vales de netuno

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i.

diáfanos e idílicos, portadores de nada além da própria substancialidade.
absorvidos pelo torpor, contudo guardando algum desejo perdido na misteriosa natureza de um buraco negro ─ que não engole somente a luz, mas a composição anterior da própria existência;
e em tudo que não se conhece sobre si, encontra-se sua infinidade.

restringem-se, então, ao estado de vaguear.
perdura a busca infindável por fissuras, quaisquer juras abstratas de escapar;
não somente dos vales de um planeta desprovido de vitalidade, mas do próprio desconhecido.
algo queima, protestando contra o descaso sofrido,
suplicando por uma única gota de vida.

consome tudo o que existe, tornando cinzas o íntimo de impressões insanas.
o vazio conserva-se, no entanto, singelo.
e no findar de vinte e quatro horas terrestres ou cento e dezesseis dias e dezoito horas venusianas,
a única promessa firmada é a do anelo
─ grande anseio por um universo sequer descoberto.

ii.

desvanecidos, monótonos, exânimes;
partes do caráter contingente da realidade,
tomando seu caminho por nuvens de gás e poeira, espíritos vagando constantes
até que em algum aglomerado de estrelas, planetas e asteroides,
encontrem sua individualidade.

láctea e fluída, uma via singular destaca-se à frente,
revelando o sublime sistema venerador do grandioso astro incandescente,
oferecedor da fonte de energia necessária à vida.
vida! o desejo tão bem entrelaçado com a cerne, há tanto latente e que agora desperta.
não apenas existir, mas viver;
intensa e profundamente, com todo o esplendor do seu ser.

iii.

singularidades em suas respectivas órbitas, um conjunto inefável e encantador.
ainda assim, sujeitas estão as psiques a um único campo que foi capaz de as atrair,
tal qual tritão é igualmente induzido pelo poder do gigante azul, seu imperador;
independente do quanto a aproximação possa o destruir.

chuvas de diamantes, lágrimas cristalizadas;
espelho de suas almas.
índigo, denso, um componente não identificado.
impotentes diante da dimensão da grande mancha escura, arrastadas são ao seu imprevisível destino.
por fim, tendo nos vales rochosos a permanência intrincado.

foi-se, então, o ardor por uma incógnita,
devastadora como as tempestades netunianas, dissipadas após 1.200 quilômetros por hora.
jovens e instáveis anéis, envolvem-nos como se ao próprio reflexo
─ curta duração, mas ébrios de conhecerem a infinitude do universo;
e nessa efêmera existência, ao menos em sete galáxias terem imerso.

uma, apenas, corresponde à solução.
lar do núcleo rochoso netunino, em toda a sua gélida constituição;
tamanha a calidez de tais âmagos, é o único capaz de os resfriar.
e enfim descansam em seu abraço cristalino,
descobrindo a origem de sua essência na crosta gelada,
há algum ano-luz de fragmentar.

tempestades netunianas.Onde histórias criam vida. Descubra agora