Capítulo 1

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Pecamos, porque amamos.

-       Mikael! Eu sei que você está aí! – Observei Isabel se ajoelhar na grama debaixo da árvore e cobrir o rosto com as mãos. O pranto em sua voz, me retalhava em centenas de pedaços. - Apareça para mim, meu amor. Não é justo, porque está fazendo isso comigo? Por que?

Ela não sentia meus dedos em seus longos cachos dourados naquele mesmo instante, ajoelhado ao seu lado. Ela não sabia o quanto eu lutava com a necessidade avassaladora de tê-la em meus braços. O quanto essa distância me maltratava.

-       Se você soubesse o quanto eu te amo, minha pétala... – falei ao pé do ouvido dela.

Não falei para que ouvisse, pois não podia feri-la ainda mais. Isabel, mesmo assim procurou por mim, tamanha a ligação que fortalecemos, tamanho o meu erro. E eu fui egoísta. Porque tomei sozinho, a decisão de me afastar. De acabar com aqueles sonhos que vivemos. De dar um ponto final a nossa história.

Porque sim, foi um sonho. Todas as tardes e noites que passamos no Penhasco. Todas as juras de amor, as promessas. Mas eu acordei. E agora, serei obrigado a enfrentar esse pesadelo.

Deus, mas ficar longe de Isabel foi o pior tormento que precisei enfrentar. Por que amar fere assim? E de que nos adiantou amar tanto?
Para sofrer?

Ela se levantou e andou até a beira do Penhasco. Eu a segui.

O vento rugia com uma força fora do habitual. O véu formado pela queda das cachoeiras em frente ao Penhasco, balançava de um lado para o outro em uma sincronia invisível, como bailarinas feitas de água.

Ela se ajoelhou outra vez. Seus cabelos loiros esvoaçavam com a ventania, fitei seu rosto de anjo de perfil, as bochechas rosadas e inchadas pelo choro. Isabel suspirou e cravou o olhar no imenso abismo. Como se cair do Penhasco direto no mar, lhe parecesse atraente. Envolvi seu corpo com meus braços para impedi-la de fazer alguma besteira.

Era eu o culpado por seu sofrimento. Eu quem deveria saltar do Penhasco. Se pular nos libertasse da agonia, eu o faria. Pena que para o nosso caso, não existia nenhuma solução além do adeus.

Cometi um erro terrível. Imperdoável. Eles jamais me deixarão sair impune. Ainda não acredito no que aconteceu.

Como pude fazer isso?

Fui um tolo. Idiota.

Desde o momento em que a toquei, tornei-me um miserável. Mas nessa miséria, depositei toda a minha felicidade.

A pele nívea de Isabel sobre meus dedos, colocou em julgamento tudo o que sou. Ela se tornou a missão e a razão de minha existência. E se o Conselho descobrir o que fizemos, estaremos mortos.

-       Fale comigo Mikael! Por que eu falo e você não responde?!

Isabel gritou e sua voz, mais uma vez me acertou como uma adaga. Passeei com a ponta dos dedos sobre seu rosto, e de novo falei sem que pudesse me ouvir:

-       Eu não respondo minha pétala, porque quando eu disser se tornará verdade. No momento em que eu proferir as malditas palavras, eu e você, encontraremos nosso adeus. E eu, nunca mais poderei vê-la. Nunca mais sentirei sua pele macia em meus dedos, seus lábios rosados acariciando os meus. E não consigo aceitar isso. Não sou capaz de falar com você e me despedir. Na verdade, essa tentativa de ser forte, apenas faz de mim um covarde. Porque sei que a culpa foi minha. Que o erro foi meu. E você vai me dizer que foi nosso. Vai dizer que quis se entregar a mim, vai dizer o quanto me ama. E se eu ouvir, desistirei de tudo. Se eu ouvir, vou esquecer outra vez do que sou, de quem sou, do que a minha posição exige. Porque tudo o que sou está em você. Bate em seu peito, vive no seu sorriso e se regozija no seu olhar, Isabel. Espero que um dia possa me perdoar. Espero que um dia, possa esquecer de mim, pois sei que jamais esquecerei de você.

A Sombra (Completo)حيث تعيش القصص. اكتشف الآن