CARTAS AO PAPAI

187 20 19
                                    

"2998 palavras"

Gramado, Rio Grande do Sul.

23 de Setembro de 2017.

Caro destinatário...

Tá, pai, não vou começar com as minhas zoações adolescentes, como o senhor mesmo fala!!! Kkkkk

Só queria descontrair o senhor antes... De contar tudo que vem acontecendo comigo.

Então ainda vou seguir essa ideia, tá?!

Tenho que te dizer que no fim de semana da páscoa desse ano foi incrível! Eu sei que caiu bem no dia do meu aniversário de 15 anos e tudo mais, era de se esperar que eu amasse esse dia. Afinal era chocolate e presentes de aniversário o tempo todo!

Menos da tia Clotilde. Adoro meias, juro, mas ela nunca acerta nas cores. Todo mundo sabe que eu amo arco-íris.

E falando em cores e tal... O senhor se lembra daquele carrinho de colecionador colorido que eu ganhei do amigo que te apresentei, o Ronaldo, e o senhor disse que era cheio de frescuras?

Eu o amei. Primeiro que amo todas as cores juntas. E segundo, porque foi um presente do meu namorado.

Isso mesmo que o senhor leu.

Aqui, sobre a mesa de estudos do meu quarto, escrevendo essas frases que lê, estou tremendo de medo só de admitir isso em uma carta. Eu nunca conseguiria fazê-lo em pessoa com o senhor. É muito assustador pra mim.

Eu super o respeito, pai. Mas também o conheço bem.

Sei que é um homem criado sobre regras rígidas, com pensamentos mais fechados e que mesmo percebendo que não conseguiu colocar seus filhos sob a mesma visão, nunca deixou de ter sua opinião.

O senhor nunca falou nada desrespeitoso sobre gays, mas também o vi rir de muitas de piadas de mau gosto dos seus amigos, lhes dando suporte.

Cada vez que ouvia suas risadas, quando nossos vizinhos ou seus colegas de trabalhos falavam que um carinha aleatório que conheciam era muito viado, ou outro se assumiu e teriam que ficar de olho nele no vestiário da academia, como se ele fosse um pervertido...

Me desculpe pelo palavrear, mas me sentia uma merda de pessoa!

Eu sou gay. Percebi isso muito antes de conhecer o Ronaldo.

Você amava ver as garotas aqui em casa, que levava ao quarto, no começo da minha adolescência. Desculpe desapontá-lo sobre o motivo, mas nos só conversávamos sobre garotos o tempo todo.

A Maju e a Lira, que você mais vê perto de mim, eram as que mais iam pra falar de seus namoros. E eu sempre amei ouvi-las, torcendo para ter algo assim um dia.

E foi numa dessas conversas que soube que o Ronaldo, um dos carinhas mais interessantes do polo aquático do colégio, vinha perguntando sobre mim.

Logo que ouvi isso fiquei eufórico para saber o que ele queria saber, mas nenhuma das meninas tinha ideia.

Mas a Maju, sempre esperta, sabe que sou lerdo e foi falar com ele, que mandou um recado por ela. Uma carta, no estilo dessa que estou te mandando, cheio de palavras e historias, para enrolar que...

Ele estava me chamando para sair! Eu louco de animação, aceitei!

Sabe a páscoa de 2016 que eu fiquei pela primeira vez até mais tarde no desfile do centro, que você e o Salvio foram cedo pra casa?

Eu sequer reparei dos carros alegóricos, apenas no Ronaldo, me olhando e sorrindo o tempo todo no nosso primeiro encontro.

E quando ele soube que também era meu aniversário, quis me dar um presente. Foi o meu primeiro beijo, exatamente do jeito que sempre sonhei. Romântico. E foi aí que surpreendi a mim mesmo e o pedi em namoro.

CARTAS AO PAPAI - CONTOOnde histórias criam vida. Descubra agora