Um projecto conseguido!

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No próximo dia 4 de fevereiro, Angola comemora mais um feriado do «inicio da luta armada pela sua libertação». Mas não é de política que vos quero falar. É de cooperação. O projeto da Empresa Provincial das Aguas e Saneamento do Uíge (EASU), começou sensivelmente em maio de 2014. Com assistência técnica portuguesa, o sonho da província angolana do Uíge ter uma empresa neste setor acabou por se tornar uma realidade, tendo sido designada como a melhor empresa do setor neste pais amigo. E o objetivo e o mérito foi conseguido pela equipa técnica, mas essencialmente a gestão determinada de uma mulher: Emilia Fernandes!

É o terceiro artigo que escrevo na Capeia arraiana sobre o Uíge. Terra interior de Angola, foi dos locais onde melhor me senti, considerando os 22 países por onde passei e centenas de cidades que já conheci. O café puro do Uíge apaixonou-me de tal maneira e ainda tenho uma pequena reserva que sirvo em ocasiões especiais.

Mas a minha ligação ao Uíge foi muito mais ampla e enriquecedora. Tenho leitores assíduos destes artigos na Capeia Arraiana, de alguns dos meus livros e de um projeto de cooperação que durou sensivelmente 4 anos onde técnicos portugueses visitaram o Uíge e técnicos angolanos visitaram a Guarda e Torres Vedras. Esse projeto foi o arranque da Empresa de Aguas e Saneamento do Uíge (EASU).

Acima de tudo promoveram-se trocas de experiencias nas diversas vertentes do sector das aguas, como as áreas de operação, manutenção, gestão de ativos, comercial e administrativa e financeira. Ainda se conseguiu montar um laboratório de controlo de qualidade.

No meu caso pessoal colaborei na formação de técnicos na área de Manutenção, procurando mostrar a realidade dos problemas que, em muitos aspetos, são semelhantes aos da EASU, tornando mais eficaz a formação porque a nossa experiencia de mais anos no setor possibilitou dar-lhes competências que lhes serão uteis quando desempenharem funções em terras angolanas.

Ainda consegui uma visita ao CICS (Centro de Investigação das Ciências da Saúde) da UBI, tendo ficado na minha memoria a surpresa de compatriotas de ambos os lados terem confraternizado com uma alegria que não esquecerão. A visita teve por base mostrar que o estudo da agua não se resume a condutas e reservatórios ou até estações de tratamento, havendo uma área emergente que aborda os contaminantes que podem ser transportados no ambiente, seja pelo ar ou pela agua.

Do meu lado a imagem que retive foi a humildade dos colegas angolanos em querer aprender. A humildade sem dúvida é o melhor comportamento para quem deseja o conhecimento. E foi gratificante para quem ensina sentir vontade dos formandos de entender como se resolviam problemas muito idênticos a situações que também ocorriam na sua empresa.

As visitas efetuadas a Angola e a Portugal, que faziam parte do projeto de assistência técnica, foram marcos que para além das trocas de experiencias deixaram laços de amizade para o futuro. E curiosamente notou-se em ambos os lados uma cumplicidade, ou proximidade, que propiciou o bom relacionamento, talvez a chave de todo este sucesso.

O projeto foi concluído com o mérito e a excelência. As autoridades angolanas sentiram que os objetivos foram alcançados, tendo nomeado a EASU como a melhor empresa do setor, havendo empresas noutras províncias como Luanda, Huambo, Lobito ou Benguela.

O rosto da vitória desta vasta equipa é uma senhora. Nunca desistiu do que acreditava, soube-se apoiar na assistência técnica, promoveu uma política de educação sobre o custo da agua no utilizador, preparando uma equipa de atendimento com uma imagem de profissionalismo e responsabilidade, onde contou com o SMAS de Torres Vedras (um dos outros parceiros deste projeto), conseguindo que a população pagasse e penalizando o infrator.

Este mês de fevereiro sem dúvida que também ficará na historia do Uíge.

Guarda, 1 de fevereiro de 2018

António José Alçada

Uns bons amigos no UígeWhere stories live. Discover now