5 - Nas profundezas

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— Aram

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— Aram. — Lira bateu na porta fechada do banheiro pela oitava vez. — Dá para sair desse banho logo?

— Calma. — Ouviu a voz dele, abafada pelos jatos do chuveiro. — Gosto de tomar um banho demorado.

— Já faz quarenta minutos.

— E daí?

— E daí que já faz quarenta minutos. — Ela bufou; na Colheita dos Escravos, eles tinham sorte quando conseguiam ficar mais do que cinco minutos nos balneários precários e coletivos. — Quero tomar banho também. O treino Kapwa foi exaustivo. Mais exaustivo que o da SIO. Desliga logo esse chuveiro, ou eu vou ser obrigada a te tirar daí de dentro.

— Se você abrir a porta e entrar agora — conseguia escutar o riso mole dele embaixo da água —, vai ter a chance de me ver em toda a glória desenhada pelos deuses.

Lira soltou o ar e encostou a testa na porta; ela não era uma pessoa impaciente, mas Aram estava testando seus limites. Não sabia quanto tempo iria aguentar aquela história de quarto compartilhado.

E aquela era apenas a primeira noite.

Por sua mãe e Mia, reforçou com afinco a razão primária que a fazia se erguer da cama quando todas as forças sumiam. Por sua mãe e Mia.

A exaustão mordia cada centímetro do seu corpo, mas agora que estava a cada dia mais perto do seu objetivo, não desistiria de modo algum.

Ela se desequilibrou quando Aram abriu a porta do banheiro subitamente; caiu para frente, em direção a ele. As mãos dele a ampararam, segurando-a pelos ombros. O vapor que enchia o cômodo subia em uma dança lenta, envolvendo-os feito uma cortina quente.

— Calma, não precisa se jogar nos meus braços, Lira. Eu só pertenço a você agora.

Lira travou a respiração; o cheiro dos sais de banho e a quentura da pele dele eram atordoantes. Ergueu o rosto, esperando se deparar com o costumeiro olhar zombeteiro que sempre enchia as íris de Aram, mas se pegou emudecida ao contemplar ali uma névoa silenciosa, profunda.

— Desculpa — ela murmurou, se afastando, o coração batendo de um jeito estranho na garganta.

Aram se moveu lentamente, os fios de água dos cabelos molhados respingando nela. Ele estava apenas com uma toalha em volta da cintura, o peito despido; uma visão para a qual ela não estava preparada.

— Você parece exausta — Aram observou, a voz mais baixa do que o normal. — Seu joelho está doendo de novo?

— Um pouco. — Ela se forçou a desviar o olhar da marca que havia na lateral do abdômen dele; o contorno que a fazia pensar em uma chama, no desenho de uma labareda. — O dia foi cansativo. Aquilo que fizemos no campo de treinamento... Nossa energia compartilhada...

Noites de cobras e sonhos | 2 (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now