Capítulo um - Degustação

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                      Sete meses antes


Angélica estava limpando a cozinha e passava o pano na bancada, retirando a louça suja e colocando na pia do local onde trabalhava de diarista, inconformada com sua situação atual.

— Meu coração ainda dói por aquele Romeu desgraçado ter me conquistado, por ter sido boba de me apaixonar e ele simplesmente fugir com outra Julieta, aquele canalha! — Soltava a cada passada de pano na bancada, sentindo raiva só de lembrar do que o ex-marido havia feito

Já lavando os pratos percebeu a água fria e não se importou, mesmo com o tempo começando a esfriar.

— Não, eu realmente amo Romeu e Julieta, mas esse casal acabou comigo. O maior problema é que eu ouvia e lia sobre amor e achava que tinha encontrado o meu felizes para sempre, até engravidar e nossas noites de amor ardente acabarem, assim como as conversas bobas sobre nada, e entrarmos numa rotina onde eu me via presa e não conseguia sair. — Pensou ainda nas lembranças boas de que gostava, porém não demorou a lembrar da atual situação que ela e sua família passavam por causa do erro do ex, jogando essas memorias para o mais fundo que conseguia de sua cabeça.

Estava secando tudo e pondo nos devidos lugares, enquanto falava consigo, injuriada por sua situação. Ela ouviu a porta abrir e esperou quem se revelaria.

A senhorita Isabel morava com sua esposa Lúcia e estavam tentando ter um bebê, mas ainda estavam na fase dos tratamentos de fertilidade.

As pulseiras de Lúcia foram ouvidas por Angélica, que estava acostumada com o barulho dos objetos que viviam na mulher.

— Angélica, falando com as plantas novamente? — Sorriu e seus olhos azuis brilharam com a luz que emanava descontração.

— Ah dona Lúcia, só estava pensando alto, desculpe. — Suas bochechas coraram, sem graça por a mulher ter ouvido.

Lúcia colocou as chaves na bancada e sentou na cadeira, ficando de frente para as costas de Angélica.

— Sabe que seu ex-marido é um babaca né? Você não merece isso menina. Vá viver sua vida, ser feliz, sempre te digo isso. — Havia um pouco de tristeza em seu olhar, já que Lúcia tinha uma boa condição de vida e coração fraco para pessoas que precisavam de ajuda.

— Se não fosse por Richard ou minha mãe, com certeza estaria no lugar que tanto queria desde que sai da sala de parto e me vi jovem e com um bebê. Queria o esquecimento, que os gritos de Richard parassem e, por não ter apoio da minha família ou um marido presente, afundei cada vez mais. Não acredito mais no amor. — Suspirou e sentiu um nó na garganta. Era uma luta diária que tinha para manter a sanidade e cuidar de sua família, o que a deixou com saudade deles.

— Angélica... Eu não tenho ideia de como é viver assim, mas te digo que sua família vale muito. Um dia ainda terei a minha para sentir o amor que você emana quando lembra deles. Você vai conseguir. — Piscou para Angélica, que tinha virado para vê-la terminar de falar, e se sentiu até egoísta por ter pena de si enquanto tinha outros com problemas à sua volta.

A diarista limpou o fogão e logo em seguida varreu a cozinha. Ouviu a porta novamente e agora deveria ser dona Isabel. Ela era mais reservada que a esposa, porém a tratava bem e era simpática.

— Olá Angélica, como vai? Meu amor... — Angélica virou a tempo de ver Isabel dando um beijo na testa de Lúcia. Seria errado dizer que ficou com um pouco de inveja daquele carinho e amor? Balançou a cabeça, sorriu e respondeu de volta.

AmnésiaOnde histórias criam vida. Descubra agora