10. capítulo dez

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Mesmo sendo em um dos mais importantes autódromos, a corrida em Spa não havia trazido o melhor dos resultados. Depois de muito trabalhar em ambos os carros, nenhum havia conseguido nos entregar o resultado que esperávamos.

Por falhas ridículas nos motores, nossos dois carros tiveram que abandonar o percurso. Primeiramente com Carlos, ainda no início da corrida, despejando toda a esperança da equipe em Lando. O inglês, que depois de quarenta e quatro voltas lutando entre o quinto e quarto lugar, teve que estacionar sua McLaren por, também, falha no motor.

Agora, o sol a pino na pista de Monza, fazia minha pele suar. Diante de um capacete estampado com o nome da equipe francesa, Renault, os pilotos e todas as equipes prestavam homenagens e um minuto de silêncio em luto pela morte do jovem Anthoine Hubert, que após um grave acidente em Spa, teve sua vida interrompida.

— Quero você na minha sala, em cinco minutos — Lya disse próximo a minha nuca, me tirando do transe e tensão que o momento havia criado.

Assim que os pilotos e todos os funcionários começaram a se mover em direção a sua respectivas escuderias e boxes, decidi que deveria fazer a mesma coisa. Enquanto caminhava até as instalações da McLaren, senti um meu estômago chacoalhar, sensação que era comum quando o nervosismo me atingia.

— Olha, Stella, serei breve e sincera — Lya iniciou assim que passei pela porta. A estadunidense fechou a porta branca atrás de mim, e apoiou as mãos na grande mesa que nos separava — vi suas fotos com o Lance Stroll, e sinceramente? Não fiquei nada contente.

Senti meu coração parar por um instante e logo voltar a bombear o sangue para todo meu corpo, fazendo minha pressão cair e minhas pernas bambearem. Como eu poderia ser tão irresponsável?

— Não queremos a imagem de um funcionário da McLaren associada a de um piloto rival, ainda mais de uma de nossas engenheiras — suas palavras me atingiram em cheio — sei que sua vida pessoal não diz respeito a mim, mas você deve fazer uma escolha.

Apoiei minhas mãos nas duas poltronas ao meu lado já que meu corpo estava totalmente extasiado com o que acabara de ouvir. Minha cabeça lutava para raciocinar e remoer suas palavras, mas nada fazia sentido, ainda.

— Quero sua resposta até Singapura, ou então, terei que desligá-la da equipe, o que será uma pena, você é ótima e eu teria dor de cabeça para encontrar outra engenheira a sua altura — ela caminhou até a porta, e a abriu, como se pedisse para eu me retirar.

Caminhei até o corredor ainda em êxtase. Havia razão em tudo o que Lya havia me dito. A escuderia tinha uma imagem e deveria zelar por ela, ainda mais depois de lutar tanto por isso. Assim que finalmente cai na real, decidi não perder tempo e dar um fim no que já deveria ter acabado.

Eu estava determinada a procurar o canadense e terminar tudo de forma saudável, afinal, minha carreira sempre foi minha maior preocupação. Mas, antes que eu pudesse pisar nas pistas e seguir esse rumo, uma garota morena, de cabelos curtos, e usando uma das jaquetas da coleção da equipe, apareceu perdida no meio de todos os mecânicos. Nossos olhos se encontraram, e ela pareceu pedir socorro por meio deles.

— Tudo bem? — perguntei amigavelmente, enquanto me aproximava.

— Hum, não muito — ela riu sem graça — sou Hazel, muito prazer — e estendeu a mão, animada.

Apertei sua mão enquanto dava um sorriso, sua animação e seu sotaque australiano haviam transformado minha agonia e tristeza em um pouco de alegria.

— Prazer, sou a Stella, engenheira estrategista — continuei sorrindo, e pude ver seus olhos brilharem após minhas palavras.

— Incrível! Eu pretendo ser engenheira, quem sabe daqui dois anos quando me formar — ela gargalhou fraco e eu a acompanhei — bom, mas, por enquanto, eu aceito meu estágio aqui.

Estagiária. Assim que ouvi sua história, me lembrei do meu primeiro dia como funcionária da equipe inglesa. Dois anos atrás.

Hazel pediu para que eu mostrasse à ela toda a instalação interna do box, e aproveitei para levá-la até o motorhome também.

— Isso é enorme! Vou levar um tempo para acostumar — ela disse passando seus olhos pelas portas que davam aos quartos reservados dos pilotos.

— Estou há dois anos nessa e me perco até hoje, vamos nos ajudar — sorri amigavelmente e dei três batidinhas ritmadas em uma das portas.

Depois de poucos segundos esperando, Lando abriu a porta de seu quarto. O piloto estava quase pronto para a corrida, e seu macacão, como sempre, estava vestido pela metade em seu corpo. Ele soltou o celular em cima dos bancos, e me encarou. Seus olhos não demoraram a visualizar a morena atrás de mim.

— Ah, oi, Stella — ele abriu totalmente a porta, nos dando passagem — E, oi...

— Hazel! — ela disse animada e acanhada ao mesmo tempo, e ofereceu sua mão ao piloto, que apertou sem pensar duas vezes.

— Essa é a nova estagiária, trate ela bem, Lando Norris — semicerrei meus olhos como advertimento, mas logo dei uma risada ao piloto.

— Com certeza — ele sorriu sem graça e, finalmente, soltou a mão dela. 

Uma pontada de ciúmes invadiu meu corpo, e eu me culpei logo em seguida. Como poderia ser tão egoísta? Semanas atrás havia dispensado o piloto a minha frente, e agora estava com ciúmes dele? Desvencilhei-me de meus pensamentos inapropriados, e lembrei que deveria procurar Lance.

— Hum, preciso resolver algumas coisas agora antes que a corrida comece — falei atraindo a atenção dos dois — você pode levá-la de volta ao box? Por favor? — quase implorei a Lando com um bico no rosto, e ele assentiu enquanto ria.

Sai correndo do enorme motorhome laranja. Não deveria ter perdido tanto tempo, mas nada poderia me impedir agora. O sol ainda reluzia fortemente contra minha pele enquanto corria pela pista da garagem. Sem dificuldade e erro, a cor rosa invadiu meus olhos, e percebi que havia, finalmente, chegado ao meu destino.

Subi pelo elevador depois de apresentar minhas credenciais aos seguranças, que me assustaram um pouco. O lugar estava calmo e pouco cheio. O ar condicionado da recepção me fez tremer algumas vezes, e sem pedir informação alguma, sai em busca do quarto do canadense. Depois de algumas voltas pelo local, sem nenhum resultado, vi a última porta do corredor ser aberta, e seu corpo ser revelado.

— Stella? O que você tá fazendo aqui? — Lance quase atropelava suas palavras sussurradas enquanto me puxava pelo braço para dentro de seu quarto.

— Precisamos conversar. Sério. — seus olhos fitavam os meus, em movimentos rápidos.

🖤

roller coaster • lance strollWhere stories live. Discover now