水の背景‿mizu no haikei

você vai desaparecer algum dia?

talvez se eu for ao mar possa sentir as ondas baterem contra a minha pele salgada, competindo apenas com a própria água. o sabor ardido queima e invade meus olhos, minha garganta coça e na minha língua tem o resíduo dos largos goles que rasgaram a minha garganta sem a mínima piedade, limpando os gritos entalados agora presos no meu estômago.

cada vez que me afundo, a gélida água misturada com as suas cinzas penetram minha pele, e eu não me surpreenderia se quebrasse meus ossos os transformando apenas em comida para peixes. fétida e ácida, a água corrói.

e eu posso gritar e cantar, dançar e correr, por favor, nunca vou ser capaz de escapar da água. seu fantasma chora lágrimas quentes que queimam minha pele temperada e eu não sei o que fazer para te fazer desaparecer dessa vez. talvez deveria ter pensando duas vezes antes de te jogar lá de cima, não?

mesmo que você já tenha encharcado meu quintal com suas lágrimas quilométricas com recessão, apodrecido minhas sementes e quebrado meus ossos em mil pedaços partidos por todo o mar, me nego abaixar a cabeça dentro d'água e ver meu crânio partir no meu reflexo lunar. dias de lua cheia...não foi num dia assim que você emergiu de lá, fantasminha da lua? não foi num dia assim, que você caminhou nos trilhos aguados da linha de trem?

tu sempre foi sobre sangue diluído em lágrimas do luar, ar fresco e filmes velhos que nem lembro, mesmo tendo assistido noite passada.

sempre foi um mundo temporário, que apenas se eu esperasse, poderia entrar, apenas para sentir meus próprios pilares corroídos pela sua maldita água quando este mundo for destruído.

fantasma rei qual a coroa atravessa a cabeça, antes de evaporar, diga-me o sentido de nadar agora?

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sabe que é inútil sem nem mesmo um corpo.