O começo

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   Meu corpo está frio, e está ventando,mas não está forte. Esse lugar... Eu gosto daqui, aqui eu posso ser o quê eu quiser ser e fazer o quê eu bem entender, aqui é diferente, não é como outro qualquer lugar utópico que se possa imaginar. As árvores tem seus troncos alaranjados e suas folhas vermelhas e tudo aqui tem um cheiro doce, os pássaros são belos cantores, e por onde eu possa ir sempre irei encontrar por aí com um gato risonho e fofo que as vezes não resisto em fazer carinho, os cachorros são grandes mas menores que os ursos, e falando em urso, estou montado no Saimon neste momento, descobrindo lugares pelo qual ainda não conheço e talvez eu descubra algo interessante hoje, algo que vale a pena. Eu e Saimon estamos em sintonia, velozes e bem felizes. Eu me sinto tão bem, fecho os olhos, tiro minhas mãos do pelo macio de Saimon e as levando tudo para o alto, como se eu fosse venerar algum deus , e sinto, eu sinto o vento vindo em minha direção com força, por conta da velocidade em que estamos, eu sinto borboletas no meu estômago. Abro os meus olhos e o meu mundo começa a girar, a visão de Saimon está completamente embaçada, e o meu corpo cai com tudo em pedregulhos.
      Quando me levanto com tudo da cama,sinto que estou prestes a desmaiar, caio de joelhos e começo a colocar tudo para fora, sinto mãos fortes me segurando no colo, e escuto ruídos fortes, mas tudo parece doer, eu não entendo..

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Escuto vozes me chamando, abro os meus olhos aos poucos e vejo minha mãe sentada na cama segurando o meu braço e fazendo carinho em minha mão.

Minha mãe se chama Susy, e ela é bem protetora e carinhosa, e sempre arranja um jeito de se ocupar em casa nesse período em que estás de férias do trabalho, ela é do tipo:

" Ei, Willy vem cá não faça isso, você é uma criança ainda, é perigoso."

"Ei Willy, você não pode sair essa hora é tão perigoso, você pode ser assaltado."

Não que certas coisas não fossem perigosas, mas ela meio que exagera um pouquinho as vezes...

Não entendo porque ela está aqui olhando para mim, com aquele olhar de carinho e preocupação.
Vejo meu pai passar pela porta apressado e trazendo um remédio branco e pequenino, que minha mãe pega e me olha novamente.

- Querido, você teve um pesadelo, e ficou chamando pelo Saimon de novo... Tem certeza que você não quer voltar com as consultas?

- Não mãe, eu não quero, por favor... ( Minha voz falha).

- Pelo menos tome este remédio por favor queridinho.

Ela vem em direção a mim, segurando aquela pequena esfera branca, completamente cheia de ingredientes que eu desconheço e sinceramente eu gostaria de não poder tomar isto... Todas as vezes em que acordo "assim" ela me convence a tomar este remédio, eu não entendo direito o que ele é e para que serve, apenas entendo que ele serve para acalmar e me deixa tranquilo.

Me levanto, e ela me entrega o remédio que engulo ao pegar um copo de água que estava em meu quarto.

Não consigo evitar as vezes em que sinto o gosto, horrível, horrível.

Sensação de que tudo dentro de mim está ficando verde e azedo... Não irei entrar em detalhes...

Meu pai tinha saído logo, logo do quarto quando tinha entregado o remédio, ele teve que sair para trabalhar, mas eu vi no rosto dele a preocupação...

Desde os meus 5 anos de idade venho tendo sonhos incríveis, do tipo que qualquer acontecimento é possível, e o melhor de tudo, é um sonho lúcido, tenho total controle, e sempre quando estou dormindo entro neste mundo onde encontro com o Saimon que é o meu urso e melhor amigo. Você deve estar pensando " porra, você inventou esse mundo e ele nem existe", devo ter inventado mesmo... Mas, será mesmo que ele não existe? Os seres humanos criam e inventam coisas o tempo todo, e tudo vem de sua imaginação, então, qual a explicação para um sonho ser tão repetitivo?

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Já estava pronto para sair, como de costume já havia pegado meu skate e minha blusa de frio, azul com mangas vermelhas e calçado meu all star.
Nesta manhã estava fria e úmida, a visão do céu estava completamente nublada, mas dava para vê um pouco do sol.

O vento começou a tocar a minha face, enquanto ia cada vez mais rápido, descendo a ponta do pé, e dando impulso, e mais uma vez...
Passei na casa do Nick, porque a maioria das vezes íamos para o colégio juntos, ele faz parte do mesmo time de basquete e estudou comigo na oitava série. Uma de suas especialidades é ser bastante confuso e complicado, nem sempre eu mesmo o entendo.

Bati na porta e esperei.

- Annn e aí. (Nick estava com olheiras e parecia estar bem cansado)

- Que cara é essa, não dormiu não?

- Annn dormi um pouquinho... ( Nick responde com uma voz rouca de quem acabou de acordar de uma péssima noite)

- Você está bem, cara?

- Estou...( Responde com uma voz meio embaraçosa)

Acho graça situações assim, quando Nick passa a noite jogando, as manhãs ele vira uma múmia.

Nick estava segurando seu skate com o seu braço esquerdo e colocou ele no chão e se posicionou para da partida.

- aannn Willy, que horas são?

Não entendi direito o pra que ele queria saber as horas justo naquele exato momento... Estranho.

- São 8:20, por que?

-  É que tenho que comprar um presente para a Lenna , e parece que a loja ainda não abriu...

- Cara, por que não fez isso antes? Estava sem grana?

- Não é o dinheiro, é que eu tinha me esquecido do nosso aniversário de namoro, eu virei a noite conversando com ela e fui lembrar ontem que hoje seria o nosso aniversário, e ainda disse que tinha comprado um presente.

Não queria dizer algo que ferisse ele, mas sinceramente penso que mentir não vai acrescentar em nada nisto, e eu não sei o que farei se a Lenna vier me perguntar qual é o presente, não posso mentir para ela.

- Willy não precisa se preocupar, vai dá tudo certo.

Eu não tinha percebido que estava o olhando com uma expressão de " Ei cara, vai dar uma grande merda, e você sabe disso." Então desfiz isto no exato momento.

- Melhor irmos então, né?

Ele balançou a cabeça positivamente, e demos impulso em nossos pés enquanto a neblina ia sumindo, dando espaço para cores únicas no céu.

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Em todo o caminho, nenhuma loja que serviria para vender algum presente para Lenna estava aberta.

- Nick, que tal criar algo para ela? Já que não encontramos nada pelo caminho, quando chegassemos  lá, poderíamos usar o tempo do café da manhã, as aulas em que ela não estuda contigo, e um pouco do horário do almoço para criar algum presente.

Nick me olha com uma expressão confusa e pensativa.

- Ann, olha Willy não precisa me ajudar, eu me vi...

-Cara, pensa bem, é uma idéia boa, e eu posso lhe ajudar nisto.

- hmmmm eu não sei não Willy, não sei se ela vai gostar do algo que presentearei a ela. ( Nick estava em cima do skate, olhando para baixo pensativo).

Fui até Nick e o olhei nos olhos.

- Precisamos de 6 papéis A4, tinta rosa, laranja e verde claro, e precisamos de cola e 4 fitas brancas e rosas.

- Eu te odeio, você sabe disso né cara?( Nick abre um sorriso animado )

- Eu sei, pode acreditar. ( Tive que sorrir também, Nick é um grande babacão, impossível não rir de alguém assim).

- Beleza, eu tenho as folhas A4, cola e só.

- Podemos conversar com a professora de Artes e pedir emprestado as fitas e as tintas.

- Tão emprestado que ela não vai vê nunca mais.

- Finalmente você disse algo inteligente, seu nômade de quatro patas.

Caímos na gargalhada. Eu avisei que o Nick é babacão.

Perdido no tempoOnde histórias criam vida. Descubra agora