Capítulo III

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Ela estava só. Seus pés, pequenos,

descalços e muito brancos,

cintilavam no espelho negro

do mármore debaixo dela.

O encontro marcado, Edgar Allan Poe

Quantas vezes já tive esse pesadelo? Foram tantas que não consigo mais contar. É sufocante. Eu vejo ela me pedindo ajuda, mas não consigo ajuda-la, estou imóvel olhando enquanto a vida dela é tirada de seu corpo. Seus gritos são horrendos. É aquele tipo de som que uma vez ouvido, jamais será esquecido. Quando seu corpo cai sem vida no chão, as correntes invisíveis que me prendiam me soltam e corro até ela. Envolvo seu corpo com meus braços e a chamo, numa esperança falha de receber resposta, mesmo no fundo já sabendo que não terei. De repente sou jogada numa escuridão, não tem nada lá além disso. Sinto um desespero tomar conta de mim, quero acordar, mas não consigo. Sinto braços me envolverem. O que é isso? É real ou sonho? Já não sei mais. Então de súbito consigo acordar. Sinto as lagrimas rolarem pelas minhas bochechas. Os braços que estão me envolvendo apertam mais ao meu redor. Olho para trás e vejo ele. Kim Taehyung. O que ele está fazendo?

- Ouvi seus gritos, então vim checar se estava bem. - falou ele secando minhas lagrimas com a mão.

- Eu tive um pesadelo. - falei com a voz tremula.

- Eu sei. Você sonhou com aquela garota, não é?

Como ele sabe?

- Elisabeth. O nome dela é Elisabeth. - Parei por um instante, falar sobre isso me deixava com um nó na garganta. - Ela era namorada da minha irmã, mas nunca gostei dela, por causa dela minha irmã entrou no mundo das drogas e teve aquela overdose. Não sei se Elisabeth trocou sua alma pela vida dela porque a amava ou porque se sentiu muito culpada por ter feito isso com ela. Só sei que não consigo me perdoar por ter participado disso...

- Vamos achar um jeito de você superar isso. - falou ele como se carregasse toda calma existente.

Percebi então que ele ainda estava me abraçando. Era reconfortante. Estranhamente eu me sentia protegida, como se o pesadelo não fosse mais acontecer. Mas por que ele estava fazendo isso? sendo tão gentil? Queria perguntar, mas tenho medo de soar ingrata. Melhor deixar esse pensamento de lado.

- Você deveria voltar a dormir. Amanhã o Veteris vai lhe mostrar toda a propriedade e te passar algumas informações e regras.

- Quem é Veteris? - questionei tentando me lembrar se por acaso conhecia essa pessoa. Então lembrei do rapaz que vi logo que acordei no dia anterior. - É aquele rapaz de cabelo comprido?

- Isso mesmo. Ele é o mordomo. Tudo que precisar pode pedir a ele. - disse ele enquanto se levantava, desfazendo o abraço.

- Você pode ficar me abraçando até eu conseguir dormir de novo? - perguntei em um sussurro enquanto segurava o seu braço. Ele me fitou por alguns segundos e então assentiu, voltando a me abraçar.

Ninguém nunca fez isso por mim. Nessas horas era eu e somente eu. A sensação de ter alguém é

tão boa. Meu último pensamento antes de adormecer foi esse. Então cai em sono profundo.

*******************

Algumas sensações não tem como explicar. Você só entende quando sente. Nesse momento eu estava sentindo uma dessas sensações. A paz que senti ao acordar não tem como explicar. Fazia anos que não dormia bem assim, poderia me acostumar fácil com isso. Soltei um largo sorriso e olhei ao redor. Taehyung não estava mais ali comigo. Provavelmente saiu assim que eu dormi. Tinha muito a agradecer a ele. Em dois dias ele fez por mim o que ninguém fez em anos. Fui tirada de meus pensamentos com uma batida na porta. Não tive tempo de perguntar quem era e a porta já se abriu e o rapaz, que descobri se chamar Veteris, entrou.

O Beijo da Morte | Kim TaehyungWhere stories live. Discover now