Capítulo Unico

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          O dia tinha iniciado tranquilo como qualquer outro, com Baz deitado ao seu lado, a pele das suas costas ligeiramente acinzentada pela falta de luz no quarto, a penumbra tranquila da manhã, e a respiração suave dele. Simon queria tocá-lo, mas não o faria pois sabia que seu namorado - noivo - tinha um sono leve e não queria acorda-lo mais cedo.

          Noivo.

          Foi ao mesmo tempo que se tocou dessa palavra e que se lembrou do que ela significava que a paz silenciosa do quarto foi interrompida pela voz estridente de Lucy acompanhada da voz de sua ex esposa e mãe de sua filha:

          — Papai! Papai! — Lucy gritava do lado de fora. Simon viu Baz se remexer.

          — Simon e Baz, estamos entrando, o que quer que esteja a vista por aí, cubram-se, tenho uma menina de 10 anos comigo e muito animada porque

          — Papai e Tio Baz vão casar hoje! — Lucy interrompeu, abrindo a porta de uma só vez.

          "Papai e Tio Baz vão casar hoje".

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          Depois de acordar de forma nada calma e de serem tratados com café da manhã na cama — cortesia de Lucy e Agatha, incluindo panquecas em forma de coração e um cafonissimo (e que Simon jamais admitiria ter colocado lágrimas em seus olhos) par de "S" e "B" feitos em creme na caligrafia de Agatha por cima delas — o dia tinha corrido.

          Baz tinha sido deixado em casa e posteriormente sequestrado por sua irmã mais velha para uma localização "que não interessa ao outro noivo até a hora do casamento" enquanto Simon foi carregado por Agatha e Lucy para "deveres do noivo".

          Em realidade esses "deveres do noivo" se resumiam a resolver algumas últimas pendências — confirmar o buffet (que aliás, no último segundo Agatha o tinha proibido de entrar mesmo tendo ido com ela até a porta), ir pegar o vestido delas duas na loja.

          Depois disso eles foram pra uma cafeteria que gostavam e Simon comeu alguns scones enquanto sua filha e ex tomavam chocolate quentes, e ficaram jogando conversa fora, e Lucy jogava em seu mais novo celular, sem na verdade nunca tocar no assunto do casamento em si.

          Conversavam sobre besteiras atuais — sobre como Blue, atual namorada de Agatha estava, como estava no hospital, na agência, sobre como Lucy estava indo na escola (ambos fingiram não ver ela fingindo não notar quando ouviu o próprio nome), sobre o trabalho de Baz na escola (ele ainda era coordenador mas recentemente assumiu também as séries superiores do final do fundamental) e muitas outras levezas.

          Depois de um silêncio confortável de alguns poucos minutos Agatha olhou para o relógio em seu pulso e disse : — Bom, hora de ir pro salão senhor noivo.

Ele sentiu a respiração prender no peito. Tentou fingir normalidade:

          — Porque eu tenho que ir pro salão, Agatha? Eu não fui pro salão na nossa vez. — Percebeu sua voz saindo um pouco menos natural do que planejava. Se Agatha tinha notado ou não, era um detalhe desimportante.

          — Sim e por causa disso, você apareceu com olheiras nas nossas fotos. Eu não vou deixar isso acontecer de novo. Eu, você e Lucy, e Baz também eu espero, porque combinei com Mordelia, iremos para um salão e você vai receber o "Dia da Noiva".

          Apesar de ter ficado receoso com a ideia enquanto se dirigiam ao lugar do suposto "Dia de Noiva" agora ele achava simplesmente uma ideia genial. Não tinha notado o quanto estava tenso até colocarem champanhe na sua mão, suas músicas favoritas pra tocar e terem começado a massagear seus ombros com óleos cheirosos - cheirosos, aliás, como o perfume de bergamota que Baz usava, o que ele suspeitava que era um toque especial de suas madrinhas.

Timing Perfeito - O CasamentoOnde histórias criam vida. Descubra agora