Capítulo 06: Equipe Completa

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Estávamos atravessando um vale muito bonito, cheio de flores, árvores, um lago principal. Já passava do meio-dia e a fome apertava, parecia que a gente não comia nada há semanas, de tanta fome que sentíamos. Então bolamos um plano: Um de nós ficaria em um determinado ponto arrumando o local para a nossa parada, e os outros iriam procurar comida no meio da mata. Se alguém achasse algo para comer faria um sinal, como pudesse.

Foi o que fizemos. Chiara ficou debaixo de uma cerejeira, enquanto todos, incluindo eu, saímos em busca de comida. Seria muita sorte se, antes, não virásemos comida. Eu fui andando floresta adentro, vi algumas árvores frutíferas pelo caminho, mas as frutas eram venenosas. Nem queira saber como eu descobri isso. Vi uma sombra entre os arbustos, não pensei duas vezes, e usei um raio para abater a minha presa. Em seguida ouvi um grito humano. Quando me aproximei nem acreditei no que vi: um garoto com asas de anjo espatifado no chão. Fiz sinal para meus companheiros usando um raio novamente, e voltei para onde Chiara estava, levando o menino.

Todos ficaram assustados quando me viram chegar com o garoto. Não porque ele estava machucado e desmaiado, mas sim porque pensaram que ele seria nosso almoço. Evidentemente o excesso de sol e calor estava deixando todos malucos.

Deitamos o garoto debaixo da cerejeira, demos água e o deixamos respirar. Chiara usou seus poderes de cura nele e o machucado desapareceu imediatamente. O menino alado acordou e levou um susto assim que viu aquele grupo em cima dele. Desculpei-me pelo machucado que havia causado nele, ele aceitou o pedido de desculpas e se apresentou.

—  Estou procurando quatro pessoas. Acho que não tem como não vê-las, elas tem poderes e passaram pelos arredores. Viram para onde eles foram? - perguntou ele

Ok. Era muita coincidência! Quais eram as chances da pessoa que estávamos procurando também estar nos procurando? Só consegui pensar uma palavra para isso: destino.
Contou-nos o que tinha acontecido com ele e como soube que precisava nos ajudar. Então nos procurou, ele vinha voando quando, de repente, perdeu o controle de seus poderes e caiu novamente. Ele estava tentando descobrir onde estava. Um minuto depois sentiu algo queimar em sua perna. E era só disso que se lembrava até o momento.

Apresentamo-nos, e num instante já éramos grandes amigos. Batemos papo um pouco e comemos algumas frutas silvestres que achamos. A tarde foi passando, a diversão rolava solta por ali: surfamos nas ondas do lago (com uma ajudinha minha), andamos de cavalo (cortesia da Chiara), demos um passeio nas pedras voadoras que o Samuel fez, pulamos na cama elástica de energia que o Yan criou e fizemos uma corrida de obstáculos mágicos, cuja pista quem fez foi o Luis Fernando.

Foram os melhores momentos dos últimos tempos. Poderia dizer que alcançamos um pouquinho de felicidade naquele dia, e, para fechar com chave de ouro, admiramos um pôr do sol incrível.

A imagem de uma garota veio à minha mente, Elena, meu grande amor. Luis Fernando compartilhava do mesmo sentimento, mas era pela princesa Geovanna. Antes de perder seus poderes, e ser mandado para a floresta, ele a conheceu num baile que organizou em sua antiga casa, uma grande mansão. Geovanna era, na opinião dele, a mais bela de todas as damas do evento, em seu majestoso vestido verde e branco, e sapatos incrustados de esmeraldas. Apaixonou-se assim que a viu e, seguindo seu coração, aproximou-se da bela dama e a tirou para dançar.
Enquanto davam giros pelo salão eles conversaram, se conheceram. Não seria exagero dizer que um sentimento forte estava nascendo entre os dois. Ele era o mago mais poderoso daquela parte do reino. Sua magia era derivada da Medalha da Lua. Poucas coisas eram mais poderosas que ele, como o Amuleto lunar do meu tio e o tridente dado ao tritões pelos antigos líderes dia lobisomens, mas isso não importava nem um pouco para a princesa, ela estava gostando do cara que estava à sua frente e não do magnata, dono daquela mansão.

A princesa Geo tinha uma irmã, a princesa Gabi, que, assim com a Geo, era deslumbrante, também muito inteligente. Ela achava que ser só princesa não era o suficiente, queria vencer na vida por mérito próprio, quem sabe abrir uma empresa ou até mesmo ser diplomata e viaja pelo mundo representando o seu reino. Até acho que ela combina com o Samuel, mas depois falamos disso.
A festa durou até tarde, eles dançaram até não poder mais. Quando cansaram, foram até a varanda, lá tinha uma fonte. Fernando pegou uma moeda e a jogou na fonte, desejou que aquela noite jamais terminasse. Geo também jogou uma moeda, mas ela desejou que eles jamais se separassem. Estava tudo perfeito, eles deitaram na grama para admirar as estrelas e a lua. Adivinhavam constelações, viam desenhos nas estrelas. Fernando avistou uma estrela tão brilhante que ela ofuscava todas as outras. Ele deu o nome de Geovanna a ela. A princesa jamais se esqueceria daquela noite, no entanto se esqueceu da hora e teve que sair correndo. Antes de ir embora, ela prometeu mandar uma mensagem em breve.

Na manhã seguinte, ele estava ansioso pela mensagem da princesa, e sentindo-se completamente apaixonado. Como não ser feliz com isso tudo? De repente o celular dele começou a tocar. Era a mensagem da princesa. Ele abriu o Spellzap. Desabou. 

Ela dizia que a noite foi péssima, que nunca participou de uma festa tão horrível quanto aquela. Ela só estava fingindo interesse por causa do poder e da riqueza do jovem mago (o que não fazia sentido nenhum, porque elas eram princesas e ricas), mas na verdade nunca gostou dele, achava-o chato, irritante, e não sei quantas atrocidades mais.

Ele perdeu a cabeça, foi para seu quarto e não saiu de lá por um bom tempo. Não podia acreditar que aquela noite cheia de magia, amor e felicidade tivesse sido uma farsa. Foi aí que ele lembrou, tinha ouvido falar de um rei no fundo do mar que podia realizar desejos. Ele invocou um portal para o reino de Mystic Ocean. Quando chegou lá fez um acordo com Tritanus. O rei disse que ajudaria o mago a se reconciliar com a princesa, mas tinha um preço. A maior parte de sua magia.

Luis Fernando hesitou por um instante, mas o rei era tão convincente, e o seu coração estava tão destruido, que ele aceitou. Assinou o acordo. Eles apertaram as mãos. Fernando conseguia sentir a magia escapando de seu corpo, indo através dos dedos para o corpo de Tritanus. Sem magia o suficiente, não conseguia respirar debaixo d’água. Por sorte ele ainda conseguia conjurar portais, e saiu dali antes que morresse afogado.

O que o mago não sabia era que aquela mensagem era falsa. A princesa Geovana tinha mesmo enviado, mas estava sob um encantamento de Tritanus. Ele havia armado tudo isso para conseguir os poderes de Fernando, esse era seu objetivo desde o começo.


*****

Estávamos exaustos, depois de um dia inteiro de diversão. O sol se pôs e as primeiras estrelas começaram a aparecer. A primeira foi a Estrela Geovana. O mago ficou ainda pior, não queria mais se lembrar do que havia ocorrido. Fez uma barraca e lá ficou. Chiara também parecia abatida, o brilho das estrelas a fazia lembrar-se de muitas coisas, entre elas a mais importante, seu amigo Killian. Não suportava a ideia de ele ser prisioneiro. Queria que ele estivesse lá consigo, para admirar o encanto mágico das estrelas. Era doloroso demais pensar que ele poderia nunca mais voltar. Para não pensar mais nisso, foi dormir.
Só restávamos eu, Samuel e Yan acordados. Sentamo-nos na ponta de uma colina ali perto e conversamos quase a noite inteira. Ficamos imaginando como seriam nossas vidas dali pra frente. Seria incrível se continuássemos juntos, sendo o que fomos até agora, os melhores amigos do mundo. Parece que eles também pensavam assim.

A lua apareceu, cheia, como só ela consegue ser. O meu amuleto brilhou. Tive outra visão. Vi uma caverna, no fundo do lago, ali perto. Nela havia um artefato poderoso. Eu não sabia o que era. As nuvens cobriram parcialmente a lua e eu saí do transe. Eu sabia o que fazer, tinha que investigar isso.

Não falei nada para os meus amigos e saí andando na direção do lago. Eles tentaram me parar, mas não adiantou de nada, algo muito forte me chamava para o fundo das águas. Mergulhei nas águas escuras e misteriosas. Tinha esquecido como era ter uma cauda, fazia muitos dias que eu não nadava.

Agora era só seguir a voz do destino, nada iria me deter.

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⏰ Last updated: May 21, 2020 ⏰

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O Conto de um TritãoWhere stories live. Discover now