vazio

431 48 15
                                    

e, rafael,
de todos esses sentimentos, o mais profundo e caótico foi o vazio. 

o vazio. eu acreditava fielmente que isso não poderia ser considerado um sentimento real, mas agora que sinto, sei que sim. eu senti o vazio. lá, no nosso aniversário de namoro. dois anos, vinte e sete de dezembro de dois mil e vinte. estava tudo lindo, eu realmente me empenhei. queria tudo perfeito para o nosso dia especial, mas faltava algo. e você logo saberá o que é.

se voltarmos em dois mil e dezoito, nesse mesmo dia, posso listar tudo que senti. ódio, amor, medo e muitas outras coisas inexplicáveis. a paixão me queimava por dentro e a felicidade só fluía o tempo todo.

mas em dezembro desse ano, no nosso dia mágico, eu senti nada. o toque do seu beijo não arrepiava mais, nem criava borboletas no meu estômago. o pensamento de declarar-me para ti apaixonadamente era cansativo. não existia mais amor? você se sentiu do mesmo jeito?

eram muitas perguntas confusas e eu não conseguia sustentar uma noite inteira de sentimentos que meu sistema não era capaz de reproduzir. acabou, rafael. por isso, corri. corri muito, até que o oxigênio me faltasse. desci em um segundo as escadas do seu prédio, larguei meus saltos no meio do caminho e corri.

parei no fim da sua rua. em frente ao seu restaurante favorito, foi quando chorei. 

chorei desgovernado, não recordo-me por quanto tempo. a lembrança daquele dia me fez chorar. nesse mesmo restaurante, março de dois mil e dezenove. 

sentados à mesa de vidro com nossos pratos favoritos, você olhou em meus olhos e pronunciou: olívia, eu casaria com você agora. mas esse pedido quero que seja inesquecível. 

e depois riu tímido ainda segurando minha mão. meu coração estava a mil e eu, casaria com você ali mesmo. aquele momento já era inesquecível o suficiente. eu nunca vou esquecer, acredite.

os dias passaram, talvez eu até possa dizer que me acostumei com a ideia de não dormir com você todos os dias. mas seria uma enorme e descarada mentira, espero que saiba. não teve uma noite sequer que eu não pensei em você e em tudo que há de mais bonito no nosso conto de fadas. tentei jogar fora aquelas malditas polaroides que você teimava em tirar, dizia ser uma incrível memória de um incrível dia comigo, mas na metade do comigo eu as coloco de volta na parede. eu amo a felicidade que elas transmitem.

o que vivemos foi lindo em maneiras imagináveis, você sabe que eu agradeço por cada pedacinho de história. 

espero que entenda.

espero que entenda que eu entendi, não sei viver sem você. rafael, você é o grande amor da minha vida, mas a vida é feita de amores e eu tô doida pra descobrir o que vem depois. talvez nos encontremos de novo, talvez viveremos outro grande amor, talvez. mas será hoje?

e outra coisa, talvez não seja importante
mas você foi enganado.


carta abertaWhere stories live. Discover now