7 (final)

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− Ermelinda! Preciso que vá agora mesmo a este endereço levar uma coisa!

− Sim, menina? – respondeu a interpelada, abeirando-se da patroa com ar desconfiado.

Nunca lhe fora pedido anteriormente para fazer qualquer diligência daquele tipo. A sua função era somente limpar. Já era a segunda vez que Maria Eduarda a incumbia de realizar trabalho no exterior.

Olhou para o relógio de pulso barato, através do vidro rachado no mostrador e constatou que tinha apenas vinte minutos até à hora da saída.

Perguntou:

− É muito longe?

− Não! Eu chego lá em meia hora.

− Vai sempre de carro?

− Claro!

− A pé irei demorar muito mais, menina Maria Eduarda!

− Não sei nada disso... Tem de ir agora lá!

Enchendo-se de coragem, Ermelinda atirou o "barro à parede" para ver se colava, dizendo quase em surdina:

− Então, amanhã entro um pouco mais tarde para compensar...

A resposta foi um espanar ascendente da mão e um rodar lesto do corpo em direção ao quarto, a qual a empregada interpretou como aceitação. Mal se viu na rua, dirigiu-se a um carro da polícia estacionado mais adiante, para tentar saber onde se localizava a morada pretendida. Devidamente informada, indagou a umas pessoas, na paragem de autocarro mais próxima, sobre a melhor linha que a colocasse no local mais favorável para o seu objetivo e meteu-se numa das viaturas públicas em direção ao centro da cidade. Mal saiu, interpelou mais um transeunte, que a orientou para uma avenida a vinte minutos dali, a pé.

Embora antigo, o edifício, que fora restaurado, impunha-se sofisticado naquela via larga da parte velha da zona urbana.

«− Estou novamente no meio dos ricos!» − constatou para si mesma, suspirando.

Tocou e, pelo vídeo porteiro, informou sobre a sua proveniência, o que originou um zip imediato de abertura da porta.

Tomou o elevador para o décimo e último piso.

Mal saiu, uma porta em frente abriu-se, revelando uma senhora alta e forte, com cabelo louro platinado, trajando um vestido colorido e usando compridos brincos pretos. Muitas rugas, envolvendo um sorriso artificial, demonstraram ser talvez já septuagenária.

− Boa tarde. Vem, então, da parte da Eduardinha?...

− Sim, minha senhora. Trago isto para lhe entregar – esticou o braço, oferecendo um pequeno saco de uma perfumaria conhecida, contendo um gordíssimo envelope em branco, fechado.

− Entre!

− Com licença.

A senhora recebeu a encomenda, retirou o envelope e guardou-o numa das gavetas da cómoda rebuscada, com metais dourados, da entrada, carregada de bibelots.

− Como se chama?

− Ermelinda.

− É parente da Eduardinha?

− Não, minha senhora! Sou a mulher-a-dias. – respondeu, corando ligeiramente.

− Ai, sim? Mas então, deve estar com ela há muito tempo!

− Mais ou menos. Há... para aí... vai fazer sete anos.

− Mmm.... Conhece bem a cidade e os arredores?

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