Quatorze

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Era estranho está ali, havia sido apenas alguns dias, mas ela sentia como se tivesse sido toda uma vida antes. Ela passou os dedos de leve pela pequena mesa de madeira, por anos ela comeu ali, sozinha, alimentando mentiras e esperanças fugazes, até que em certo momento, ela não pode mais, sequer, ver quem era ou já havia sido.

Aquela pequena casinha de madeira, era para ter sido seu lar, um lugar que a simples menção, teria esquentado o peito. Ali, ela teria amado e sido amada. Ali, ela teria tido desejos estranhos e se tornado mais exaltada, quando os hormônios da gravidez a tomasse. Ali, ela teria tido seu primeiro filho, ela estaria tão cansada e tão feliz. Ali, ela veria seu bebê crescer, as primeiras palavras, os primeiros passos. Ali, ela estava pronta para ter tido todo uma vida, ao lado de quem ela se devotou tão completamente. Nada disso aconteceu, entretanto, aquela casa não era a sua casa, ela não se sentia como um lar, era penas um lugar, este que apenas a fez se sentir estranhamente fria, distante.

Ela andou sem pressa pela habitação, estava evidente nos pequenos detalhes, que alguém havia estado ali depois que ela se foi. O caldo de peixe não havia apodrecido na panela, não havia poeira que se acumularia depois de dias sem faxina, o ar não estava estagnado, e os lençóis do leito, estavam bagunçados. Ela não olhou muito mais, ao invés disso, ela puxou a mochila amarela, agora mais velha e esfarrapada. Quando a miko a abriu e começou um lento processo de dobrar e guardar, ela chorou. Não havia palavras que pudessem expressar exatamente o que se desenrolava nela, as lágrimas foram tudo que restava. Não era tristeza, nem arrependimento ou saudade. Era quase que como uma despedida de um sonho, amargava a boca e ainda sim, trazia risadas nostálgicas com cada bugiganga e lembrança que se punha na mochila, já bastante cheia.

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Ela o esperou sentada na entrada, a mochila abarrotada repousando no chão ao lado. Ele parecia nervoso, ela sabia que ele podia se mover veloz, mas naquele momento, seus passos eram arrastados e os olhos dele, em nenhum momento acharam os dela.

Só agora ela notava, tudo era diferente, mesmo ele. O hanyo já havia sido mais impetuoso, de personalidade difícil, mesmo nos momentos em que se via errado, ele se mostrava irritado e suas desculpas muitas vezes mais o prejudicava que o ajudava, há muito tempo ela perdeu a contagem de quantas crateras em formato de um garoto com orelhas de cachorro, havia criado.

Kagome foi paciente, mesmo quando seu estômago embrulhou e suas emoções se confundiram. Ela esperou que ele parece a sua frente, olhos baixos, mãos em punhos apertados.

- Você voltou.- Foi ele o primeiro a falar.

Ela não disse nada, mas seu peito apertou, ela sentia que quando fosse sua vez, ela não poderia parar, não até que tudo se fosse. Então, ela o permitiu continuar.

- Quando voltei e não a achei... Quando o monje disse o jeito que você sumiu, imediatamente fui buscá-la, mas não havia rastros, não importava o quanto eu buscasse, eu nunca a achava, pensei...- Sua voz quebrou um pouco, ele se sacudiu, como se estivesse espantando algo para longe.- pensei que você tivesse sido pega, devorada ou pior. Você foi imprudente, esse não é seu tempo, há muitos perigos por aí...

Ele se calou quando ela se ergueu em um salto, ele sentiu o poder queimante, oposto ao seu, pinicar sua pele. InuYasha engoliu em seco e deu alguns passos para trás, fazia um tempo que ele não a sentia assim, tão brava, ele havia esquecido como era e imediatamente se sentiu grato por não portar mais o rosário.

A primeira emoção que explodiu nela foi raiva, ela se sentiu furiosa com a ousadia dele. Em algum lugar muito fundo, ela sabia que ele só estava preocupado, porém, um parte bem maior gritava pelo tom dele, o modo com que ele falou, com repreensão, como se fosse ela a errada.

Travessia - ConcluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora