Primeiro ato

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                                                        Um monologo sobre aviões e tempos frios

A quem interessar.

O tempo de vôo da Itália a Polônia dura cerca de 1h e 44 minutos, da Polônia ao Reino Unido dura 2h e 11 minutos e do Reino Unido a Noruega no momento passa das 2h e 49 minutos e ainda contando, provavelmente essas informações não sejam tão interessantes, a menos que estejam interessados nesse cronograma de viagens, caso este não seja seu caso eu peço desculpas estou entediada, uma maldita tempestade fez com que o vôo entrasse em turbulência e tivesse que contornar – pelo o que diz o piloto, eu não entendo nada de aviões – Papai me disse antes de embarcar que essas coisas é a cidade nos impedindo de entrar e no fundo do meu coração eu torço para ser verdade, não quero soar ingrata mas se houvesse alguma opção, de forma alguma iria para Edda ou pra qualquer outra cidade da Noruega, mas Mamãe e Petra parecem bem animadas desde que saímos de Londres, Edda é basicamente a cidade onde mamãe cresceu e viveu toda a adolescência antes de viajar, conhecer meu pai em Belize e bem.... Ter eu e Petra, as gêmeas dançarinas – Eu não sei quem foi o imbecil que começou a nos chamar assim,  o bairro adotou esse apelido no momento que começamos a entrar em concursos de dança, sempre o odiei – A grosso modo esse é o porquê dessa viagem para inicio de conversa, um concurso em Oslo que demoraria meses para começar ja que nossa mãe conseguiu um desconto otimo nas passagens se fossemos agora, e como morar em Oslo seria caro demais e pra completar a desgraça tinhamos que terminar os estudos, então mamãe teve a brilhante  idéia de nos fazer terminar o ensino médio em Edda enquanto ela relembra a infância ou mais alguma baboseira desse tipo

Não quero parecer ingrata – Mesmo que você provavelmente ja pense assim –  Eu amo competir, é o que sou basicamente, mas as viagens exaustivas e ter de mudar de escola de novo? Céus me cansa so de pensar

Senhores passageiros apertem os cintos, estamos próximos a area de pouso

A voz nos auto falantes soa e eu suspiro apertando o cinto encarando a vista para fora vendo apenar um mar de branco, um calafrio percorre meu corpo, sinto meus pelos se arrepiarem mesmo por baixo dos quatro casacos – Sim eu estava em Londres, mas entenda, quem viveu o clima tropical de Belize mais da metade da vida nunca vai se acostumar 100% com o freezer que são os países da Europa – O avião sofre mais turbulência enquanto descia e Petra me cutuca
-O que? – Viro os olhos e ela sorri – Por que essa animação toda? É só a Noruega
-Pelo amor de Deus Neri – Ela resmunga revirando os olhos castanhos como os meus – Vamos à cidade natal da mamãe como você não ta animada?
- E quem disse que não estou – Cruzo os braços e ela revira os olhos
-Essa sua cara de cu desde que entramos no avião – Franzo a testa
-A gente tem a mesma cara – Digo e ela fecha a cara me fazendo rir – Desculpa se minha rinite não gosta de países frios
Ela pareceu querer responder, mas o avião para e os passageiros começa a se levantar – Graças a Deus – soltamos o cinto e nos levantamos pegando as bagagens de mão saindo como porquinhos em fila indiana até a saída do pássaro de metal e a entrada do grande freezer norueguês.

*****

Demorou mais algumas horas de carro do aeroporto ate a entrada da cidade, Petra tagalerava com Mamãe sobre estar muito ansiosa em conhecer as pessoas e o lugar, ela sempre fica assim quando viajamos  – Chega a ser engraçado – eu apenas observava a paisagem em silencio, neve, neve e mais neve.
-E você Neri? – Minha mãe disse me tirando do transe – Não falou nada a viagem toda
-Particularmente gosto mais da Tailândia – Dou de ombros e Petra me cutuca com o cotovelo – Mas a Noruega parece ser legal também
-Eu sei que não queria vir, mas vai gosta de Edda, prometo
-Que tipo de cidade se chama Edda? –Murmuro para Petra e ela da de ombros

Nos aproximávamos de uma placa escrita 'Bem Vindos a Edda' e o numero de habitantes abaixo, tão típicos dessas cidades pequenas, a placa ficava mais visível a cada segundo ate que o motor começou a apitar e o carro a travar, uma fumaça azulada saiu do escapamento e quando chegamos próximo a placa o carro parou de vez
-Ah que ótimo – Mamãe resmungou batendo no volante e saindo do carro e abrindo o capo
-O que rolou? – Petra disse saindo do carro junto comigo – Mãe?
-O Motor pifou- Ela praticamente rosna fechando o capo com força – Como que alugam uma merda dessas?
-Acho que o papai tava certo quando disse que a cidade não quer a gente aqui – Rio recebendo um olhar raivoso de ambas
-Nerissa, sem piadinhas agora- Mamãe resmunga pegando o celular e se afastado
-E o que a gente faz enquanto isso? – Resmungo virando para Petra, ela se senta no capo e da pequenas batidinhas ao seu lado, ando ate ela e me sento também
- O que você ta mais ansiosa pra esse ano? – Ela diz olhando para a cidade a distancia
- Que ele acabe – A vejo revirar os olhos
- O que você odeia tanto daqui?
  O que você gosta tanto daqui? – Falamos ao mesmo tempo e acabamos rindo
-Não é que eu odeie so não tenho grande expectativa igual você – Reviro os olhos – Ainda mais por ter que estudar aqui
-Você é muito pessimista – Dou de ombros – Sabe eu também não tenho grandes expectativas, so estou tentando ser o mais positiva possível sobre esse ano – Ela segura minha mão – Principalmente por ser o nosso ultimo competindo
-Não seja dramática, parece ate que alguém ta morrendo
-Neri você pode, por favor, me deixar ter um momento emocional sem estragar tudo com o seu cinismo – Rio e aperto sua mão – Vai dar tudo certo ok?
-Ok – Encosto a cabeça em seu ombro
-Certo meninas vão trazer o reboque daqui a uma hora – Minha mãe volta parecendo frustrada e eu e Petra apenas bufamos em sincronia 

Por que tenho a impressão de que não vai?

The Immigrant songWhere stories live. Discover now