Cold, Cold feeling

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"Blues é fácil de tocar, mas difícil de sentir" - Jimi Hendrix

Hoje, ao escutar essa música maravilhosa, consegui sentir tanto que transbordou em palavras quando comecei a escrever! Recomendo escutar a música enquanto lê. No mais, espero que seja tão gostoso para vocês lerem, como foi para mim escrever ❤ 

Um lemon nada detalhado (aliás, top!tae) e menções à homofobia, e é isto 

França, 1989.

Na opinião de Taehyung, quartas eram o pior dia da semana. Aquela quarta em especial estava sendo insuportável. Era o início de um inverno rigoroso; o tempo estava uma bagunça, gritando e esperneando com a revolução industrial e o aumento de gases liberados na atmosfera. As chuvas eram inconstantes, por isso ele raramente sabia quando ia dar de frente com um temporal, logo, ele não teria como adivinhar que o céu iria chorar (lê-se soluçar) naquela manhã, então ele foi para o trabalho todo ensopado, precisando ouvir os colegas do setor soltando piadinhas durante todo o dia. E quando minutos mais tarde, ele foi à cozinha para tentar esquentar o corpo e tomar um café, descobriu que George da TI tinha quebrado a máquina de fazer expresso.

A partir daí, ele simplesmente soube que seria um daqueles dias.

Taehyung passa o dia contando cada segundo, cada minuto, até poder finalmente ir para casa. Ele se concentra no monte de processos deixados em sua mesa por Martha, sua secretária; ele lê cada linha, cada parágrafo e odeia cada um deles. São acusações de homens batendo em mulheres, homens batendo em homens negros, em gays, em judeus! Taehyung pensa na segunda guerra, pensa no seu avô preso em uma cadeira de rodas sem as duas pernas. Ele pensa em todo o sofrimento, toda a dor vivida e pensa... O que mudou?

Quando alguma coisa vai realmente mudar? Quando é que os homens vão parar de lutar?

Ele não sabe. Acha que talvez nunca ninguém consiga responder, e então ele se odeia por deixar isso lhe afetar tanto, apesar de saber o motivo. De qualquer forma, Taehyung vai resolvendo cada um daqueles processos, cada dia se perdendo mais em si mesmo, em seus ideais. Ele deseja ser mais corajoso, quer jogar isso tudo para o alto, ir à sala de seu chefe e dizer com todas as letras "você é um escroto!"! Quer ir até a sala de descanso agora mesmo e dizer para os imbecis dos colegas que está tudo bem ser gay, que não é um crime. Mas Taehyung ainda têm muito o que viver, muito com quem viver e uma pessoa importante para proteger. Então ele isola tudo isso em um lado de sua cabeça e só espera que um dia tudo seja mais fácil. Espera que a próxima geração não precise sentar em uma cadeira de escritório e ter estes mesmos pensamentos.

Ao longo do dia, ele vai se desgastando mais. Há muitas pessoas conversando o tempo todo, muitas vezes ele se perde nos próprios pensamentos; ele pensa na vida e no seu sentido. Tudo de repente se torna mais embaçado, há uma parte de sua cabeça que dói com força e quando o fim do expediente chega, ele já está exausto. Mas finalmente chega à hora de ir embora. Ele finge um sorriso para o chefe e para os colegas, mas dá um verdadeiro para Martha. Ele também espera que o mundo um dia seja mais bondoso com as mulheres.

Não está mais chovendo quando ele chega à estação do trem, mas o vento ainda é cortante de frio. Ele observa as pessoas dentro do vagão; sorri para uma criança, mas se desculpa com a mãe quando ela lhe dá um olhar desconfiado. Taehyung opta por fechar os olhos então, pensa em vinho, um blues tocando no disco vinil e um beijo.

Ele não consegue evitar o sorriso, e não o desfaz até chegar em seu prédio de três andares. Do corredor, ele já consegue escutar Albert Collins cantando e pode imaginar a cena que vai se desenrolar quando entrar em casa, porque já a viu mil vezes. Ele destrava a porta, deixa a bolsa de couro em cima da mesinha de entrada e então o vê.

Eu, você e blues | taekookWhere stories live. Discover now