Mergulhou.
A água imóvel e silenciosa, só cortada pelos seus movimentos, era como um calmante natural, um anestésico de sentimentos.
E Sam precisava parar de sentir.
Adorava nadar sozinho, e a piscina da escola nunca estava cheia antes das aulas. Tinha se acostumado a ficar sozinho, afinal.
Sam sentia que só tinha duas pessoas na vida. Só duas pessoas com quem se sentia bem, com quem poderia contar, com quem poderia ser ele mesmo.
Shawn, seu irmão.
E Ethan.
Então ele perdeu Ethan, aos quatorze anos, e o buraco que ele deixou em seu coração nunca mais foi preenchido. E depois, Shawn foi embora para Cambridge.
E Sam ficou sozinho de vez, e a solidão era sua realidade.
Então, ele não poderia dizer que não sabia como era ser sozinho. Seria uma mentira grande demais para ser contada.
Mas não se lembrava de ter passado um dia mais solitário do que o dia anterior.
Era realmente irônico ter se sentido assim, pois passou o domingo inteiro com seus pais. Eles almoçaram juntos, num dos restaurantes que seu pai gostava, e depois passearam na praia, porque sua mãe queria tomar um pouco de sol.
O dia estava mesmo lindo, mas Sam estava imune. Se sentia como um fantasma, sentado na areia da praia, olhando para o braço do Atlântico à sua frente, com o sol brilhante da primavera queimando sua pele e fazendo seus olhos se estreitarem, mas sem a capacidade de aquecê-lo.
Aquela praia era o lugar favorito de Ethan em Greenwich, então como Sam poderia ser feliz lá sem ele? Havia muitas boas lembranças dos dois juntos o assombrando, zombando de sua tristeza.
Queria desesperadamente poder nadar naquele momento, e se sentiu ofendido ao voltar para a casa, no meio da tarde, e ver a lona horrível e cheia de folhas de árvores mortas por cima da piscina, privando-o do seu tom de azul favorito.
Quer dizer, do seu segundo tom de azul favorito.
— Precisamos mandar limpar essa piscina. — Pediu aos pais, sem emoção, e eles prometeram ligar para a empresa de manutenção no dia seguinte.
E cada um foi para seu canto. Seus pais subiram, Sam desceu.
Ele costumava falar, para quem quisesse saber - na verdade, quase ninguém - que ele tinha mudado para o porão porque seu quarto antigo não comportava a estrutura do PC gamer. Mas ele se mudou, de verdade, porque não suportava passar todos os dias pelo quarto vazio de Shawn a caminho do seu. O quarto vazio e sem vida era um lembrete do quanto ele era sozinho, e Sam não gostava de ficar pensando nisso. Evitava ao máximo deixar os pensamentos ruins virem à tona, porque ele não conseguia controlar isso depois.
Quando chegou na escola, na manhã de segunda, Sam finalmente ligou o celular, que tinha ficado desligado desde a noite de sábado. Desde que Ethan tinha sido um idiota. Recebeu um milhão de notificações, mas não olhou nenhuma, jogando o aparelho dentro da mochila e enfiando ela no armário do vestiário. Não iria olhar nada antes de nadar. Talvez apagasse tudo sem nem olhar. Que bem faria olhar? Se Ethan quisesse dizer algo a ele, que dissesse em sua cara, e não pelo celular, como um covarde.
Sam estava até preparado para ficar outros três anos e meio sem falar com ele. Quem poderia saber? Ethan já tinha feito isso uma vez, e o buraco do coração de Sam ainda não estava totalmente preenchido de novo, e uma grande parte sua - muito maior do que ele gostaria que fosse - estava só esperando Ethan fazer isso de novo. Ir embora, deixá-lo, partir seu coração... Só de pensar nisso, seu peito já doía. Só de lembrar da dor que era não ter Ethan em sua vida, já se sentia sufocado.
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Matemática
RomanceDesde pequenos, Samuel e Ethan eram elementos da mesma equação. Quando somados, os resultados eram as mais incríveis aventuras e descobertas. Sam nunca imaginou que uma unidade como a deles poderia ser dividida, mas isso aconteceu. Depois de um elem...