VIDA NORMAL?

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Meus pais chegaram e contei tudo o que havia acontecido. Fiz questão de enfatizar o quanto Manu me ajudou. Aliás, ela foi minha heroína! Eu sabia que minha mãe ouvia as fofocas e quando se trata disso, ela consegue ser bem preconceituosa. Eu não sei o que realmente ela pensa de Manu, mas deixei bem claro que aquela sim, era uma amizade que me fazia bem.

Os dias se passaram e parece que tudo voltou ao normal. No início, minha família se revezou nos cuidados. Eles não queriam me deixar só, sendo assim, minha irmã ficava durante o dia, até o horário da faculdade e minha mãe a noite, quando retornava do restaurante. Mas depois de um tempo, eles conseguiram relaxar. Sorte a minha!

Manu passou a me visitar frequentemente e era muito legal. Sempre encontravámos algo pra fazer, seja maratonar séries, jogar videogame ou cantar músicas. Ah, a música! Ela tocava violão divinamente bem e eu me aproveitava muito disso. Nos perdíamos no tempo, cantando juntas e rindo das letras que errávamos. Eu sempre era a atrapalhada que esquecia de tudo e me achando uma compositora melhor, colocava minhas próprias letras na música. O resultado era péssimo, mas até que era engraçado.

Eu me sentia bem. Estava leve e minha família começou a acreditar na minha recuperação. Eu sorria com facilidade e quando Manu chegava, parece que tudo ficava muito melhor. Mas lógico que eles perceberam isso também, pois nós ficávamos grudadas o dia inteiro e eu não queria mais ficar longe dela. Parece que aprendi a viver novamente. Só que a nossa proximidade causava incomodações e só fui perceber isso, quando minha mãe me chamou para conversar.

_ Nat, precisamos conversar sobre uma coisa.
_ fala, mãe...
_ As pessoas já estão comentando sobre você e Manu. Filha, tem certeza que precisa tanto assim dessa amizade? Essa menina tem má reputação. Já ouviu o que falam dela?
_ Pelo amor de Deus, mãe. Se importa mais com o que falam do que comigo? Manu é minha melhor amiga e eu não tenho motivos para deixá-la. Esse povo só gosta de falar, então deixe que falem, ué. Não me importo.
_ Não se importa? E a nossa família? Precisamos de mais escândalos? Filha, dizem que ela é lésbica. E se ela se apaixonar por você? Isso é uma coisa que eu nunca vou permitir e você sabe bem disso...
_ Eu não quero mais escândalos, mas a senhora quer que eu abandone alguém só porque comentam que ela é gay? Ela não é e se fosse, ainda sim não seria um problema pra mim. Eu não sou, mãe e eu lembro muito bem o que a senhora pensa sobre isso.
_ Acho bom que lembre mesmo. Isso é algo proibido e Deus não aprova. Vocês iriam direto para o inferno.
_ É só isso, mãe? Fique tranquila. Somos apenas amigas! Vou para o quarto, estou cansada...

Aquilo parecia tão rude da parte dela. Será mesmo que Deus odeia alguém simplesmente por amar alguém do mesmo sexo? Eu tenho uma base cristã e sempre ouvi que devemos amar uns aos outros, como a nós mesmos. Mas será que os gays não estavam incluídos nessa lista? Me parece dolorosa a vida de quem sofre com os preconceitos. 

Lembrei de Manu e do que ela me disse. Como não ter um namorado poderia ser algo tão anormal? Queria que  as pessoas a entendessem como eu. Querendo ou não, ela convivia com os boatos e eu não gostava de vê-la triste por isso. Eu sabia que ela não era lésbica.

Lésbica. Essa palavra ficou na minha cabeça. Acho que todo mundo tem algum momento na vida em que se sente confuso em relação a sua sexualidade. Comigo não foi diferente. Na verdade, eu sempre tive curiosidade quanto a isso. Me causava desejos, mas eu nunca me permiti a coragem de ficar com alguma garota. Foi difícil, porque eu sou muito curiosa mesmo, mas deixei pra lá. Deve ser normal. Será que todo mundo se sente assim também? Enfim...

_ HEllo, girl power. O que está fazendo?
_ Entediada. Alguma sugestão, senhorita Manoela cheia dos afazeres.
_ Haha até parece... Se existe alguém com uma mais tediosa do que a minha, desconheço. Nem sei se existem outros lugares além da sua casa e da minha. É verdade ou só utopia?
_ Que desperdício. Ela sabe pilotar e não pega a estrada. Deus, como a vida pode ser tão injusta assim?
_ Isso é uma ideia? Passo aí que horas?
_ Haha seus pais não estão implicando comigo não, hein?
_ Com certeza, baby. Mas não me importo. Vamo de cinema amanhã?
_ Beleza! Mas sem Pizza Crek, POR FAVOR!
_ combinado. Até amanhã!

As vezes era até difícil acreditar que tudo estava indo tão bem. Com Manu, tudo era agradável e quando estávamos juntas, era como se todos os planetas estivessem em seu perfeito alinhamento, de conluio com universo, para transformar toda a nossa atmosfera em um lugar feliz. Era bom viver. E eu sabia que não precisava de muito, tinha uma família que me amava e uma melhor amiga que fazia de tudo pra me ver bem. E eu precisava dela.

Mas ainda tinha muita coisa pra acontecer, eu só não imaginava...



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PUTZ! Me Apaixonei Por Uma GarotaOù les histoires vivent. Découvrez maintenant