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ARABELLA BLANCHARD

30 DE JANEIRO, INVERNO

Todos os dias se pareciam mais invencíveis do que outros, cada dia eu sentia meu corpo se arrastar com mais dor do que antes, o meu corpo já era mais magro e frágil, meus cabelos já estavam em tanta desordem que eu nem me importava, tudo era bagunçado e sem sentido, eu apenas queria me esconder. Saí da grandiosa e esbelta cama, encarei as paredes claras como céu, o quarto era grande, espaçoso e muito vazio. Os contrastes de branco, cinza e dourado deixavam um ar sofisticado e jovial que eu adoraria deixar para trás, alguns remédios se encontravam em cima da mesa lateral à minha cama, e minha pantufa posta no chão para que eu pudesse calçar meus pés desnudos. Andei até o banheiro, passando por uma estupenda fileira de armários grandiosos e cheios de roupas, preferi deixar de encarar a minha fisionomia no espelho e me pus dentro do banheiro, enchi a hidromassagem e medi a temperatura com a minha mão, sai do banheiro a procura de uma roupa adequada, cacei entre as milhares de pilhas e optei apenas por um jeans confortável e uma blusa quente de tricô.

Voltei para o banheiro, assim que comecei a me despir ouvi uma batida na porta invadir o quarto. Repensei algumas vezes se gostaria mesmo de atender, excitei alguns instantes encarando a minha figura destruída na frente do espelho e apenas saí do banheiro ouvindo mais alguns toques desesperados e uma tentativa falha de abrir a maçaneta.

– Arabella! – ouvi aquela voz grossa me chamar e respirei fundo. Abri a porta com delicadeza e encarei o homem a minha frente. Barba bem feita, olhos azuis cristais, cabelos tão loiros que se aproximavam do branco, o semblante era cansado, desgastado e acima de tudo preocupado, havia um desespero fora do normal naquele rosto tão familiar.

– Eu ainda não me matei, Noah – disse com um falso humor e rapidamente vi seu semblante se tornar tranquilo e furioso ao mesmo tempo. O peso de seu corpo sucumbiu sobre o meu, apertou os meus ombros com força contra o seu peito e eu senti um cheiro similar ao de lar.

– Você me preocupa, caralho – ele rugiu sobre meus cabelos loiros e sem vida, ele afagou o topo da minha cabeça com força, como se tivesse medo de um fugir, e eu apenas ri sem humor algum.

– Onde você estava? – pergunto me desvencilhando de seus braços, olhei o estrondoso corredor atrás do meu irmão e apenas vi o borrado de uma funcionária circular pela a casa me encarando descaradamente, como quem se assusta ao ver um fantasma.

– Na Fundação, resolvendo as merdas e cuidando de tudo para hoje a noite – sua voz era exausta e rígida.

– Claro – murmuro sem paciência adentrando meu quarto novamente e dando espaço para Noah, ele fechou a porta logo atrás de si e se sentou sobre a minha cama.

– Já tomou os seus remédios? – seus olhos são direcionados a minha mesa, ele checa sorrateiramente todos os fracos como quem procura mesmo saber se eu não deixei algum passar, ou simplesmente não os quis.

– Sim – me deixo por vencida e deito novamente na cama.

– Daqui a pouco é a sua consulta, não quer ir se arrumar?

– Eu iria fazer isso, porém fui interrompida – sorri com cautela e quase posso vê-lo se iludir com essa falsa emoção.

– Certo, já vou então, te espero lá embaixo – ele se inclina sobre mim, apoia um beijo delicado contra meus cabelos e deixa o meu quarto com agilidade.

Respiro fundo pela a milésima vez hoje e sigo para o banheiro, me despeço sem fazer questão alguma de olhar no espelho e entro por primeiro no box, lavo-me por completo, deixo-me sentir limpa por alguns momentos antes dos meus pensamentos virem a tona, saio com os cabelos ainda molhados e sigo para a banheira, me deixo relaxar um pouco sentindo os jatos de água em lugares de tensão. Encaro a água sob a minha pele e me deixo escorrer para dentro da banheira, mergulho a minha cabeça e me deixo ser levada pelo o momento. Deixo-me lembrar do mês passado e sinto meu peito doer, levanto com rapidez tossindo com força e respirando com o dobro de dificuldade. Tento me recompor mas as lágrimas já estão saindo com facilidade, me sinto dolorida por inteira e meu soluços aumentam a partir das lembranças. Suposições aparecem como ondas de devaneio em minha cabeça, a falta de fôlego me deixa mais apavorada e apenas penso, e se eu simplesmente tivesse deixado de ser menos prepotente, menos exibida e com certeza mais responsável? Tantos questionamentos sem fim mas apenas uma conclusão: estou pagando por meus pecados.

𝐀𝐑𝐀𝐁𝐄𝐋𝐋𝐀Nơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ