CATORZE

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Segunda-feira. 7 dias para o fim do prazo

*Aurora

Li e reli a receita mais uma vez. Olhei para a mistura que eu havia feito, que deveria parecer um chantilly, mas parecia mais um monte de água branca. Coloquei o vídeo para repetir e torci para dessa vez a textura estar igual a minha, mas, é óbvio, não estava.

-Ai que inferno! INFERNO! – gritei olhando inconformada para o meu creme.

A intenção era fazer uma torta banoffee. Parecia incrivelmente fácil, mas minha casquinha estava molhada demais porque eu havia colocado mais manteiga do que o necessário e agora a merda do creme chantilly parecia tudo, menos um creme chantilly.

Já era quase duas da tarde. Eu havia inventado de fazer aquilo pra comer pelo menos um pedacinho depois do almoço, mas nem mesmo o almoço eu havia conseguido preparar.

Fiquei com tanto ódio que esquentei uma lasanha de carne seca, mesmo Arth e eu tendo prometido um ao outro que só comeríamos aqueles congelados em último caso. Aquele era um último caso: eu estava possessa de ódio!

Queria pelo menos poder mandar uma mensagem para Daniel perguntando se ele poderia me ajudar a pensar porque aquilo estava uma porcaria, mesmo eu fazendo igualzinho ao vídeo. Mas quando me lembrei que não estávamos nos falando e fiquei com mais ódio ainda. Ódio misturado com tristeza, o que era ruim em dobro.

Respirei fundo quando senti o coração apertar, tentando me livrar daquele sufoco. Eu havia me acostumado a companhia de Daniel. Havia aprendido a gostar da sua companhia e era doloroso ignorar todas as suas mensagens, porque eu ainda não sabia como seguir com aquela conversa.

Eu queria ouvir o que ele tinha a me dizer, mas ao mesmo tempo tudo já parecia claro demais. E também ainda era doloroso me lembrar do que eu tinha ouvido. Eu merecia mais do que ser um "eu não sei, porra" quando alguém perguntasse sobre mim. Isso só me fazia acreditar mais na ideia de que o único motivo para aquilo ter acontecido foi a sua tentativa de estar quite com Alice em relação a outra pessoa. Eu não queria acreditar naquilo porque não combinava em nada com todo o restante da história e toda a falta de controle me deixava extremamente frustrada.

Esfreguei o nariz para ele parar de arder com a vontade de chorar. Desisti da torta por um momento e coloquei minha lasanha para esquentar. Peguei uma lata de fanta uva, nada saudável, só pra completar o pacote de porcarias, e quando ia buscar um prato, a campainha tocou.

Uma parte de mim se agitou. Eu sabia que não poderia ser Arth ou Rebeca, ou mesmo minha tia, que, basicamente, eram as únicas que pessoas que me visitavam. Uma parte de mim, que eu senti vergonha e preferi deixar disfarçada, acreditou que poderia ser Daniel.

Esperei um pouco até ir atender. Suspirei, repeti para mim mesma que não era nada demais, e assim que abri, minha surpresa foi enorme ao dar de cara com Nicolas.

Ele estava andando de um lado para o outro no corredor e quando me percebeu, sorriu. Eu não sorri, minha expressão endureceu ainda mais.

-Pelo amor de Deus. – rolei os olhos. Nicolas correu para perto de mim.

-Por favor, fala comigo. Eu preciso muito conversar. A gente precisa muito ter essa conversa, Rora.

Apertei os olhos, sem paciência para ele. Ainda assim aceitei, ia deixa-lo falar o que queria e depois pedir, de novo, que ele nunca mais me procurasse. Dessa vez de uma forma mais clara. Desenhada, talvez, se isso fizesse ele entender finalmente.

-Diz logo o que você quer. – disse sem paciência.

Nicolas estranhou. Acho que ele nunca havia visto aquela minha versão, impaciente e puta, enquanto conversávamos sobre nós dois. Geralmente nas conversas eu era passiva e chorona. Isso o desconsertou levemente e eu vi quando sua confiança se abalou um pouco.

Todos os meus clichês (FINALIZADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora