Capitulo 22 - Lexy

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Sim, esse capítulo é sobre mim. Vai ser um desabafo de uma parte da minha vida, um relato útil e inútil ao mesmo tempo, porque o que vai mudar? Desabafos são desabafos, apenas palavras cheias de sentimentos jogados ao vento, com um peso enorme comparado a uma bigorna. É, eu sei... São desabafos.

Minha vida teve sua parte trágica por causa dos meninos, a perda dos pais e os traumas que me travaram por toda a infância e adolescência, mas também teve seu lado bom. Meus pais, que um dia eu chamei de tutores, me acolheram em uma casa de adoção dentre muitas outras crianças, eu perdi meus pais muito cedo, eu tinha uns 4 anos, mas ficou marcada essa lembrança na minha alma e no meu cotidiano que virou um inferno, passei uma semana sem tomar banho porque sempre que eu chegava perto de um chuveiro ou algo que tivesse água, eu surtava e não parava de chorar nunca mais.

Também nunca tive muita sorte com meninos, garotos, moleques, seja lá como eles se nominam, mas nunca tive muita sorte... Ou não rolava química ou não rolava nada, tinha um dedo meio podre e só escolhia os encrencas, me arrependi e me iludi muito, mas mesmo com todos os erros eu aprendi muita coisa, eu amadureci, aprendi a dar valor a mim mesma e não aceitar menos do que eu mereço, porque sou uma mulher foda! E tenho muito orgulho de mim mesma, de tudo que construí ao longo da minha vida, que pasmem, está no começo... Tenho 25 anos, e já evolui muito, agora quero só me estabilizar emocionalmente novamente, porque fisicamente, já aceitei que não tenho mais uma perna!

Passei um tempo tentando entender o Anthon, o filha da puta como a Loren costumava dizer, mas sabia que ele não havia conserto. Depois tentei entender o Jack, mas acho que ele também não tem conserto, e duvido que eu consiga ajudá-lo em alguma parte da vida, ele tem a cabeça zoada por causa da Guerra. E eu já tinha muitos problemas que ele não precisava se envolver, não precisava mesmo.

Sei que Loren se afastou de mim para que eu passasse mais tempo com o Jack, mas sabe-se lá porque ele se distanciou de mim e dos amigos, não corri atrás dele porque tinha que travar as minhas próprias batalhas, mas minha intuição apitava que alguma coisa estava errada. Me aproximei muito do Anthony, viramos bons amigos e compartilhamos vários assuntos em comum, principalmente as guerras internas. Ele me ajudou muito na recuperação, não me deixou me abalar nos dias do pós operatório.

Os dias não estão sendo fáceis, confesso, mas também não é impossível. O tempo está passando e meu corpo estava se recuperando do melhor jeito que todos podiam imaginar. As vezes eu choro, bastante, penso que as cirurgias poderiam nunca existir e eu ter continuado com as minhas duas pernas intactas, mas o universo estava tentando dizer alguma coisa, e ainda não consegui decidir se é uma coisa boa ou não. As vezes não quero sair da cama, o Buddy está sempre comigo, me fazendo companhia e latindo quando eu precisava de alguma coisa, ele com certeza é meu anjo da guarda!

Uma coisa que foi mais do que concretizada pra mim, foi que meus pais realmente me amam e fazem de tudo por mim, querem saber como eu estou a cada minuto se deixar, sempre deixam a Loren dormir comigo na cama, junto com o Buddy é claro, eles nunca a proibiram de entrar aqui em casa, sabem que ela é importante para mim. Eu sempre fui de poucos amigos, era muito difícil eu me abrir com as pessoas, sempre fui mais na minha, viajava sempre quando escutava as músicas que conversavam com o meu humor e geralmente ia bem longe. Meus pais até tinham medo de que eu não tivesse nenhuma interação com outras crianças da minha idade, na minha época de adolescente, por exemplo,  eu era bem social, até demais, me metia em várias confusões e brigas, separando os meninos que caíam na mão por causa de mina rodada. Ia para a sala do diretor diversas vezes no dia, meus pais já nem ligavam muito, se acostumaram com os meus maus hábitos, só no começo eles me davam bronca.

(...)

Três semanas se passaram e eu quase não sentia dor, estávamos em um fim do mês chuvoso, então passava a maior parte do tempo deitada na cama e revezando para a sala de Tv. Eu comi de tudo, arroz doce, pudim de leite, macarrão, pinhão, batata frita e até coxinha... E quando a Loren chegou, me encontrou sentada no sofá, enrolada na coberta, assistindo filme e tomando sorvete direto do pote.

- Oi e aí amiga? Como você tá? - perguntei quando ela sentou do meu lado, tirando o tênis e puxando uma parte da coberta para ela.

- Saudades amiga, já tá sem dor? Teu corpo deve estar relutante em ficar parada... - ela deu uma risadinha junto comigo e depois me abraçou. Meus pais viram que ela havia chego e avisaram que iam ao supermercado, perguntaram se queríamos alguma coisa e falaram que iam comprar salgadinhos e doces! São uns amores mesmo. - Me encontrei com o Anthony, ele está bem e nos divertimos muito, conheci a família dele também que disse que sou uma garota linda...

- Awwwnn... Vocês fazem um casal lindo amiga... - estava feliz por ela, ele era um bom partido. Ficamos conversando sobre ele por mais alguns minutos e ela me perguntou sobre o Jack - Ah amiga, não sei se vai rolar algo mais sério, ele não está muito bem, Anthony disse que ele iria voltar pro Iraque porque não estava muito contente de estar aqui, na vida normal, sabe?! É meio louco isso, mas o Jack não conversou nada sobre isso comigo, fiquei sabendo tudo pelo Anthony e confesso que me chateei um pouco. Não sei como vocês o encontraram para avisar da minha cirurgia...

- Ain amiga, é foda isso... Quem conseguiu encontrar o Jack foi o Anthony, que foi na casa dele de Uber e ficou rodando até ele aparecer... Foi um parto até ele entender o que estava rolando e quando chegaram no hospital você já estava internada esperando a cirurgia... Acho que vocês deviam conversar, e terá todo o meu apoio!

Meus pais não demoraram muito e já voltaram, prepararam uma janta maravilhosa, nós comemos e a Loren me ajudou a chegar até meu quarto. Buddy foi com a gente, com o rabo abanando e deitou em sua cama fofa que estava perto da minha. Mexi um pouco no celular e dormimos. Amanhã será um dia melhor, cheio de coisas para fazer, uma delas conversar com o Jack.

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