Capítulo Único

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Monstro!

É o que dizem, entre gritos, e isso dói. Gritos de um pavor quase animalesco. É o que eu sou para eles, e sempre serei: Um monstro. Para Victor Frankenstein – o homem que me deu a vida, meu pai e criador! –, sou uma aberração da ciência e uma afronta à própria natureza. Uma criatura que não deveria existir. Que não deveria viver. O fogo toca minha pele, mas não dói. Não é uma novidade pra mim: desde que nasci – se é que posso utilizar esse termo – sou incapaz de sentir dor. No entanto, sinto dor na alma, e este é o motivo pelo qual eu sei que tenho uma: dói. Arriscaria dizer até que arde como o fogo, embora eu não possa experimentá-lo. E é engraçado que nem mesmo sei se essa alma é minha. Será possível que as partes que compõem o meu corpo carreguem fragmentos de almas que há muito tempo se foram?

Me chamam de monstro e eu me pergunto: Eu sou uma pessoa?

Para responder essa pergunta, preciso responder outra: O que é ser uma pessoa? Eu sinto o vento bater nas minhas mãos, como todo mundo. Eu sinto o cheiro das flores. Eu ouço e danço as mais belas canções. Eu vejo quadros e sei como apreciar uma arte. Eu posso ler. Posso conversar os mais diversos assuntos. Aquele a quem chamam de monstro, tem sentimentos. É capaz de sentir dor, raiva, tristeza, alegria, amor. E não é isso que significa ser humano?

Quero gritar para eles e dizer que sou uma pessoa. Quero gritar que a rejeição dói. Estar sozinho dói, mas os autointitulados humanos ao meu redor, tomados pelo medo e pelo ódio, são incapazes de dialogar. Incapazes de me amar. Me chamam de monstro, por ser diferente. Mas, agora que estou só numa ilha, entendo. Eu sou muito mais humano do que os monstros cruéis que habitam nas cidades: eu sou capaz de amar aqueles que são diferentes de mim.  

Eu Sou Uma PessoaWhere stories live. Discover now