A Lista do Corvo

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Os corvos fazem parte demuitos mitos.

Desde o Tibete até a Grécia, as pessoas acreditavam que os corvos eram mensageiros dos deuses. Durante as batalhas, as deusas celtas se transformavam em corvos. Já Odin, o deus da mitologia nórdica, tinha dois corvos – Hugin (pensamento) e Munin (memória) –, que voavam ao redor do mundo durante o dia e, à noite, contavam ao deus tudo o que tinham visto.

Os chineses diziam que os corvos traziam um clima ruim para as florestas para avisar às pessoas de que os deuses passariam por ali. E algumas tribos nativas da América adoravam o corvo como uma deidade, além de o descreverem como um "pregador de peças" que estaria envolvido na criação do mundo.

Elias é um empresário bem sucedido, dono de um patrimônio milionário, apesar de ser uma riqueza suspeita. Neste momento ele está em um escritório luxuoso, amplo e bem mobiliado, na cobertura de um edifício de sua propriedade.

–– Juliana! Venha aqui, por favor! – berra o chefe pelo interfone para a secretária, e enquanto ela entra aflita, pois já sabe do temperamento dele, o homem continua a falar austeramente – quero saber como em uma sala fechada, climatizada, com segurança e tudo mais, veio parar em cima da minha mesa a porra de uma pena preta?

–– Não, não sei chefe! Desculpe-me – gagueja a moça.

–– Quem mais entrou nesta sala hoje?

–– Só o Senhor e mais ninguém. Ontem o Senhor teve uma reunião com nove pessoas, lembra?

–– Sim, claro! Chame o segurança. Já!

–– Sim, Senhor! Deve ser só uma brincadeira de um dos seus sócios.

–– Brincadeira é? Isso aqui virou um poleiro agora?

–– Não quis dizer isso.

–– Saia e faça o que mandei.

Os dois seguranças entram na sala e prostram-se à frente do homem.

–– Há quantos anos vocês trabalham aqui?

–– Há pelo menos dez anos, chefe! – responde um dos homens.

–– Agora, digam-me! Eu tenho cara de quem cria urubus?

–– Claro que não, chefe! – responde o outro segurança sem entender nada.

–– Pois me expliquem como a porra dessa pena preta veio parar justamente em cima da minha mesa.

–– Deixe-me ver. Não é uma pena de urubu. É de corvo.

–– E como você sabe disso, você o viu entrar aqui?

–– Não Senhor! Mas já fui caçador algum tempo, antes de vir para cá. Reconheço uma pena de corvo em qualquer lugar do mundo.

–– Ok! Então investiguem isso e deem-me uma resposta o mais rápido possível. Agora saiam!

Longe dali, garotos de um bairro da periferia jogam futebol numa quadra inacabada. Ao redor, grades comidas pela ferrugem e portões que rangem, denunciam o abandono do lugar pelo poder público.

–– E aí molecada, como vocês estão? – indaga Dick quase gritando próximo à grade de proteção.

Os garotos com fome de bola olham e acenam fazendo gestos de que está tudo bem.

–– Olá Valdick! Tudo bem com você? – pergunta o pai de um dos meninos.

–– Estou bem, quero dizer, mais ou menos. Arranjei um novo emprego. E você, como vai?

–– Bem do jeito que deus quer. Continua treinando artes marciais?

–– Sim. Claro! Estou intensificando mais. Ah, eu trouxe uma bola novinha em folha pra eles!

–– Que beleza! A deles já está toda cheia de remendos. Ei, ei meninos, venham aqui. Olha o que o Dick trouxe para vocês – o homem joga a bola no meio da quadra. A garotada faz a festa e grita: "valeu Dick!". Depois de receber os agradecimentos e alguns abraços, o rapaz cumprimenta o velho amigo e vai embora.

–– Até mais, Rubem. Amanhã a gente se vê.

–– Até mais, Dick.

Na boate de Lennon, sócio de Elias, um motoqueiro anônimo entrega ao porteiro uma caixa pequena embrulhada em papel de presente.

–– O que é isso? – indaga o brutamonte vestido de terno preto, segurança do local.

–– É um presente para o Senhor Lennon.

–– Quem mandou?

–– O nome está dentro da caixa. Entregue a ele.

–– E quem é você?

–– Só um entregador – o homem acelera a moto e some.

A Lista do CorvoWhere stories live. Discover now