Já é o suficiente

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Alexandria, final de Novembro, 2015.


JANE POV

— Carl, você está bem? — coloco a revista de lado e pergunto quando já não aguento mais apenas o barulho da pipoca sendo mastigada.

Ele suspira e fecha a revista em sua mão. — Não muito.

— Quer conversar sobre isso?

Ele nega com a cabeça e eu respiro fundo.

— Meu pai abandonou à mim e minha mãe quando eu completei seis anos. — Começo a falar e ele me encara. — Teve uma relação complicada com ela e só manteve contato porque ela engravidou. — Olho para as minhas mãos. — Tenho poucas memórias dele. Aparecia na minha casa e minha mãe dizia ser um tio porque na época tinha conhecido meu padrasto. Só lembro dele montando quebra-cabeça comigo ou me ensinando a atirar.

— Com seis anos? — Ele franze as sobrancelhas.

Eu rio. — Você o conhece melhor que eu. Ele não bate muito bem da cabeça. — Meu sorriso se fecha aos poucos. — Mas pelo menos serviu pra alguma coisa. Quase seis anos depois isso começou.

— Sinto muito. — Ele diz e umedece os lábios. — E a sua mãe?

— Estávamos em um pequeno acampamento quando uma horda de zumbis nos atacaram. Tentei encontrá-la mas tive que fugir sozinha.

— Também passei por momentos difíceis desde que tudo isso começou. — Ele fala baixo. — Mas não consigo imaginar passar por isso sozinho mesmo que por meses.

— Bom, eu sobrevivi. — Sorrio de lado. — Tem sorte de ter sua família.

— Tenho. — Ele sorri rapidamente. — Shane é pai da Judith.

Eu quase arregalo os olhos de surpresa. — O que?

— Bom, não sabemos. Nunca vamos saber. — Ele ri sem humor. — Meu pai estava em coma quando o apocalipse começou e pensamos que estava morto. Nos encontrou tempos depois. Nesse meio período ele e minha mãe tiveram um caso.

— Que merda. — Falo sem encontrar outros comentários sobre isso. — É bizarro.

— Eles terem tido um caso?

— E o fato de que talvez tenhamos uma irmã em comum. — Rio um pouco.

— É. — Ele sorri. — Mas não temos certeza.

— Mesmo assim.

Ficamos em silêncio por alguns segundos mas eu volto a falar.

— Porque... porque me ignorou aquele dia na casa do Ron? — mordo o interior da boca depois de mudar de assunto.

Ele parece surpreso com minha pergunta e ri fraco.

— Não te ignorei, na verdade. — Franzo o cenho.

— Parecia constrangido por eu estar lá, como se não quisesse que eu falasse com seus colegas.

— Não, não! — Ele fala rápido. — Bom, estava um pouco constrangido mas... Estava prestando atenção no que você falava.

𝙋𝘼𝙉𝘿𝙀𝙈𝙄𝘾 // 𝘾𝙖𝙧𝙡 𝙂𝙧𝙞𝙢𝙚𝙨Onde as histórias ganham vida. Descobre agora