A marca

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Anne
Hoje, dia 13 de fevereiro de 1899, falta exatamente dois dias para o meu aniversário de 16 anos, me sinto gloriosa, extasiada, mas ao mesmo tempo nervosa, seria agora a hora de receber minha marca, minha tão desejada e esperada marca, sempre criei expectativas sobre ela mas ao mesmo tempo receio de apenas não aparecer. Já ouvi histórias de meninas que nunca a tiveram e passaram a vida sozinhas sem um amor. Existe coisa pior?
Apesar de me considerar capitã de minha alma sinto que gostaria de ter um companheiro de vida, tenho medo da solidão pois normalmente com ela eu acabo indo instantaneamente para as profundezas do desespero. Faz anos que me falam sobre a certeza de que eu não terei uma marca, então já estou preparada para o tal fato, até criei um lema para me auto-consolar "me casarei apenas com as minhas aventuras". Tenho de admitir que tenho esperança, mas também já compreendi que a vida é um cemitério de esperanças enterradas...

Após minha reflexão me vejo caminhando pela floresta trajando um vestido azul (culpa de Diana que me influenciou), começo a correr pois percebo que estou um pouco atrasada para o segundo horário. Sim, eu estou chegando no segundo horário, Marilla me matará se souber que passei a primeira aula inteira de devaneios olhando para uma árvore coberta de neve.

Umas das desvantagens de chegar atrasada é ser centro das atenções, eu tenho MUITA vergonha, as pessoas já olham pra mim sem motivo apenas por ser diferente, imagina agora... Uma das pessoas que mais olha pra mim é Gilbert Blythe, acredito que ele tenha pesadelos comigo, sei lá, ele deve ter medo de eu o enfeitiçar como uma bruxa do fogo (Josie espalhou esse boato sobre mim, pelo jeito ele não esqueceu), realmente essa deve ser a única explicação por me encarar tanto.

*barulho de porta sendo aberta*

- Shirley? O que acha de chegar esse horário?- Fala senhor Phillips com olhar de raiva

- Desculpe professor, isso não vai mais se repetir...

- Sente-se agora no seu lugar, rápido!!!

Caminho até minha carteira ao lado de Diana e sinto os olhos de avelã me rondando (como se fosse novidade).

- Anne, por que chegou tão tarde?- Fala Diana me olhando com uma cara interrogativa

- Acabei me perdendo na floresta...

- Não me diga que estava pensado novamente na sua marca?- Falava me deixando rendida

*olho com cara de vergonha*

- Só você mesmo Anne Shirley Cuthbert- Fala Diana rindo

- Não ria, isso é muito sério, meu futuro está em jogo!!

- Tudo bem Anne, eu entendo, mas o nome que aparecer no seu pulso vai ser de uma pessoa que você ama ou que ainda vai amar... Relaxa

- O problema não é isso...

- Então qual é?

- E se não aparecer?

- Não acredito que você está assim por causa das invenções da Josie...- Fala Diana bufando

- Eu sei que pode ser paranóia... mas se...

- PARA ANNE, que coisa em, lógico que você tem uma alma gêmea.

- Como pode ter tanta certeza, Diana?

- E como você pode ser tão cega?- Diana falou olhando para a mesa de Gilbert (que parecia bastante concentrado na nossa conversa e vira a cara envergonhado)

- Eu espero ter entendido errado- Falei revirando os olhos.

- Foi exatamente o que você entendeu.

- Está DELIRANDO- Falo muito alto atraindo a atenção de boa parte da classe

- Essa é a sua especialidade, não a minha!- Fala Diana se sentido a própria sensatez em pessoa

- Silêncio as duas!!- Falou o professor

Depois da nossa mini discursão passamos o recreio com Ruby, Jane e Tillie, enquanto Josie se juntou a Prissy e as outras meninas mais velhas.

Almas gêmeas- ShirbertDonde viven las historias. Descúbrelo ahora