Capítulo 1 - General inverno

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 Eu estava caminhando por um longo corredor de uma mansão gigantesca e completamente isolada, envolta por uma densa mata e um grande e profundo rio com uma forte correnteza, qualquer ajuda que eu pudesse sequer tentar contatar estava a quilômetros e quilômetros de distância, e mesmo que eu conseguisse fugir por minha conta, não sei quanto tempo conseguiria sobreviver se não soubesse para onde ir, me perderia e seria devorado por alguma fera faminta... embora este destino talvez fosse melhor do o que me aguardava ao final deste interminável corredor, cheio de quadros e decorações luxuosas, luzes que banhavam cada parte com uma iluminação amena e homogênea. O silêncio sufocante que dava um nó em minha garganta era violentamente quebrado pelos meus passos ecoando pelo local, junto dos do homem que me guiava, elevando o nível de minha ansiedade cada vez mais, fazendo meu estômago vazio se revirar e minhas pernas tremerem enquanto forçava a caminhada. O mordomo gentilmente me recebeu com um sorriso amigável, sua aparência e postura mostravam um grande zelo de sua parte a cada detalhe, o que era reforçado pelo estado impecável da construção, cada pequena decoração ou móvel perfeitamente lustrado e posicionado. Louis era um homem alto e aparentava meia idade, pele clara e cabelos escuros postos para trás, olhos negros e profundos, e esboçava sempre um ar pacífico e gentil, o que contrastava de um modo absurdo com o motivo de eu ter vindo parar aqui, e para onde ele me guiava. O local, mesmo bem espaçado, me causava um sentimento claustrofóbico e me deixando em um pânico que tentava reprimir dentro de mim para manter minha postura e o que sobrou de minha dignidade, a enorme construção me fazia sentir como se estivesse perdido em alto mar, a mercer do destino. Depois de o que parecia um século caminhando, mesmo tendo passado alguns segundos, nós chegamos a frente de uma grande porta ao lado de uma grande escada que dava acesso ao segundo andar, Louis então acionou um interfone ao lado do batente da porta.

L - Senhor Roth, sua encomenda acaba de chegar.

V - Deixe-o entrar.


Todo meu corpo gelou ao ouvir isso, quando o homem abriu lentamente aquelas portas enormes, minhas pernas quase cederam e minha pele estava toda arrepiada. Fiquei paralisado alguns segundos, até que ouvi Louis fazendo um som, como se limpasse a garganta para chamar minha atenção, e então, em passos desajeitados e trêmulos eu me forcei a entrar no local e encontrar o homem nojento que pagou 500 milhões para ter um pequeno anjo como objeto de diversão.

Flash back on

 Era mais uma noite congelante naquele mês de janeiro, os invernos aqui são muito rigorosos, e matam todas as plantas de nossa fazenda, então trabalhamos o resto do ano para podermos ter o que comer por quase cinco meses de nevasca. Mesmo tomando todos os cuidados, minha mãe, Rayssa Mansfield ficou resfriada, o que rapidamente virou um quadro de pneumonia, e os remédios da casa já haviam acabado. Por sorte, aquela noite, a nevasca estava bem mais fraca, então vesti meu casaco mais quentinho, um azul claro, coloquei meu cachecol cor de pêssego, uma touca combinando com o mesmo, protetores de orelha e luvas brancas e uma bota de neve marrom, a farmácia era cerca de quinze minutos de caminhada calma, mas mesmo sendo pouco, era o suficiente para fazer um belo estrago por conta da temperatura congelante.

B – Certeza que consegue sair nesse frio?

 Meu pai, Boris Mansfield é tão super protetor, sempre me tratando como criança de colo, talvez tenha medo por não poder correr em meu socorro, já que não é mais tão jovem.

S – Claro papai, já tivemos piores.

Beijei sua testa em despedida e sorri para tentar acalmar seu semblante preocupado.

S – Já volto!

 Já são 23:15 da noite, claro que a farmácia não estaria aberta, mas eu ainda nutria a esperança de o dono me atender, não posso voltar para casa sem os remédios e continuar vendo minha mãe sofrer naquela cama.

Já na porta do local, vi que ele realmente já havia fechado, então bati no portão ao lado, que era a casa do dono do estabelecimento, mas não obtive resposta.

Tentei enxergar pelas frestas à procura de algum sinal de luz.

Nada...

É possível que não tenham me ouvido?

Me apoiei no vidro da porta da loja, na esperança de que viessem por este lado, já que a casa é conectada aos fundos do estabelecimento.

Nada...

Não acredito... não posso voltar nem os medicamentos de minha mãe... eu... não posso perder ela...

Quando já estava triste e sem esperança de que me atendessem, vejo uma luz atrás de mim.

A – Parado aí! Quem é? Responda!

Fiquei tão assustado que paralisei, atrás da forte luz tinha algo que se parecia com um homem segurando uma espingarda.

S – N-Não atira por favor!

A – Ah! Sebastian!

O homem soltou um suspiro de alívio.

A luz se abaixou revelando o senhor Andrei, um senhor de idade e dono da farmácia, ele estava sorrindo para mim, parecia mais calmo, e atrás dele, sua esposa, senhora Sônia, que se escondia atrás do portão, saiu de onde estava com um sorriso de alívio em seus lábios.

A – Desculpe Sebastian, eu não queria te assustar. É que ultimamente está tendo muitos crimes pela cidade e eu não queria arriscar.

Apenas dei um sorriso, estava aliviado, por um instante achei que eu fosse morrer de novo.

S – Ta tudo bem, estavam se protegendo, fez a coisa certa.

A – Mais uma vez, desculpe. Mas o que traz o anjinho da cidade aqui a esta hora?

S – A mamãe piorou muito, vim buscar alguns remédios. Eu sei que é muito tarde, mas... será que poderia me vender estes?

O entreguei uma pequena listinha com alguns nomes de medicamentos anotados.

A – Ah sim, acho que os tenho tudo aqui. Venha, entre.

Ele me guiou para dentro estabelecimento pela passagem que havia dentro de sua casa. Passou por algumas prateleiras e selecionou os remédios da lista, os pôs em uma sacola de papel e os entregou a mim.

S – aqui!

Lhe entreguei uma nota de valor médio e recebi algumas moedas de troco.

S – Obrigado! E desculpe o incomodo a essa hora...

A – Não foi incômodo, é sempre bom ver você, deseje melhoras a sua mãe por mim, e diga para virem almoçar aqui quando ela estiver melhor, ok?

S – Sim senhor, obrigado de novo!

Sai dando pulinhos de felicidade, eu consegui! Acho que alguém lá em cima gosta de mim.

A – Cuidado ao voltar para casa ein!

S – pode deixar, vou ter sim! Tenham uma boa noite!

Fiz o caminho de volta para casa super feliz, minha mamãe vai ficar boa agora, eu sei que vai. Vou preparar uma sopa antes de dar os remédios e lhe contar uma história, ela sempre amou saber como é o "céu", ao menos as partes boas dele que... não são muitas... mas é um lugar relativamente legal.

Após alguns poucos minutos caminhando, virei a ultima esquina e já podia ver a porta de casa, me animei muito ao ver a fachada da simples e aconchegante. Peguei impulso para chegar lá o mais rápido possível, mas...

Uma mão segurou meu braço, me fazendo voltar bruscamente para trás, logo depois cobriu minha boca, com algo que parecia um pano com um cheiro muito estranho. Deixei a sacola com os remédios cair e levei a mão até a dele, a puxando, precisava tirar aquilo logo!

Minha visão ficou turva e meu corpo mole, minha pressão caiu rapidamente e eu já não sentia minhas pernas direito...

Mas o que que...

Está...

Acon-

Tes-

-cendo...?

...

Eu desmaiei.

Chegaste ao fim dos capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jun 25, 2020 ⏰

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