Capítulo 3

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O pequeno achado de Harvey acabara se mostrando um tesouro sem tamanho

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O pequeno achado de Harvey acabara se mostrando um tesouro sem tamanho. Foi só no dia seguinte ao baile, quando Simms lhe devolveu o caderno durante o café da manhã, que ele se lembrou de que o havia guardado no bolso da casaca. Não mais conseguiu procurar pelo dono daquelas notas depois de socorrer Warthfall das garras da Duquesa de Norfolk.

Guardou o caderno na pasta que levaria para o escritório porque, já atrasado, não teria outro lugar para colocá-lo. Também não teria encontrado tempo para começar a lê-lo se sua manhã não tivesse se resumido em uma pequena sucessão de fracassos — iniciada com seu atraso, perpassada por um pé do sapato e a barra da calça manchados por ter pisado em uma traiçoeira poça de lama e concluída por não conseguir resolver com um acordo simples uma contenda de vizinhos que lhe pagaria mal pelo tempo perdido e da qual fugiria, se qualquer dinheiro não fosse importante para seu parco orçamento.

Abriu o caderno por tédio, juntou os primeiros garranchos em palavras pelo mesmo motivo, mas foi fisgado pelo texto logo no primeiro parágrafo. Seja lá quem fosse o autor, havia feito um excelente resumo sobre o desespero da Duquesa de Norfolk em casar as filhas, a completa falta de preocupação do Duque com aquele assunto e a notória ausência de habilidades sociais ou casamenteiras das duas pobres herdeiras. Ao invés de chacotear-lhes a má sorte, o texto se apiedava daquelas duas almas. Não que as filhas de um duque sejam, via de regra, criaturas dignas de pena. Não com tantas vantagens por nascerem em um lar abastado. A firme convicção do autor era que, na próxima temporada, aquelas duas patinhas feias seriam desposadas como belos cisnes. A pena era por elas acharem que os grilhões de um casamento fariam de suas existências algo mais pleno.

Harvey teria, de bom grado, perdido a hora do almoço lendo o terceiro texto daquele caderninho, se não fosse a interferência de James, que, com uma expressão de poucos amigos, tamborilava os dedos manchados de tinta sobre os documentos da mesa de trabalho do advogado. Não que James Camden fosse um mau amigo ou uma criatura excessivamente cheia de melindres, mas como editor de um jornal que buscava sucesso, não tinha muito tempo a perder com os pequenos atrasos de um advogado.

— Se você acha que deixei de almoçar com minha esposa para ver você resolver um de seus casos, está redondamente enganado. Trate de se pôr de pé e me acompanhar.

— Quem deixou você entrar aqui? Esta manhã já foi suficientemente cansativa para que eu tenha que lidar com alguém bagunçando meus papéis.

Nenhum papel havia sido retirado de ordem, mas James fez questão de deixar o pequeno monte em uma perfeita simetria, enquanto sorria para o amigo, bastante satisfeito em ver que ele de fato havia se levantado e já colocava a casaca sobre os ombros.

— Você não tem uma secretária que me impeça de ver que está ocupado em fazer nada. Inclusive, seria coerente da sua parte manter a porta trancada.

Nenhuma secretária, nenhum ajudante, nenhum aprendiz de quem pudesse se aproveitar um pouco com alguma sobrecarga de trabalho. Tivera que dispensar a Sra. Headrow, a senhorinha que o ajudava a manter tudo em ordem, depois que as dívidas do irmão começaram a bater em sua porta. Não teria coragem de demiti-la se ela não tivesse encontrado outra ocupação, mas James o ajudara naquilo, contratando a mulher como uma espécie de faz-tudo no Gazeta Social.

Os Cadernos da Filha do Barão DEGUSTAÇÃOWhere stories live. Discover now