais. Na época seus pais estavam muito mais preocupados com dinheiro e boa reputação. Apesar de conseguirem não perceberam que por conta disso Leandro decidiu que não queria ter uma família e nem se envolver romanticamente com alguém. Ao contrário dele, Leandro ganhou mais atenção pois os pais naquela altura do tempo decidiram ser mais atenciosos a família. Daniel não culpava Leandro por ter nascido no momento certo. inclusive dizia a si mesmo que iria vigiar a vida de Leandro para protegê-lo de tudo. Naturalmente com o tempo Leandro provocara muito orgulho em sua família. Todos os vizinhos diziam sobre a mais grande capacidade carnívora do filho mais novo.

É óbvio que o tempo passaria e Leandro iria querer independência. Mas Daniel apenas observava as atitudes do irmão de longe. Até o momento em que sentisse que deveria interferir. Leandro conseguia ser muito mais otimista, e Daniel pessimista. Por não gostar de socializar evitava matar apenas por diversão. Por matar apenas por fome não causava tanto orgulho aos pais. Sim, muitos canibais matavam para dizer "matei tantos e tantos humanos" não necessariamente por fome. Quanto mais "tantos" mais glória e honra no meio canibal. Daniel fazia de tudo para não culpar Leandro mas jamais conseguiria evitar que doesse aquela rejeição familiar. Aliás qual era o problema?

A situação até então estava estagnada. Daniel negligenciado e seu irmão sendo adorado por todos. Até que um dia algo mudou.

...

Daniel percebera Leandro um tanto estranho. Ele sempre estava acordando mais cedo que o normal, chegando tarde. Então um certo dia Daniel determinou segui-lo despercebidamente. O que não era problema já que ele sempre se sentira ignorado.

Olhando ao longe escondido por trás de uma árvore vira o irmão sem sua máscara (sim, os canibais usavam máscara para sinalizar que eram um deles assim podiam se comunicar uns com os outros sem risco de virarem comida). Isso porque os canibais eram iguaizinhos aos humanos. A única diferença era a máscara.

Seu coração acelerou não podia acreditar no que vira: Leandro estava tentando se passar por humano? E se sim, para que?Passado alguns minutos conseguira entender o porquê. Veio a seu encontro uma humana. Uma humana.

Como ele pôde ter entrado em contato com a humanidade passivamente sem os pais perceberem? De fato os pais se orgulhavam tanto do mais novo que jamais passaria na cabeça deles uma atitude dessas. E como ficaria a reputação da família agora? Canibais que não tinham sede de morte humana ficavam mal vistos por ali.

A única coisa que Daniel conseguira pensar era no futuro arruinado de sua família. Infelizmente não lhe veio ainda nenhuma solução. Agora, Leandro precisava se preocupar com sua fome... Conviver com humanos não ia durar por muito tempo. E Daniel, Daniel perdidamente por dentro além de quebrado, com a reputação de sua família e destino de seu irmão.

2Q7 - 200.407Onde histórias criam vida. Descubra agora