5. Finch Conhard

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Who you really tryna be when you see your face?

Is it worth it trying to win in a losing game?

Well, it's all waiting for you

And boy, I know you're eager

But it just might destroy you

- Take Yourself Home, Troye Sivan

São quatro e quarenta quando eu chego no estacionamento do círculo. O que quer dizer que estou dez minutos atrasado.

Mas na verdade, não estou muito preocupado com o horário. Ouvir viciados por cinquenta minutos ou uma hora não faz muita diferença.

A vejo assim que dobro a direita para a entrada do galpão. Alexis está parada no final das escadas, ao lado de uma árvore com aparência morta.

Há algo melancólico na imagem. Talvez seja o tempo meio cinza ou talvez seja simplesmente a garota. Mas por um momento eu quero abrir um caderno e colocar no papel.

Um cigarro pende entre os dedos da mão direita.

Ela está usando botas e calça jeans velha, o que parece ser seu uniforme. Um top verde musgo está escondido sob um casaco escuro, grande demais para o seu corpo magro.

Suas roupas sempre parecem ter sido escolhidas preguiçosamente, mas caem bem nela. Talvez pela beleza ou talvez pelo fato de que ela usa com confiança. Tudo nela parece descolado e sem esforço.

A garota simplesmente não dá a mínima.

E funciona para ela.

Eu me aproximo, indo em direção a entrada e ela me encontra com o olhar enquanto sopra a fumaça.

Então, sem qualquer tipo de comprimento ou até mesmo reconhecimento, ela volta a olhar para o horizonte.

Resolvo ir direto para porta, a ignorando também.

Minha mão está a um centímetro da maçaneta quando ouço:

— Você tá atrasado.

Eu me viro. Ela ainda tem o olhar longe.

— Você é sempre tão intrometida?

Ela finalmente me encara, o rosto sério.

— Sim.

Eu olho para porta por alguns segundos, mas me viro.

Merda.

Eu desço os quatro degraus e paro ao seu lado, com uns bons dois metros de distância.

— Não vai entrar? — eu pergunto, a encarando de perfil.

O nariz arrebitado, os cílios escuros.

— Sem pressa. — ela murmura. — E você? Não está com medo de levar uma bronca pelo atraso? — ela zomba, me lançando um olhar.

Ela leva o cigarro nos lábios novamente e eu observo seus dedos tatuados com tinta preta, fazendo um sutil contraste com a sua pele negra.

Me pergunto se ela tem muitas tatuagens por baixo de toda aquela roupa.

— Drogas, bebida, analgésicos... E cigarro. — eu faço uma pausa. — Você realmente está se esforçando para se matar.

Ela se vira para mim. Um sorriso abre em seus lábios. É o maior que ela já me lançou.

— Você não faz ideia.

Ela dá dois passos na minha direção e sopra a fumaça bem na minha cara.

— E não esquece o sexo. Eu conheço o tipo de sexo que pode ser mortal. — há um brilho divertido em seu olhar.

E a forma em que ela pronuncia sexo faz meu corpo reagir.

Eu pisco e ela já está andando em direção as escadas.

Perto da porta, ela diz:

— Vamos, estou curiosa para saber o que Hillary fez nos últimos dias.

Eu a sigo.

O círculo já está quase completo, mas ainda não parece ter começado. Há mais de uma pessoa falando ao mesmo tempo, não tem nenhuma "confissão" ou o que quer seja acontecendo.

Alguns olhos viajam até nós enquanto entramos. Ando atrás de Alexis, alguns passos de distância.

Ela se senta na cadeira vazia mais próxima e eu atravesso o círculo e me sento na direção oposta.

Alexis cruza os braços e estica as pernas, já entediada.

Alguns rostos parecem deprimidos, mas vejo um ou outro sorriso.

Ainda há esperança, aparentemente.

Henry começa dando boa tarde para todo mundo, com um sorriso gentil no rosto redondo e dócil.

É difícil imaginar o cara como um alcoólatra.

Eu passo os próximos minutos escutando sobre drogas, abstinência e fraqueza.

Noto que, a direita, Hillary tem os olhos em mim. Quando a pego encarando, ela abre um sorriso tímido e desvia o olhar.

Eu fico em silêncio, as vezes lançando um olhar para Alexis, em que a expressão costuma variar de extremo tédio e puro escárnio para certos comentários do círculo. Como quando Hillary começa a falar ou quando Henry lança alguma frase clichê sobre superação que parece que ele pegou de alguma postagem do Facebook. Aquelas em que há uma citação e por trás um por-do-sol ou várias flores.

— Eu sinto que eu estou a um fio de perder o controle. — Bob, um alcoólatra de uns 40 anos com uma voz rouca está compartilhando. — Eu já perdi tudo de qualquer forma. Quando fica muito difícil, eu não consigo ver a razão de não me entregar. É a única coisa que realmente quero. A única coisa que me faz sentir alguma coisa boa. — ele inspira fundo e pausa. — Eu estou a quatro meses sóbrio. Mas todo dia eu chego muito perto de acabar com tudo. É como andar em um piso repleto de sabão. Você pode tentar ter cuidado, ir devagar. Mas você sabe que eventualmente vai escorregar.

Eu encaro o homem por vários segundos. A dor está nos olhos dele, assim como o desespero. Há medo também.

Todo dia é uma maldita guerra.

— Finch?

Encaro Harry, que olha para mim, em expectativa.

Eu volto o meu olhar para o grupo, que agora me observa.

É a minha vez.

— Meu nome é Finch Conhard e eu sou um viciado.

Os olhares continuam sobre mim, esperando que eu diga mais, um em particular.

Mas não o faço.

11:45Where stories live. Discover now