Capítulo três

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Theo


No dia anterior...

O hotel era simples, mas dentro de uma cidade pequena sem qualquer atrativo turístico, era o melhor que tinham a oferecer. Porém, naquele momento, eu pouco me importava com conforto. Depois de enterrar minha irmã no dia anterior, tudo o que eu queria era ir embora daquele lugar. Tinha combinado com Milena que sairíamos depois do almoço, mas estava pensando seriamente em mudar os planos para sair dali o mais rápido possível.

Eu ainda não havia chorado. Na verdade, eu não lembrava de ter derramado lágrimas desde a morte da minha mãe. Quando o meu pai morreu, eu havia ficado triste, claro, mas não era um décimo do sofrimento pela partida da minha mãe. Meu pai era um homem frio e emocionalmente distante. Eu não o julgava por isso, afinal, eu próprio não era muito diferente. Contudo, isso não queria dizer que eu não sentia pelo que aconteceu à Marcela. Aliás, era o mais completo oposto disso: eu me sentia completamente destruído por dentro. Mas o ódio dentro de mim era tão extremo que parecia sufocar a dor.

Logo que cheguei do enterro no final da tarde do dia anterior, eu fiz alguns telefonemas importantes. Eu havia jurado a mim mesmo que caçaria o filho da puta que matou a minha irmã até no inferno e que o acharia antes da polícia. Já começava a me movimentar para isso.

Ainda não deviam ser nem sete da manhã quando me levantei e decidi tomar um banho. Saía do banheiro quando alguém bateu na porta.

— Theo... está acordado? — ouvi a voz baixinha do outro lado da porta.

Abri, encontrando minha irmã, ainda com os olhos vermelhos e o rosto inchado de quem provavelmente passara a noite em claro chorando. Aquela era outra imagem que me dilacerava e fazia meu ódio aumentar.

Você já está acordada? — devolvi a pergunta, dando espaço para que ela entrasse.

Ela passou direto por mim, indo se sentar na cama, enquanto respondia:

— Eu não consegui dormir.

— Eu também não — rebati, indo me sentar ao lado dela. Estava sem camisa e ainda com uma toalha na mão, que usei para secar um pouco o cabelo que ainda pingava.

— Estava pensando... não tem porque ficarmos aqui até de tarde. Podemos pegar a estrada pra voltar para casa agora pela manhã?

— Eu tinha pensado o mesmo. Se estiver bem para você, podemos só tomar café e ir.

— Perfeito, então... — ela se levantou, mas segurei em seu pulso, impedindo que saísse.

— Não veio até aqui só para falar isso, não é? Seria bem mais o seu estilo só mandar uma mensagem pelo celular.

Ela voltou a se sentar e não precisei insistir para que começasse a falar:

— Eu sinto falta dela. Sabe, a gente não se falava há muito tempo, mas... é diferente agora, que sei que não tenho mais onde encontrá-la. E o pior é que... eu nem sei por que ela se afastou de mim. Era como se estivesse chateada com algo, mas nunca me contou o que era.

Assenti, sem saber o que dizer. Marcela e eu havíamos brigado por uma divergência de opiniões, mas o rompimento dela com Milena tinha sido súbito e injustificado. Ela apenas se afastou, fazendo nossa irmã caçula sofrer por pensar que tinha feito algo errado. E eu tive que lidar com essa porra toda sozinho. Tinha uma irmã adolescente rebelde que ainda sofria pela perda dos pais, e ainda uma irmã mais velha que piorava a situação em vez de ajudar. Foi nessa época que Milena começou a beber, passou a passar noites fora com mais frequência e eu meio que perdi o controle da situação.

As Leis do Amor - DEGUSTAÇÃOWhere stories live. Discover now