Sete

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As gravações haviam acabado naquele dia. Se despediam e agradeciam os dois participantes eliminados. Deram uma grande cesta com brindes, bolachas, geléias e outros doces para cada um e viu quando todos saíram do galpão. Os apresentadores se despediram e desejaram uma boa noite, prometendo se verem amanhã.

Se virou e se permitiu pela primeira vez naquele exaustivo dia desmanchar o sorriso e assumir a expressão cansada que perdurava tempo demais em seu rosto. Não imaginou que pudesse ser tão cansativo a vida de uma produtora executiva, tudo bem que não era bem isso que imaginara para a sua vida quando lhe perguntavam o que queria ser quando crescesse. 

"— Uma advogada!" era o que a sua versão mais jovem e enérgica exclamava. Mas seu pai tinha outros planos para si. 

Dono de um grande império televisivo e um temperamento que impedia a execução de qualquer tipo de decisão sem ser a dele, era óbvio o percurso que se seguiria. Ele a queria completamente inserida em seu mundo, queria a fazer grande, mas sabia que ela não tinha o pulso suficiente para a presidência e nem mesmo ela queria. Ela gostava de pessoas, gostava de lidar com problemas e resolvê-los, gostava de criar projetos e principalmente de tirá-los do papel, vê-los criando forma e crescendo, era aquilo que mais gostava do que fazia. 

Não era o que queria. Mas poderia aprender a gostar, pensou. Ninguém nasce gostando de algo, se aprende. Ela aprenderia. E nos anos de sua graduação em rádio e televisão e seus incontáveis cursos e pós-graduações, workshops e convenções ela aprendeu a gostar. 

Mas gostar não é amar. 

Acordar todos os dias e se preparar para mais um dia de correria e reuniões intermináveis depois de anos, estava a esgotando. Quando se sentava no meio da banheira com apenas as pétalas de rosas vermelhas como companhia tentava se lembrar quando tudo mudou. Quando as coisas pararam de fazer sentido? Quando tudo saiu de seu controle?

"— Megan, você sabe que pode conseguir o mundo e eu vou fazer o possível para que conquiste, mas você precisa tomar as rédeas da sua vida.", era o que seu pai sempre repetia e por mais que o amasse com toda a força do seu coração, ela queria muito rir daquela declaração. Ele era a pessoa que mais tinha controle sobre a sua vida e as principais decisões que era ela quem deveria tomar. 

Mas ao invés de erguer a sua voz e se fazer ouvir, a mesma resposta sempre saía de seus lábios. 

"— Eu sei, papai. Vou fazer o meu melhor."

E ela fazia, nunca fez menos do que ser a melhor. Mas estava cansada. Ela precisava se sentir a dona de sua vida de novo. Sentir que realmente poderia conquistar o mundo ou poderia ser não o mundo todo, mas uma pessoa em especial. 

A poucos passos de si estava ele. Maxwell Dutra, o diretor daquele programa e de outros da emissora de televisão de sua família e secretamente sua paixão mais antiga. 

Se apoiou em uma das bancadas e fingiu estar checando qualquer coisa que fosse apenas como álibi para poder o admirar de longe. Gostava de olhá-lo. Gostava da forma que seus olhos percorriam o rosto de feições marcantes e o corpo de físico perfeito. A maneira que seu nariz perfeitamente reto combinava com o desenho de seus lábios e como o azul intenso de seus olhos destava a pele pálida, o modo como suas sobrancelhas pretas se franziam e como o corte de cabelo de qualquer jeito combinava e em nada tirava sua beleza. 

Ele era tão lindo e imensamente inalcansável. 

Completa e irrevogavelmente inalcansável. 

Por mais que se conhecessem há anos, ela nunca conseguiu adentrar a foraleza que ele indiscutívelmente possuía. Uma fortaleza de longos e concretos tijolos camuflados em arrogância e prepotência. Ele era uma pessoa difícil de se lidar, havia dias em que era simplesmente impossível, muitos o detestavam e outros o odiavam profundamente e ela sabia que não podia julgar nenhum deles. Ele era o tipo de pessoa que você ou amava de cara ou o odiava, em geral, a segunda opção era predominante. 

Doce Amor - Olha O Que O Amor Me FazWhere stories live. Discover now