"Amigox"

Capítulo - 5

- Fico feliz que esteja fazendo amizades, filho.

- É... sim. – Responde sem vontade.

Era sábado de manhã. Normalmente esse horário Lico está embaixo das cobertas, assistindo os novos episódios de friends. Depois a tarde, lendo suas histórias em quadrinhos favoritas.
Mas não, preferiu brigar com um garoto de sua sala. Agora precisa "pagar a sentença". Preparar uma peça para o maldito show de talento da escola.

- É sério, Lico. – Sua mãe dá uma olhada rápida nele. – Fiquei com medo de não gostar, por ter mudado mais uma vez. Sei que é chato. Mas podemos ver algo nisso, não é?

- Sem dúvidas. – Responde irônico enquanto afunda mais no banco de passageiro. Sua mãe revira os olhos irritada.

Claro que sua mãe não sabe o real motivo. Nunca poderia contar sobre a briga, ou adeus por finais de semanas sem fazer nada. Então só contou metade da verdade.

- Que horas te busco?

- Ligo para senhora, pode ser?

****

Anderson prepara seu sanduiche meio sonolento. Normalmente ficava acordado até tarde nos finais de semana, e dormia o dia todo. Então estava irritado. Tudo por culpa do novato. Anderson e sua mania de ajudar os outros. Se não bastasse Diogo, tinha que aturar Elidio agora. – Revira os olhos indo em direção a mesa. – Se bem que, poderia até dar certo o Elidio no grupo. Assim poderia testar suas ideias novas para o show de talentos.
Se a regra idiota de participação de grupos não existisse. - Apenas pessoas da mesma sala podem participar em grupo. - Karina já estaria faz tempo.

Sua mãe entra na cozinha com o cesto de roupas para lavar e encara o filho surpresa.

- Acordado cedo, filho?

- Já são dez horas, mãe. – Comenta Andy enfiando um pedaço de pão na boca.

- Sei... – Sua mãe o encara de rabo de olho desconfiada. – Dani e Karina vão almoçar aqui. – Anderson concorda com a cabeça.

- E o Elidio. – Bebe mais um pouco do seu café. – Ele vai fazer um trabalho com a gente.

- Mais um para o trio? – Pergunta sua mãe surpresa. Anderson sempre foi o tipo de pessoa com poucos amigos.

- É, vamos ensaiar para o show de talentos. – Morde mais um pedaço do pão pensativo. – Dani teve uma ideia que precisa de três pessoas.

- Hum. – Responde sua mãe ainda desconfiada.

A campainha toca e escutam a irmã caçula de Anderson atendendo.

- O bundão. – Chama Luana colocando a cabeça na fresta da cozinha. – Um tal de Edigio, Edio. – Ela balança a cabeça confusa. – Enfim, alguém está te procurando.

- Edigio? – Pergunta confuso.

- É, um cabeludo com camiseta horrível. – Fala fazendo gestos com a mão.

- É Elidio, idiota. – Resmunga.

- Babaca. – Responde sua irmã mostrando a língua.

- Nanica. – Retribui o gesto.

- Chega os dois! – Repreende sua mãe. – Manda o menino entra, Luana. E você. – Vira para Anderson. – Tire a louça da me e vá encontrar o menino. Tenho muitas coisas para fazer.

***

- O bundão já vem. – A menina de maria Chiquinha sai saltitando, dando espaço para Elidio entrar.

- Ignora minha irmã. – Fala Anderson saindo de um cômodo. – É uma idiota.

- Ok... – Lico fica constrangido. Não tem irmãos, então não sabe como lidar com esse tipo de coisa. – Daniel já chegou?

- Não. Deve estar na casa da Ka, logo ele chega. Vamos para o meu quarto.

- Tá.

O quatro de Anderson era grande e bem decorado. O garoto parecia gostar bastante de rock, já que seu quarto está todo decorado por posters de várias bandas que Lico nem sabe o nome. Possuía uma grande estante com vários livros e revistas. Também possuía uma televisão e um vídeo game. – Era muito organizado, para um garoto de 13 anos. Parece que ele gostava de organização.
Lico ficou admirado pelo quarto. Como se mudava muito, quase não tinha coisas. Já que tinha que ficar se mudando o tempo todo. Só conseguia ter alguns livros que comprava durante as viagens de carro e alguns discos de suas bandas favoritas. – Percebeu num canto uma vitrola antiga. Fazia um tempo que não via uma dessa, já que os cds estão mais populares.
Trás lembranças de sua infância, passava as tardes de domingo escutando Beatles com seu pai na varanda, enquanto jogavam cartas.

Aquela lembrança o acertou de vez no estômago. Ainda estava irritado com seus pais.

- São do meu pai. – Comenta Anderson tirando Elidio do devaneio. – Ele me empresta as vezes. Sou bastante fã.

- Percebi. – Comenta apontando para a camiseta do garoto mais alto. – Ei, hum... – Coça a nuca procurando por palavras. – Queria pedir desculpas por segunda.

- Que isso. – Comenta Anderson dando de ombros. Senta-se na cama apontando um puff, convidando Lico a se sentar. - Está tudo bem, eu te provoquei.

- Não, sério. – Se afunda no puff. – Você estava me ajudando e eu fui um babaca.

- Deixe pra lá. – Anderson da um sorriso amistoso. – Amigos?

- Amigos. – Elidio retribui o sorriso dando um high five. – Amigos. Então Andy, eu...

- Andy? – Corta Anderson confuso.

- Sim. – Responde dando de ombros. – Seu apelido, certo?

- Não. – Anderson estava surpreso. – Ninguém me chama assim. Na verdade não tenho apelido. É Anderson mesmo.

- Bom, agora você tem. – Elidio sorri de novo. – Tipo do Toy Story. O menino dos brinquedos.

- Não. – Andy começa a rir. – É "Endy" e não "Andy".