A boneca caolha

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Pedro remexeu nas sacolas plásticas de lixo, mas não encontrou nada que pudesse reaproveitar para se alimentar. Guardou apenas uma boneca caolha e maltrapilha - assim como ele próprio - que usaria para decorar sua morada debaixo do viaduto. 

Ao tocar o brinquedo e sentir sua textura, lembrou-se de sua infância e adolescência sofridas, que haviam ficado num passado bem distante. Seus olhos começaram a ficar marejados. 

Recordou-se da surra que apanhara do pai quando este o viu brincando com a boneca de sua irmã. Mas nada se comparava ao dia em que fora expulso de casa com apenas 14 anos. 

Desde então, perambula pelas ruas da capital e conhece cada canto como a palma de sua mão envelhecida. Apesar de tudo, ele se sente leve. Não precisava fingir ser alguém que não era. A fome doía às vezes, mas não era tão profunda quanto a dor que sentira na época em que tinha uma família. 

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