Do céu ao chão

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   O céu estava azul, nuvens brancas como neve o pontilhavam cá e lá. O sol estava quente, mas confortável, refletindo no mar e nas escamas negras de Banguela, dando-lhe um estranho brilho azulado.

Soluço não sabia se ficava mais interessado na vista ou no dragão.

"Muito bem amigão, a gente vai devagar e com calma, falou?" Banguela olhou para cima, soltando um som grave do fundo de sua garganta. Soluço afagou seu pescoço como resposta. Ele desviou os olhos para o folheto de manobras que tinha desenvolvido para aquela ocasião. "Vamos lá... Posição 3, não 4!"

Ele virou a barbatana, abrindo-a na posição que tinha desenhado. E sorriu ao ver como Banguela olhou para a barbatana com interesse antes de trinar e se mover levemente para os lados, aparentemente tão animado quanto o humano.

Embora Soluço também se sentisse um pouco nervoso.

Era a hora. A primeira vez em que estavam voando pra valer. Depois de todos aqueles treinos, depois de tanto tempo preso ao chão. Era quase como em seus sonhos, com o mar e a ilha lá em baixo e o céu acima. Mas dessa vez era real.

Eles viraram de lado e Soluço checou para ver se tudo estava certo. A barbatana virava com o vento, mas permanecia no lugar.

Soluço respirou fundo.

"Muito bem... Tá na hora, tá na hora..." Ele se segurou com força na sela e os dois se lançaram para baixo. O vento passou com eles, o seu som alto se misturando com um rugido alto de Banguela enquanto o mar e as pedras ficavam cada vez mais próximas.

Banguela bateu as asas enquanto Soluço o ajudava a manter a posição e o equilíbrio. Com o vento forte e a barbatana virando de lado, era um pouco mais difícil, mas eles conseguiam. A asa de Banguela tocou a água e eles continuaram em direção às colunas de pedras que se erguiam acima deles. O vento passava diferente por entre elas e se a barbatana não permanecesse no lugar durante o voou, queria dizer que Soluço devia voltar à forja e a seus cadernos.

Mas eles passaram por baixo da pedra, assustando as gaivotas que estavam por lá, e a barbatana resistiu.

"É! Funcionou!" Soluço sorriu, examinando a sua criação uma última vez, só para ter certeza. Ele tinha conseguido, ela ficava no lugar assim como devia, movendo-se apenas quando eles mudavam o curso. Era um sucesso realmente.

Banguela solto um guincho quando Soluço moveu o pé mais uma vez, virando a barbatana para o lado. Mas essa acabou pegando um vento errado, lançando-os em direção à uma rocha.

O dragão reclamou alto e Soluço sentiu seu corpo ser lançado para frente. Por sorte seu elástico de segurança o manteve no lugar e Banguela voou para o lado.

"Desculpa!" Soluço exclamou acima do som do vento e do mar, enquanto Banguela balançava a cabeça. O dragão guinchou mais uma vez, do mesmo jeito que antes. Soluço rapidamente pisou para virar a barbatana ao ver outra rocha se aproximando, mas não foi cedo o bastante. Eles atingiram a outra pedra, lançando poeira e pequenos fragmentos para longe. "Foi mal! Foi mal!"

Banguela soltou um som estranho e quando Soluço notou, tinha sido atingido com força no lado do rosto por uma das barbatanas-orelhas.

"Tá, tá bom! Já entendi..." Soluço reclamou, sabendo que o dragão tinha bom motivo para o repreender. Ele tinha que prestar atenção, tinha que se focar. Ele examinou o papel novamente. "Posição 4, não, não... 3!"

E era como se Banguela já soubesse o que aquilo queria dizer. Ele bateu as asas com força virando o corpo para cima antes mesmo que o garoto pudesse guia-lo. A posição da barbatana permitindo que ele subisse o céu como se estivesse escalando uma montanha.

Como Treinar o Seu Dragão - To the SkyWhere stories live. Discover now