Capítulo 2

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Se afastando cada vez mais da vizinhança, o garoto começou a se relembrar do tempo em que ainda tinha disposição para andar de bicicleta. Desde que descobrira sua fixação por jogos e revistas em quadrinhos, seu tempo gasto em ficar do lado de fora de casa, fosse pedalando ou simplesmente brincando no jardim, havia se tornado quase inexistente. Agora que estava em movimento, sentindo o vento bater em seu rosto e as casas se afastarem pouco a pouco do seu campo de visão, Ben recordou de como gostava daquilo. A sensação de liberdade a cada metro percorrido e o suor que por vezes escorria pelo rosto quando queria ir mais rápido, tudo isso enquanto perdia a noção do tempo e se esquecia da solidão que de vez em quando se alastrava por dentro de seu íntimo. Podia parecer idiota, mas eram momentos como aquele que o faziam deixar de lado o topor que o inundava por ser tão sozinho, só ele e a mãe.

"Por que parei de fazer isso?", se perguntava enquanto seguia a garota. Observando-a mais de perto, percebeu que a mesma usava um colar que nada mais era do que um barbante segurando um anel simples de prata. Não era muito bonito ou mesmo chamativo, porém prendeu a atenção do garoto de forma que ele não pôde simplesmente deixar para lá.

ㅡ Por que não coloca no dedo?

ㅡ O quê? ㅡ ela perguntou enquanto passava a prestar atenção no menino.

ㅡ Por que usa o anel como se fosse um colar?

ㅡ Ah, isso? ㅡ Ela pegou o dito-cujo com uma das mãos momentaneamente, voltando a segurar o guidão para que não se desequilibrasse. ㅡ Bem, é porque ele não é meu. Quer dizer, não é exatamente meu.

ㅡ Como assim? ㅡ O garoto a encarou confuso.

ㅡ Ganhei ele de presente.

ㅡ Isso não meio que o torna seu? Se foi um presente, a pessoa devia querer que você o usasse.

ㅡ É... Talvez ㅡ disse ela passando a observar a paisagem. ㅡ Mas ainda assim não parece certo.

Pelo tom que a menina falara a última frase, Ben percebeu que talvez ela não quisesse mais tocar no assunto. Respeitando sua vontade, ele focou nos movimentos de subir e descer que os pés faziam para se manter na estrada.

Depois de alguns instantes, a menina voltou a encará-lo de forma risonha, já se esquecendo da última conversa. Ela passou a pedalar mais devagar sua bicicleta roxa, forçando Ben a diminuir a velocidade também.

ㅡ Eu me chamo Violet, caso queira saber ㅡ disse fazendo com que percebesse que nem mesmo se preocupara em descobrir o nome dela. Bem, pelo menos agora sabia.

ㅡ Que ironia ㅡ disse apontando para a bike dela. Ela riu, assentindo. ㅡ Meu nome é Benjamin.

ㅡ Eu sei ㅡ ela sorriu dizendo. ㅡ Ouvi quando sua mãe falou.

ㅡ Estava espiando nossa conversa? ㅡ perguntou com um quê de divertimento na voz.

ㅡ Não foi de propósito! ㅡ ela disse aumentando o tom da voz. Ele riu do jeito dela, fazendo-a rir também. ㅡ Eu só estava por perto e acabei escutando. Vocês não estavam falando particularmente baixo.

ㅡ Eu sei que não ㅡ disse a encarando enquanto a mesma prestava atenção na estrada à frente. ㅡ Pode ficar tranquila.

ㅡ Eu meio que percebi o que acontecia. Estava tentando não deixá-la dar a bike, não é? ㅡ perguntou o fitando com um olhar tímido do rosto.

ㅡ Sim. Aliás, obrigado por ter me chamado para pedalar com você. Acho que foi uma boa forma de impedi-la de continuar com a ideia de doar. ㅡ Resolveu ocultar o fato de que também o havia feito bem andar com ela. Violet não precisava saber disso.

Entre Flores, Cafés e Estrelas (NÃO CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora